quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Que tal uma disputa no Aterro?



Os amáveis e fiéis leitores que me acompanham aqui neste blog alvinegro já devem ter percebido que procuro ser o mais isento possível quando se trata de falar dos adversários do meu amado Botafogo de Futebol e Regatas. Agora, por exemplo, depois que abatemos com um só tiro certeiro o vetusto e elegante tricolor das Laranjeiras, estou preocupadíssimo com o local onde Flamengo e Fluminense irão disputar o terceiro lugar da Taça Guanabara. Álvaro Chaves e Gávea, como óbvios ululantes, não poderão ser utilizados pois são estádios a um passo da ruína.

Onde então deverão medir forças?

No Engenhão sem chance porque o Botafogo não cederá sua praça de esportes para os hunos rubro-negros. E em São Januário é impossível. Formou-se entre Vasco e Fluminense uma cerrada batalha nos tribunais e o estádio vascaíno, inaugurado em 1927, está fora de questão. Cá comigo pensei numa solução que poderia satisfazer tricolores e rubro-negros: uma disputa no Aterro do Flamengo. Que tal? O Aterro do Flamengo tem vários campinhos de futebol que podem e devem ser prestigiados, certo?

Outra solução – para satisfação daqueles que moram mais distantes – seria a Praia de Ramos. Mas devo confessar que da Praia de Ramos só ouvi falar do Piscinão. Não sei se há quadras disponíveis para um desafio tão importante para os destinos do futebol do Rio de Janeiro. Mas acredito que os dirigentes dos dois clubes – tão tradicionais e donos de gigantescas torcidas – haverão de encontrar um local para esse tremendo desafio: quem será o terceiro colocado na Taça Guanabara de 2009? Morro de ansiedade.

De volta a Botafogo x Fluminense, agora falando sério, fiquei deveras (bonita palavra, não?) impressionado com as vaias que Diguinho recebeu no Maracanã. Por parte da torcida alvinegra ainda compreendo. Diguinho não era rigorosamente ninguém até vestir a gloriosa e cumprir até mesmo boas e corajosas atuações. Mas Diguinho preferiu ignorar o prestígio que alcançou em General Severiano. Mas ser vaiado pela massa tricolor? Por quê? Como diria Nélson Rodrigues (1912-1980), um dos meus autores preferidos, Diguinho atarraxou a máscara da superioridade e acabou tremendo na base.

Não é de o meu feitio derramar lágrimas por jogadores de futebol. Mas admito que fiquei irritado com a debandada geral de vários deles, aí incluindo Túlio, Jorge Henrique e Lúcio Flávio, além de outros, como os zagueiros centrais, que nem merecem ser citados. E, como diz o ditado, o castigo vem a cavalo. Diguinho trabalhou como X9 para os tricolores e foi devidamente coroado por apupos violentos. Talvez, agora, ele sinta um pouco a falta do Botafogo, do ambiente do Botafogo, da torcida do Botafogo e da credibilidade que ele, quase um ‘joão-ninguém’, conseguiu em Venceslau Brás. Coisas da vida, Diguinho. Da próxima vez, pense um pouco antes de se oferecer para trabalhar como X9 para o tricolor.

Agora vamos encarar o Resende. Ainda desfalcados. Mas vamos que vamos porque o Botafogo, desde que Beltrami não apite, é praticamente invencível em decisões. Vamos nessa, Glorioso...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Um time que sabia o que fazer


Minha máquina do tempo é infalível. E é a bordo dela que desembarco no Maracanã (145 mil pagantes), na tarde de 15 de dezembro de 1962, para assistir à final do Campeonato Carioca daquele ano entre Botafogo e Flamengo. Para os mais jovens, que não têm a obrigação de conhecer todos os jogadores do Glorioso – que precisava da vitória pois estava um ponto atrás do clube da beira da Lagoa – vamos à tradicional identificação, explicando, entretanto, que o Botafogo, nessa tarde, tinha três desfalques.

Então vamos lá: da esquerda para a direita, de pé, Paulistinha (no lugar do titular Joel Martins), Manguinha, Jadir (no lugar de Zé Maria), Nílton dos Santos, Aírton Povil e Rildo da Costa Menezes; agachados, na mesma ordem, Manoel (Garrincha) dos Santos, Edson (Praça Mauá) de Assis Pinto (nos lugares de Didi ou Arlindo), Valdir (Quarentinha) Cardoso Lebrego, Amarildo Tavares da Silveira e Mário Jorge Lobo Zagallo.

Apenas para começar nosso aquecimento, diria que esse era um time que sabia o que fazer para matar a pau seus adversários – principalmente o Flamengo.

Como jogava essa equipe, mesmo desfalcada de jogadores como Joel Martins (lateral direito), Zé Maria e Didi ou Arlindo? Em campo, o técnico Marinho Rodrigues, que não inventava e que anos atrás fora um dos campeões de 1948, escalava Manguinha, Paulistinha, Jadir, Nílton dos Santos e Rildo (um verdadeiro carrapato); Aírton, Édson e Zagallo; Garrincha, Quarentinha e Amarildo.

Em minha opinião, faço questão de dizer, nesse dia 15 de dezembro de 1962, Garrincha fez sua última exibição extraordinária, marcando dois gols e provocando o terceiro dos 3 a 0.

A estratégia de jogo era simples e foi aplicada inúmeras vezes. O Botafogo começava a atacar pela esquerda, trocando bolas entre Zagallo, Nílton Santos e Amarildo quando, de repente, invertia o jogo para o pivô Aírton. Este, sempre de meias arriadas, invertia o ataque para a direita, pegando Garrincha com um único e escasso marcador, no caso Jordan, ou Gérson Nunes.

Aí, amigos, era o caos completo e absoluto. Mané engolia os dois, fez um gol logo de saída, obrigou Vanderlei a meter o nariz na bola e fazer o segundo e fechou o caixão rubro-negro no segundo tempo.

A jogada do terceiro gol foi fascinante. Como sempre atacando pela esquerda, Zagallo tocou para Amarildo (que estava atuando sem condições físicas, com início de distensão) e recebeu de volta.

Fugindo às suas características, Zagallo foi até a linha de fundo e cruzou alto sobre a área, na altura da marca do pênalti. Foi aí que Quarentinha aplicou uma tesoura voadora avassaladora, fazendo a bola estourar no peito do goleiro Fernando. E aí, Garrincha, livre, quase em cima da linha do gol, só fez empurrar a bola para as redes. Botafogo bicampeão carioca de futebol.

E para os aficcionados, aí vão detalhes da partida: Botafogo – Manga, Paulistinha (já falecido), Jadir, Nílton Santos e Rildo; Aírton, Édson e Zagallo; Garrincha, Quarentinha e Amarildo; Flamengo – Fernando, Joubert, Vanderlei, Décio Crespo e Jordan; Carlinhos, Nelsinho e Gérson; Espanhol, Dida e Henrique. Juiz: Armandinho Marques, que expulsou de campo, no finalzinho, Paulistinha e Dida.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Um time meio mequetrefe


Em primeiríssimo lugar, devo desculpas a meus leitores pela rápida porém sentida ausência de meu blog. Mas confesso que aquele empate com o Flamengo, aos 48 minutos, ainda está atravessado em minha garganta. Não consigo entender como um time que está vencendo uma partida, não toque a bola e esfrie o adversário. Resultado: uma vez mais, a torcida do tão odiado Simpaticíssimo saiu do Maracanã dando pulos de alegria, enquanto a nossa teve que suportar gozações as mais torpes, bem ao estilo deles.

Mas deixa para lá. Prefiro contar a história do Glorioso como ela deve ser contada, entro na minha já conhecida máquina do tempo e desembarco em General Severiano, precisamente em 1955, em jogo do Campeonato Carioca. Duvido que meus jovens leitores identifiquem as figuras posadas antes da partida.

Mas vamos lá: de pé, da esquerda para a direita, Antônio Corrêa Thomé, Nílton dos Santos, Orlando Maia, Juvenal Francisco Dias, Robert (Bob) James Neil e Lugano (goleiro de los hermanitos).

Agachados, na mesma ordem, Manoel dos Santos (o Francisco é invenção daqueles que não têm o que fazer), Gato, Paulo Omena, Casnock e João Carlos (ex-ídolo do querido Ameriquinha).

Por que esse arremedo de equipe? É fácil.

O Botafogo, com os cofres vazios (para variar), cometeu o verdadeiro suicídio futebolístico ao vender para o futebol italiano de uma só tacada, seus dois maiores artilheiros: Dino da Costa (Roma) e Luiz Vinícius de Menezes (Nápoles). O resultado, imediato, é que o querido Glorioso não participou do terceiro turno do Carioca, conquistado por “eles”. É mole?

Como jogava esse arremedo de equipe com dois craques inexcedíveis, Nílton dos Santos e Manoel dos Santos? É fácil (pelo menos para este escriba alvinegro da cabeça aos sapatos): Lugano (que morreu tuberculoso ainda no Rio), Orlando Maia, Thomé e Nílton Santos; Bob, Juvenal e Paulo Omena; Garrincha, Gato, Casnock e João Carlos. Quando a coisa ficava preta, João Carlos recuava e o alvinegro jogava num 4-4-2 rígido.

É óbvio de que João Jobim Alves Saldanha (1917-1990) ficou fulo da vida com esse Botafogo meio de araque. E em 1956 simplesmente comprou Didi ao Fluminense por um milhão e meio de cruzeiros (não me perguntem o que essa quantia seria hoje porque não sou economista). E mais: Nílton dos Santos (gosto sempre de escrever o nome completo dele) tentou que Adhemar Bebiano comprasse o passe de Zizinho, que estava dando sopa. Bebiano, bem ao estilo alvinegro, só lhe deu uma resposta:

- Zizinho jamais vestirá a camisa do Botafogo. Ele tentou chutar o Biriba aqui em General Severiano num Botafogo x Flamengo...

Menos mal porque em 1956, na primeira temporada de Didi no alvinegro do meu coração, o Botafogo simplesmente colocou uma pedra de cal na aspiração rubro-negra de chegar ao tetra.

Ganhamos de 5 a 0 no turno (com 10 jogadores no segundo tempo porque Thomé quebrara o braço) e fechamos o caixão deles no returno, vencendo por 1 a 0, gol do paraguaio Cañete.
Esse resultado deu ao Vasco o título de campeão carioca por antecipação.
O Flamengo?
Ah, o Flamengo desatou num chororô de dar pena. Não para mim, mas para meu pai, Nélson Porto (1909-1994), sujeito democrata que viu três de seus quatro filhos homens vestirem a gloriosa camisa alvinegra.

Valeu, pai. Valeu pelo espírito democrático que nos ensinou e que não sigo com meu filho e meus netos. Veja se me entende....


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Heleno e o escudo mais bonito



Estou em débito com os leitores de meu blog. Primeiro, com José Rosa, de Brasília, que me enviou a foto de hoje, com Pedro Amorim e Heleno de Freitas (1920-1959) em Álvaro Chaves, em 1947. E, segundo, porque passei voando sobre a séria pesquisa do site Esporte Fino, que elegeu o escudo do Botafogo de Futebol e Regatas, entre 49 outros, como o mais bonito do mundo do futebol. Mas, como diria o esquartejador, vamos por partes.

A foto no campo do Fluminense é de antes da partida na qual o Glorioso venceu por 2 a 1 – eu lá estava com meu pai, Nélson Porto (1909-1994) – e Heleno, após a partida, carregado em triunfo, além de fingir que colocava pó-de-arroz no rosto, fez, digamos assim, um gesto para lá de obsceno em direção à tribuna de honra do clube tricolor. Quase provoca um sururu...Os gols foram marcador por Teixeirinha, de cabeça, e Geninho.

Mas o problema não está nessa partida, da qual já contei a história. O problema é o indiscutível mal-estar que sempre vigorou enquanto Heleno de Freitas e Nílton Santos dividiram o espaço de General Severiano. O problema, segundo relato de Nílton Santos a mim, a bordo de um avião, é que no primeiro treino, Nílton, entre os reservas, deu seu famoso drible de corpo em Heleno, que ainda treinava entre os titulares, no início de 1948.

Heleno, com seu temperamento irascível, xingou Nílton, que revidou, insinuando que Heleno não era homem na acepção da palavra. Daí em diante não houve mais clima entre os dois. Por sorte do clube, Heleno foi negociado com o Boca Juniors (por Cr$ 400 mil) e os dois só se encontraram, por acaso, no Campeonato Carioca de 1949, quando Heleno jogava no Vasco e conquistou seu único título no futebol do Rio.

Daí em diante, mesmo com Heleno fora do futebol, pedindo dinheiro emprestado a todos os conhecidos, Nílton não o perdoou. E certa vez, com a delegação do Botafogo hospedada no Hotel Plaza, na Avenida Princesa Isabel, no Rio, Heleno apareceu por lá. Conversa daqui, conversa dali, tomou Cr$ 20 de Braguinha (campeão de 48). Nílton repreendeu severamente o companheiro, dizendo que Heleno iria comprar éter.

Fora do futebol, Heleno de Freitas só respeitava – até de maneira inusitada – o comandante Eduardo Henrique Martins de Oliveira (1915-1950), o mais do que famoso Edu da Panair, torcedor do Botafogo, integrante e quase chefe do Clube dos Cafajestes, e que morreu pilotando seu Constellation num pouso desastrado em meio à chuva, em Porto Alegre.

Esclarecida a inimizade entre Nílton e Heleno, passemos ao escudo da estrela solitária, eleito o mais bonito do mundo pelo site Esporte Fino. È preciso dizer, antes de mais nada, que em meu livro sobre o Botafogo, entreguei a meu sobrinho e designer Bruno Porto (hoje dando aulas em Xangai, na China) a responsabilidade de analisar o símbolo alvinegro. E Bruno foi enfático: é o mais bonito e perfeito. A eleição do site só confirmou a opinião de Bruno, antigo professor da UniverCidade.

Mas é preciso fazer justiça ao cidadão que bolou o escudo. Trata-se do antigo conselheiro do Botafogo, Adherbal de Souza Bastos, que fez a coisa mais simples: retirou a estrela solitária do uniforme do Club de Regatas Botafogo e a colocou nos lugar das letras entrelaçadas do Botafogo Football Club. Quando? A oito de dezembro de 1942, quando surgiu o Botafogo de Futebol e Regatas. Para os mais aficcionados alvinegros, revelo outra data: a primeira vez que o novo escudo foi visto no uniforme dos jogadores foi a 19 de janeiro de 1943, num simples treino coletivo em General Severiano.

Um último detalhe: a estrela solitária não é estrela. É o planeta Vênus, que os remadores, madrugadores, vislumbravam quando iam treinar. Por hoje chega. Ou não chega?



Botafogo x Flamengo
(*) Para que vocês não digam que não falei de flores, anotem aí em seus caderninhos: Botafogo e Flamengo fizeram até hoje 322 jogos, com 103 vitórias para nós, 115 para eles (12 de vantagem) e 104 empates. Marcamos 477 gols e sofremos 502. Vamos ver agora.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Detalhes de uma discussão


Aí está, uma vez mais, o time do Botafogo campeão de 1957. Esta espécie de pôster foi vendida nas bancas, assim que o Glorioso conquistou o título carioca, goleando o Fluminense por 6 a 2. Talvez os leitores deste meu blog desconheçam a razão da publicação desta foto. Mas há alguns motivos específicos. Primeiro, o Botafogo está com o mando de campo nas Laranjeiras; segundo, Paulo Valentim ainda aceitava a camisa número nove e, por último, por erro crasso, é Servílio e não Servilho como está grafado.

O time está posado assim: de pé, da esquerda para a direita, com Amauri, Thomé, Servílio, Nílton dos Santos, Pampolini e Beto; e agachados, na mesma ordem, Garrincha, Didi, Paulo Valentim, Édson Praça Mauá e Quarentinha – o artilheiro que não sorria e virou livro recentemente. Mas há outras peculiaridades. Naquele campeonato, o Botafogo teve quatro mandos de campo empurrados para as Laranjeiras (eu ia a pé para o estádio) e Amauri está presente. A partir da primeira rodada do segundo turno, Adalberto tomou-lhe o lugar de goleiro titular e foi assim até o final.

Outro detalhe – que não foi percebido por um de meus leitores – é que João Saldanha (1917-1990) mantinha três jogadores no meio-campo, Pampolini, Didi e Édson, apelidado de Praça Mauá, de acordo com o que me contou o reserva de Garrincha, Neivaldo (1933-2006), um bom amigo que tive. Pois bem: na final diante do Fluminense, João Saldanha simplesmente colocou quatro homens à frente dos zagueiros: Pampolini, Didi, Édson e Quarentinha.

Por quê?

Porque João, matreiro e conhecedor da força tricolor, escalou Quarentinha em campo com a única missão de ficar em cima de Telê Santana (1931-2006), por saber que Telê era o ponto chave do time.

Como fui ao jogo, a 22 de dezembro de 1957, me surpreendi, no intervalo do primeiro para o segundo tempo, com a bronca que Thomé deu em Quarentinha na entrada do túnel. Afinal de contas o Botafogo já vencia por 3 a 0 (gols de Paulo Valentim, já com a camisa oito) e não era motivo para aquela raiva toda. Só depois fiquei sabendo que Thomé estava cobrando de Quarentinha a tal marcação em cima de Telê, conforme instruções de João Saldanha. Na etapa final, Paulinho fez mais dois e Garrincha, um.

Agora chego ao ponto que queria: por que, na Seleção Brasileira, dois anos depois, João, de cuja inteligência ninguém duvidava, escalou o Brasil, nas eliminatórias, num 4-2-4 rígido, com Carlos Alberto, Joel, Piazza e Rildo e, mais à frente, apenas Clodoaldo e Gérson, deixando Jair, Tostão, Pelé e Edu na frente? Honestamente não sei explicar.

Acrescente-se a esse detalhe o fato de João, armado, ter invadido a concentração do Flamengo, para tirar satisfações com Yustrich e a entrevista que deu para a televisão dizendo que Pelé era meio cego, que precisava jogar de óculos (ou lentes). Pronto: estava aberto o caminho para uma intervenção de João Havelange, escolhendo Zagallo, além de satisfazer os militares que estavam no poder e lá ficariam ainda por muitos e muitos anos.

No último blog, com a inusitada bandeira do Bonsucesso tremulando ao fundo (à esquerda está a do Botafogo) esqueci de dizer como foi a partida no Estádio Nacional de Santiago, contra o Chile, na primeira exibição do Brasil após o tri. Vencemos por 5 a 1, gols de Pelé, Roberto Miranda, Jairzinho (2) e Paulo César Lima.

O time?

Era quase o Botafogo, com Félix, Carlos Alberto, Brito, Joel e Everaldo; Clodoaldo, Nei Conceição e Paulo César Lima; Jairzinho, Roberto e Pelé (Rogério). Técnico Zagalo, preparador físico Admildo Chirol, médico Lídio Toledo – em resumo, quase o Glorioso.

O que mais é preciso dizer?

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

E a bandeira do Bonsucesso?


Aí está uma foto bastante curiosa. É da Seleção Brasileira, dirigida por João Saldanha, que derrotou o Paraguai por 1 a 0 (gol de Pelé), no Maracanã, quebrando o recorde de público no estádio (183 mil 341 pagantes) e conquistando uma vaga para a Copa do Mundo de 1970, no México.

Mas o que é estranho? Atrás dos jogadores tremulam duas bandeiras: uma já esperada, a do Botafogo, que àquela altura tinha dois jogadores na equipe (Jairzinho e Gérson); e a outra? Nada mais nada menos que a do Bonsucesso Futebol Clube, que anda esquecido pelos torcedores.

O time aí formado é este: de pé, da esquerda para a direita, Carlos Alberto Torres, Félix Venerando Mieli, Djalma Dias, Joel Camargo, Piazza e Rildo da Costa Menezes; agachados, na mesma ordem, Jair Ventura Filho, Gérson Nunes, Tostão, Pelé e Edu. Em poucas e resumidas palavras, esta escalação no 4-2-4, em minha opinião, derrubou João Saldanha. Com quatro atacantes fixos não havia jeito de se chegar a lugar algum no Mundial. Daí a chegada de Zagallo e, com ele, o ponta recuado, Rivellino ou Paulo César.

Pessoalmente, pelo trato que tinha com João Saldanha (1917-1990) e Sandro Moreyra (1919-1987), meus porta-vozes do Botafogo, custei a acreditar que João escalasse uma equipe no 4-2-4.

Por que, os leitores deste blog podem perguntar? Porque já em 1957, quando enfrentou e goleou o Fluminense (6 a 2), na final do Campeonato Carioca, João escalou um Botafogo super-cuidadoso, com Pampolini, Didi, Édson e Quarentinha no meio-campo, deixando apenas Garrincha (1933-1983) e Paulo Catimba Valentim (1932-1984) no ataque. Eu estava lá e fui testemunha ocular.

Pouco depois da conquista do tricampeonato mundial no México, viajei pelo Correio da Manhã até Santiago, a fim de cobrir o primeiro amistoso dos campeões, contra o Chile, no Estádio Nacional. E, por puro acaso, O presidente da CBD, João Havelange, o vice Abílio de Almeida e eu e mais o fotógrafo da Manchete Jáder Neves, ficamos retidos no Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires.

Havelange, com a autoridade que tinha, nos colocou a todos numa conexão da Swissair e podemos chegar a salvo em Pudahuel, o aeroporto chileno. Mas a conversa que tivemos em Ezeiza foi esclarecedora. Até porque foi à vontade, entre quatro brasileiros.

No bate-papo informal, à espera da conexão, Havelange tocou no ponto que eu queria, ou seja, no inacreditável esquema retrógrado que João havia traçado para a Seleção Brasileira. Deixei que a conversa fluísse, porque queria saber se teria havido algum dedo militar no afastamento de João (comunista tradicional) e percebi que não ocorrera.

Talvez, se eu tivesse apertado Havelange, falando em militares, ele poderia dizer a mesma coisa, ou seja, o esquema furado de João. Mas nem precisei. Ele mesmo botou a boca no trombone e disse que no 4-2-4 o Brasil não iria a lugar algum.Faz tento tempo que me sinto tirando coisas do baú. Mas quem é que me explica a presença fantástica da bandeira do Bonsucesso em campo?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Fevereiro, mês de Heleno de Freitas



Hoje, tantos anos passados, verifico que meu pai, Nélson Porto (1909-1994), foi realmente um sujeito extremamente democrata. Torcedor apaixonado pelo Flamengo, permitiu, sem uma única e escassa palavra de desaprovação, que três dos seus quatro filhos homens torcessem pelo glorioso Botafogo de Futebol e Regatas. Por quê? Simplesmente porque meu tio Júlio Lopes Fernandes (1898-1983), casado com a irmã de minha mãe, arrebatou os sobrinhos para as atraentes camisas alvinegras. Valeu, tio...

Pelo fato de meu pai ser sócio do Fluminense e Botafogo, pude assistir, ainda menino de calças curtas, a duas partidas disputadas por Heleno, em 1947. O craque nasceu a 12 de fevereiro de 1920 – há 89 anos portanto. A primeira contra o Fluminense, em Álvaro Chaves, que o Botafogo venceu por 2 a l, gols de Geninho e Teixeirinha. A segunda, em General Severiano, diante do América, quando o Botafogo ganhou por 3 a 2, gols de Heleno.

Sobre o jogo em Laranjeiras – bairro onde morava minha família – tenho poucas recordações, a não ser o gol de Teixeirinha, de cabeça, diante do goleiro Robertinho. Foi depois dessa vitória que Heleno provocou a torcida tricolor, quase originando uma briga generalizada. Por fim, contra o América, tenho na lembrança o último gol de Heleno, de cabeça, na baliza à esquerda das sociais. E me surpreendi com os jogadores alvinegros, após o apito final, carregarem Heleno em triunfo em razão de seus três gols.

Depois, o Botafogo vendeu seu passe ao Boca Juniors, de Buenos Aires, no início de 1948, e só voltei a ouvir falar de Heleno quando ele atuou pelo Vasco da Gama, campeão invicto de 1949. Por fim, já na era da televisão, pude assistir à sua única apresentação pelo América, em 1951, contra o São Cristóvão, já no Maracanã. Com os nervos abalados, Heleno de Freitas foi expulso de campo ainda no primeiro tempo. Sua carreira no Brasil terminou.

A foto que ilustra o blog de hoje me foi cedida por um leitor, é da época do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais e mostra o ataque carioca com Djalma, Zizinho, Heleno, Ademir e Nívio. Djalma, que jogou no Vasco antes de tomar o caminho do Bangu, morreu de maneira trágica num carnaval. Esqueceu a chave de casa e tentou pular da área de serviço do prédio para o interior do seu apartamento. Errou o salto e caiu.

Curiosamente, Nílton Santos, tornou-se inimigo de Heleno desde os primeiros treinos em General Severiano. Nílton jogava pelos reservas e deu seu famoso drible de corpo sobre Heleno, que ainda pertencia ao clube alvinegro. Daí em diante, não mais se falaram. Heleno xingou Nílton, recebeu na mesma moeda e a rivalidade só não prosseguiu porque Heleno viajou para a Argentina. Aliás, pelo que conversei com antigos jogadores do Botafogo, Heleno só respeitava Geninho, por ser uma espécie de dono do time, e Osvaldo Baliza, pelo tamanho e porte do goleiro.

Heleno morreu em 1959, há 50 anos, quando ainda não completara 40 anos. Mas, sem dúvida, deixou sua passagem marcada pelo Botafogo, sua grande paixão. E eu não poderia deixar fevereiro passar sem nele falar.

Até porque, também, fevereiro é o meu mês de aniversário.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O botafoguense, por Nélson Rodrigues



Todos os torcedores de futebol se parecem entre si como soldadinhos de chumbo. Têm o mesmo comportamento e xingam, com a mesma exuberância e os mesmos nomes feios, o juiz, os bandeirinhas, os adversários e os jogadores do próprio time. Há, porém, um torcedor, entre tantos, entre todos, que não se parece com ninguém e que apresenta uma forte, crespa e irresistível personalidade. Ponham uma barba postiça num torcedor do Botafogo, dêem-lhe óculos escuros, raspem-lhe as impressões digitais e, ainda assim, ele será inconfundível. Por quê?


Pelo seguinte: - há, no alvinegro, a emanação específica de um pessimismo imortal. Pergunto eu: - por que vamos ao campo de futebol? Porque esperamos a vitória. Esse otimismo é o impulso interior que nos leva a comprar ingresso e vibrar os 90 minutos. E, no campo, o otimismo continua a crepitar furiosamente. Não importa que o nosso time esteja perdendo de 15 a 0. Até o penúltimo segundo, nós ainda esperamos a virada, ainda esperamos a reação.


Pois bem: - o torcedor do Botafogo é o único que, em vez de esperar a vitória, espera precisamente a derrota.Os outros comparecem na esperança de saborear como um chicabom o triunfo do seu clube. Mas o torcedor do Botafogo é diferente: - ele compra o seu ingresso como quem adquire o direito, que lhe parece sagrado e inalienável, de sofrer. Eis a verdade: - ele não vai a campo ver futebol.


O futebol é um detalhe secundário e, mesmo, desprezível. Ele quer, acima de tudo, desgrenhar-se, esganiçar-se, enfurecer-se e rugir contra Zezé Moreira. No dia em que retirarem do torcedor alvinegro o inefável direito de sofrer e, sobretudo, o direito ainda mais inefável de descompor o seu técnico, ele ficará inconsolável, como um ser que perde, subitamente, a sua função e o seu destino.


Tudo na vida é uma questão de hábito. E o cidadão que padece todos os dias acaba se afeiçoando ao próprio martírio ou mais do que isso: - o martírio torna-se insubstituível como um vício funesto. É o caso da torcida alvinegra que, desde 1910, sofre e, ao mesmo tempo, xinga Zezé Moreira. Conclusão: - já não pode viver sem uma coisa e outra.


Por exemplo: - o clássico de ontem, no Maracanã, foi o que se chama de jogo ideal para o torcedor do Botafogo. Já durante a semana, ele vivera mergulhado no pessimismo como um peixinho no seu aquário. E, ontem, finalmente chegou o grande dia: - a torcida alvinegra sofreu como nunca e rugiu, como nunca, contra Zezé Moreira. De fato, o Vasco exerceu um feroz, um maciço domínio de 80 minutos.


E mais: - o Vasco deu show, jogou bonito, brilhou escandalosamente como um Sol. No intervalo do primeiro para o segundo tempo, encontro um amigo botafoguense. Exultante com o próprio sofrimento e com o próprio furor, ele veio, para mim, de braços abertos. Do lábio, pendia-lhe a saliva pesada e elástica de uma cólera sagrada. Agarra-me e rosna-me, ao ouvido: - Esse Zezé Moreira é um tarado! E repetia, atirando patadas ao chão: - Tarado.


A princípio, pensei num crime sexual ainda impune, praticado nalgum terreno baldio. Pálido, quero saber por que tarado. Então, o amigo explica-me: - porque pusera o Bauer no lugar de Pampolini! E essa substituição parecia, ao meu conhecido, o sintoma inconfundível de uma tara tenebrosa. O diabo é que todo o esforço e todo o brilho do Vasco não renderam mais que um franciscano empate de 0 a 0. Acresce que, nos 10 minutos finais, o Alvinegro reage dramaticamente e quase ganha o jogo.


(*) Crônica publicada após um jogo de 1956 entre Botafogo x Vasco(**)


Agora pergunto eu, Roberto Porto: vocês concordam com o que Nélson escreveu?

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Estréia para não esquecer


Valdir Cardoso Lebrego (1933-1996), o Quarentinha, que aparece na foto acima entre Dino Sani e Pelé, com Dorval e Zagallo logo atrás, estreou no Botafogo em junho de 1954, na goleada histórica que o Botafogo aplicou no São Paulo Futebol Clube, em partida válida pelo antigo
Rio-São Paulo ( 5 x 1).
A foto é de mais uma disputa da Taça O’Higgins, contra o Chile, pela Seleção Brasileira, partida essa que terminou com o escasso placar de 1 a 0. Gol de quem? Exatamente dele, Quarentinha, o maior artilheiro do Botafogo.

Mas vamos voltar à estréia de Quarentinha pelo Botafogo, que jogou com a seguinte e curiosa formação: Gílson, Gérson e Geraldo Bulau (ex-São Cristóvão); Bob, Ruarinho e Juvenal; Garrincha, Quarentinha, Dino, Carlyle e Neivaldo.
Não me perguntem como esse time jogava, pois nele há cinco jogadores de frente, como o próprio Quarentinha e mais Dino da Costa e Carlyle Cardoso, este último tendo se consagrado no Fluminense.

Mas o que há de extraordinário nessa partida, assistida por um público apenas razoável no Maracanã?

Primeiro, a expulsão de Dino da Costa, jogador extremamente disciplinado, que teria trocado empurrões com Nílton De Sordi, do tricolor paulistano. Por fim, acreditem ou não, a expulsão de Carlyle pelo juiz chileno Juan Carlos Armenthal.
Qual a razão da expulsão de Carlyle? Pura e simplesmente por ter ofendido em altos brados o ainda iniciante Garrincha, que, como de hábito, por ser um sujeito tímido, baixou a cabeça.

Carlyle (1926-1982) era um jogador temperamental ao extremo. Dizem, os que lhe foram íntimos, que ele se achava uma nova versão de Heleno de Freitas (1920-1959). Outros não acreditam nisso. Um deles era Mauro Borja Lopes (1925-2004), o Borjalo, com quem trabalhei no Programa Haroldo de Andrade (1934-2008), na Rádio Globo. Borjalo simplesmente foi o autor intelectual do plim-plim da Rede Globo de Televisão. Chega?

Da mesa redonda de que participei, muitas vezes, conversava com Borjalo, que era botafoguense. E sabem vocês deste blog quem influenciou Borjalo a ser alvinegro? Simplesmente Carlyle Guimarães Cardoso, numa pequena cidade de Minas Gerais, onde os dois foram colegas de turma.

Quando Carlyle chegou ao Botafogo já estava se aproximando do ocaso de sua carreira. Mesmo assim, mantinha com os companheiros de ataque uma ascendência notável. Daí ter xingado Garrincha que, coitado, aos 21 anos, mal estava começando no clube.
Mas que a expulsão de Carlyle foi uma atitude única, isso foi. Não venham me dizer que não.
Há coisas que só acontecem ao Botafogo...Certo ou errado?