sexta-feira, 30 de julho de 2010

Amarildo chega aos 70 anos


Este blog é em homenagem ao campista Amarildo Tavares Silveira, que no último dia 29 de julho completou 70 anos. Mas fica a pergunta: que time é o da foto em General Severiano? Simplesmente é o da formação básica que levou o Botafogo ao bicampeonato carioca de 1962, derrotando o Urubu, com ligeiras alterações, por 3 a 0. Aí estão pela ordem: de pé, Joel Martins, Manga, Nílton Santos, Zé Maria, Ayrton Povil e Rildo; agachados, Garrincha, Arlindo, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Na prática, dirigido por Marinho Rodrigues, jogava com Manga, Joel, Zé Maria, Nílton Santos e Rildo; Ayrton, Arlindo e Zagallo; Garrincha, Quarentinha e Amarildo, que já conquistara no Chile o bicampeonato mundial em lugar de Pelé.

Como realmente há coisas que só acontecem ao Glorioso, o clube, gradativamente, foi se desfazendo de jogadores importantes, como Paulo Valentim, o guerreiro de 1957, vendido ao Boca Juniors; Didi, o mestre, transferido ao Real Madri (no qual não se deu bem) no início de 1962; Amarildo, negociado com o Milan, em 1963 e, por fim, Arlindo, que ainda jogou em 1963 mas acabou no México pouco depois. O sonho de João Jobim Alves Saldanha, de transformar o Botafogo num verdadeiro escrete, com a compra do passe de Didi, em 1956, foi por água abaixo.

Só não escoou pelo ralo porque com o dinheiro da venda de Amarildo (150 milhões de cruzeiros), o Botafogo comprou o passe de Gérson ao Urubu em 1963 (ele só pôde jogar em 1964) e promoveu duas autênticas revelações do juvenil: nada menos do que Jairzinho e Roberto Miranda, além de promover Rogério Ventilador, Carlos Roberto e Paulo César. Por isso, o Alvinegro conquistou o bicampeonato de 1967-1968 e, depois, amargou um longo jejum até 1989. Mas a venda de Amarildo, com apenas 23 anos para a Itália, foi um desastre, mesmo levando-se em conta que a negociação permitiu a vinda de Gérson, incompatibilizado no Urubu de Flávio Costa.

Como veterano torcedor apaixonado pelo Botafogo, guardo de Amarildo grandes recordações, no Alvinegro de General Severiano e na Seleção Brasileira. No Chile há pelo menos quatro momentos preciosos de Amarildo, a quem Nélson Rodrigues deu o apelido de Possesso. Os dois gols da vitória sobre a Espanha, em passes de Garrincha, o gol sem ângulo contra a então Tchecoslováquia na final e, no mesmo jogo, o drible desconcertante em seu marcador – que se esparramou pelo gramado – e o centro preciso para Zito, do Santos, marcar de cabeça o segundo gol do Brasil. Vavá, que já jogava no Atlético de Madri, marcou o terceiro dos 3 a 1, numa falha do goleiro.

Pelo Botafogo, a 15 de dezembro de 1962, tenho na memória uma grande jogada de Amarildo. Jogando com uma coxeira – deve ter sentido algo no músculo – ele, de maneira esperta, lançou Zagallo livre, nas costas de Murilo, zagueiro-direito do Urubu. Zagallo foi à linha de fundo e centrou para a área. Foi então que Quarentinha, numa tesoura voadora espetacular, da marca do pênalti, acertou um balaço que Fernando não segurou. Garrincha, malandro, vinha chegando e só tocou para dentro do gol, marcando os 3 a 0 que matou o Urubu de raiva e deu ao Glorioso o bicampeonato carioca. Naquele dia, no Maracanã, 145 mil pessoas pagaram ingressos.

Parabéns pelos 70 anos, Amarildo. E obrigado pelas alegrias que me deu.

(*) Correção: no último blog, falei nos dois goleiros afro-descendentes que foram convocados para a Seleção Brasileira: Osvaldo Baliza e Jefferson. Mas há mais dois brancos: Manguinha, desastroso em 1966, além de Paulo Sérgio, que não chegou a ser titular.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Dois goleiros de Seleção



Conheci pessoalmente Oswaldo Alfredo da Silva (1923-1999), o Oswaldo Baliza, exatamente na noite de 12 de dezembro de 1998, no salão nobre da sede de Venceslau Brás (ou General Severiano, como quiserem os leitores). Por quê? Porque naquela data estavam sendo completados 50 anos da conquista de 1948, sobre o Vasco da Gama. Tive a idéia da festa, apoiada pelo presidente Mauro Ney Palmeiro, mas poucos foram os campeões que compareceram além de Oswaldo. Rubinho havia morrido, Gérson dos Santos estava em Minas e Nílton Santos, em Brasília; Ávila morava em Resende; Paraguaio morrera pouco antes, assim como ocorrera com Geninho, Pirillo e Braguinha. Além de Baliza, só lá estavam Juvenal e Otávio Sérgio.

Conversei um bom tempo com Oswaldo, que estava acompanhado da mulher, e me assustei com a altura dele. Ou eu crescera muito (1m86) ou Baliza, com o tempo, diminuíra um pouco. Foi um bate-papo meio estranho, pois Baliza parecia meio ausente. Pouco tempo depois, ele foi cumprimentar alguns amigos e a mulher dele me disse que o marido, no dia seguinte, já não se lembraria de nada. Sofria do Mal de Alzheimer, como Nílton Santos sofre hoje. Como não conhecia pessoalmente Juvenal, gastei o tempo conversando com o artilheiro Otávio Sérgio de Moraes.

Na época, pelo que me recordo (não tenho Alzheimer), lamentei muito a ausência de Nílton Santos, Gérson e Ávila. E não me conformava com a morte de Egídio Landolfi, o Paraguaio, dias antes. Curiosamente, conversei com Paraguaio na varanda da sede e ele estava muito bem. Tão bem que me revelou que estava cobrando uns atrasados do Botafogo, na época em que exerceu o cargo de técnico. Mas sequer houve tempo para que o Glorioso saldasse seus compromissos com ele. Pouco depois, ele morreu sem receber o dinheirinho a que tinha direito. Fiquei triste com a história.

Hoje, pelo que estou informado, apenas Juvenal (com um problema na próstata) e Nílton Santos (Alzheimer) estão vivos, como os únicos heróis daquela histórica campanha, quando o Botafogo perdeu na estréia para o São Cristóvão (sem Nílton Santos, substituído por José Sarno) e só empatou mais duas vezes: uma com o Fluminense (2 a 2), em General Severiano, e outra com o Bangu (zero a zero) em Moça Bonita. As demais partidas o Botafogo Venceu-as todas, inclusive duas vezes diante do Urubu e mais duas enfrentando o Vasco, mesmo em São Januário (2 a 1).

Mas o blog de hoje não é para recordar vitórias e ao mesmo tempo tristezas. É para comemorar a convocação do goleiro Jefferson por Mano Meneses, transformando-o no 47º jogador do Botafogo chamado para a Seleção Brasileira, o que dá ao Alvinegro a liderança absoluta em termos de jogadores chamados para defender o Brasil. E Osvaldo? Por quê? Simplesmente porque Oswaldo Baliza foi campeão Pan-Americano pela Seleção Brasileira em 1952, entrando na decisão contra o Chile no Estádio Nacional. Zezé Moreyra, o técnico de Baliza no Campeonato Carioca de 1948, viu que Carlos Castilho (Fluminense) não estava bem e não vacilou: lançou Oswaldo Baliza em seu lugar para conquistar o primeiro título internacional do Brasil em terras estrangeiras.

Daqui deste espaço, faço uma homenagem aos nossos dois goleiros, ambos afro-descendentes (fotos), os únicos do Glorioso (fora Manga) a serem convocados para a Seleção Brasileira que, desastres à parte, na África do Sul, há pouco tempo, é a única pentacampeã mundial. Sorte para Jefferson, nosso goleiro e paz para Oswaldo Baliza, o único de quem Heleno de Freitas tinha medo.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Urubus torcem para Bruno


Como já esperava, alguns dos dirigentes do Urubu agourento estão na expectativa de mais um inquérito policial que não dará em nada, rigorosamente em nada. Desobedecendo as ordens da presidente do clube, Patrícia Amorim – que queria a demissão de Bruno da Samudia por justa causa – esperam que mais um bandido da Gávea escape sem punição da esfera judicial, como ocorreu com Adriano da Chatuba e Wagner Love da Rocinha, que fugiram do Brasil. Eles, os tais dirigentes (que aparecem na ilustração apreciando um treino na Gávea), aguardam que o julgamento do bando de bandidos que cerca Bruno da Samudia termine sem culpados do crime.

Eu, que estudei Direito Penal – além de Processo Penal – na Faculdade Nacional de Direito, sei muito bem como funciona a suposta justiça criminal. O matador pelas costas de uma jovem jornalista do Estado de São Paulo, o tal Pimenta da Veiga, segue em liberdade pelas ruas paulistanas. O mesmo acontece com os assassinos da jovem atriz Daniella Perez – filha da novelista Glória Perez, da Rede Globo – e podem apostar: dentro de pouco tempo, os Nardoni, que atiraram uma menina pela janela em São Paulo, também terão a maldição chamada ‘progressão da pena.

O Direito Penal brasileiro, em poucas e resumidas palavras, é um nojo. Nem mesmo serve para punir bandidos e traficantes assassinos. Querem um exemplo? Pois muito que bem: um dos matadores do jornalista Tim Lopes, sujeito bom, que estudou e conquistou emprego na Rede Globo, ganhou liberdade condicional e nunca mais deu as caras no merecido cárcere. Os advogados de criminosos fazem a festa, proíbem depoimentos, testes de DNA, acareações e o diabo a quatro. As brechas das leis penais permitem isso. Sujo como o Direito Penal, só mesmo o Direito Trabalhista, criado unicamente para defender os patrões inadimplentes, como já ocorreu comigo.

Larguei o Direito justamente por isso e me tornei jornalista, antes mesmo de me formar em 1965. E não me arrependo. No Brasil, a pena maior é de 30 anos, sem contar o incrível recurso de progressão. Nos Estados Unidos, há a prisão perpétua. Por que não imitarmos os americanos? Não sei responder. E isso vem de longe, desde a época em que Pero Vaz de Caminha – que não era escrivão da corte lusitana – escreveu a carta ao rei de Portugal. Com a carta, Caminha conseguiu a libertação do irmão, que furtara obras de arte de uma igreja de Lisboa. Hoje as coisas pioraram, e não há lei de ‘ficha limpa’ que impeça ladrões do tesouro de concorreram às eleições.

Outro dia mesmo, assisti na televisão – canal de assinatura – a história de um nazista que mandou fuzilar 300 italianos (escolhidos a esmo) em Roma. Ele foi preso por agentes israelenses em Bariloche, Argentina, e repatriado à Itália. Imaginei que acabasse fuzilado pelo crime hediondo que cometeu. Errei feio. A justiça italiana, tal qual a brasileira, decretou prisão domiciliar para ele. Foi ou não foi um prêmio? Detalhe: a prisão domiciliar que ele cumpre – se é que cumpre – é num belo prédio em Roma, num bonito edifício, pago pelo poder público, ou seja, pelos impostos que o bilionário Berloscuni cobra do povo. Um absurdo tipicamente ao estilo brasileiro.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Só me resta seguir batendo


Na véspera de mais uma trágica partida do Botafogo contra o Flamengo (perdoem a má palavra) pelo Campeonato Brasileiro, assisti pela televisão a uma rápida entrevista do escritor uruguaio Eduardo Galeano (completará 70 anos agora em três de setembro). Galeano, como todos sabem (ou deviam saber) comparou Garrincha (1933-1982) a nada mais nada menos do que a Charlie Spencer Chaplin (1889-1977), o genial Carlitos que encantou muitas gerações de cinéfilos. Veio a quarta-feira chuvosa e fatídica e o Glorioso, supostamente em vantagem psicológica sobre seu mais temível rival, perdeu bisonhamente por 1 a 0 no Brasileiro.

Em 15 jogos pelo citado Campeonato Brasileiro, desde 2000, o Botafogo sofreu oito derrotas e conseguiu apenas sete empates. A última vitória alvinegra, por 3 a 1, ainda nos tempos de retorno de Donizete, ocorreu a sete de outubro de 2000, já na era do sérvio Petkovic envergando a pavorosa camisa rubro-negra. Aí eu pergunto: de que valeu nossa vitória no Campeonato Carioca, com gols de Herrera e Loco Abreu, se pouco tempo depois entregamos o ouro ao bandido? Quem vai se recordar dela agora, depois da nota zero que o Glorioso tomou diante de um clube que ainda é um caso de polícia, com os feitos de Adriano da Chatuba, Wagner Love da Rocinha e, agora, de Bruno da Samudio – e outros integrantes parceiros de Bruno da Samudio?

Sou botafoguense apaixonado – mais do que devia, estou certo – mas não alivio atuações pífias, sem alma e empenho. A rigor, o ‘Botafogo não vale nada mas eu gosto de você’, como na música do conjunto ‘Calcinha Preta’, que tanto sucesso fez. Depois a diretoria do clube fica se perguntando por que razão a torcida alvinegra está envelhecendo. Por causa dessas derrapagens constantes – e irritantes – que só afastam os jovens da camisa alvinegra. Quem quer ser Botafogo? Poucos, muito poucos, embora, segundo o Ibope, o Alvinegro seja o 12º colocado na preferência de torcedores do clube em todo o Brasil (193 milhões de habitantes), na frente do carioca Fluminense, que é o 14º. Mas uma derrota dessas é um pontapé no saco de todos.

O Botafogo – quanto mais velho fico – segue sendo o maior amor imaterial de minha vida. Mas isso não quer dizer que me conformo com vergonhas desse tipo. O Botafogo, como Jesus Cristo fez, em sua época, simplesmente ressuscitou um morto, como Lázaro, que depois, mostrando serviço, virou São Lázaro. E o que me resta fazer aqui em meu blog, postado gentilmente pela alvinegra apaixonada Malu Cabral? Continuar batendo no Tinhoso, que, na prisão, irá formar uma dupla sertaneja com o assassino da filha, o monstro Nardoni. Ou então dizer que surgiu um advogado japonês, especialista em Direito Penal Brasileiro, para defender Bruno da Samudio. O nome dele? É simplesmente Sugiro Kifuja. Será que vai conseguir alguma coisa?

Eu, apesar de tudo, das gozações com o Tinhoso, alvo de várias polícias, continuo puto da vida. Como é se que atira pela janela uma vitória que virou livro (21 depois de 21), de Rafael Casé e Paulo Marcelo Sampaio? E A conquista espetacular do Campeonato Carioca de 2010 – homenagem aos campeões de 1910? Quem irá ao Engenhão ver o Botafogo jogar a bola quadrada que jogou com o Tinhoso? Eu não vou nem de graça, nem que me arrastem à força. Sou daqueles torcedores que não vaiam time nem jogadores, por uma única e escassa razão: eles estão vestindo a camisa mais bonita do mundo, ilustrada ainda pelo mais belo escudo de um clube, eleito por uma revista japonesa. E desse jeito, que o Botafogo tome cuidado para não cair uma vez mais para a segunda divisão. Seria simplesmente o apocalipse.

Botafogo ressuscita um morto


Creio que já escrevi aqui que não sou muito chegado a religiões. Conheço um pouco da história delas todas, mas minha grande e única paixão imaterial é o Botafogo de Futebol e Regatas. Mas como estudei em colégio católico (Instituto São Fernando, no Rio), sei muito bem que Jesus Cristo ressuscitou Lázaro. Em poucas e resumidas palavras, para chegar aonde quero chegar, O Glorioso ressuscitou o Tinhoso, que estava literalmente morto, na noite da última quarta-feira no Maracanã. Abatido pelos casos de Adriano da Chatuba, Wagner Love da Rocinha e Bruno Samudio, o Urubu, para ser enterrado, só precisava de sete palmos de terra.

Pois o Botafogo me fez o favor de perder para um time bisonho, abatido moralmente, ridicularizado por todas as demais torcidas, reforçando a história de que ‘há coisas que só acontecem a ele, Botafogo’. Pior: mesmo desfalcado de Loco Abreu, há 10 anos o Botafogo não supera o medonho Urubu em campeonatos Brasileiros. Depois da sensacional vitória no Campeonato Carioca deste ano, o alvinegro de General Severiano pagou um mico que lhe será caro no futuro para resgatar. Como botafoguense, não posso admitir que meu clube reerga um clube no fundo do poço, lá atirado por seus ídolos. Nota zero para os que usaram nossa camisa.

A foto que ilustra este blog é de uma conferência minha na Casa de Cultura Banco do Brasil. E os que estão perto de mim na ocasião riem das histórias curiosas que não posso esconder de meu clube. E ririam muito mais depois da derrota humilhante no Maracanã, com um gol de um jogador do qual nunca ouvi falar. Honestamente, estou envergonhado. Tanto esforço, tanto treino – até em Teresópolis – para fazer o papel de ressuscitar um clube mortinho da silva. Assim, com derrotas desse tipo, não há torcedor que aguente. Não há torcedor que se anime e sair na rua vestindo a camisa gloriosa de seu clube. Eu, confesso, estou possesso. E Maurício Assumpção deveria multar todos os que participaram de mais uma tenebrosa derrota do Botafogo – justamente para o nosso maior e mais odiado rival.

Como diria o rubro-negro Kleber Leite, me incluam fora desse vexame.

sábado, 10 de julho de 2010

Fla toma providências enérgicas


Faz tempo que sugiro aqui neste meu blog, a instalação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no que restou da sede da Gávea, perigoso reduto de jogadores, torcedores e auxiliares do departamento de futebol do Tinhoso, em tempos idos vizinho da famosa Favela do Pinto. Hoje, através de meu SSI (Serviço Secreto de Informações) tomei conhecimento do projeto que será erguido em breve na Beira da Lagoa (foto acima). Trata-se de uma nova sede que não precisará de UPPs e que servirá para abrigar atletas e adeptos do rubro-negro. Uns ficarão em seu interior cumprindo uma espécie de recolhimento perpétuo. Outros, poderão sair, vez por outra, desde que vigiados por elementos da PM.

Para desenhar o projeto da nova e ‘espetacular’ sede, o arquiteto (que não pode ser citado pois já passou anos no Complexo de Bangu), fez um estudo profundo sobre as teses do médico, cirurgião e cientista italiano Cesare Lombroso (1835-1909), que escreveu a obra prima da criminologia denominada ‘O Homem Delinquente’. Pessoalmente tive contato com a história de Lombroso quando estudei Direito Penal na Faculdade Nacional de Direito, na Praça da República. Para escrever sua monumental obra, Lombroso, como médico, perpetrou 400 autópsias e fez, de maneira paciente e profunda, a análise de seis mil delinqüentes vivos e presos, claro.

O projeto, pelo que pude verificar, é magnífico, tendo, inclusive, um campo de futebol (de terra batida mas de dimensões oficiais) para treinos dos atletas. Estes ficarão, digamos assim, concentrados em celas isoladas e o controle da entrada de telefones celulares será terminantemente proibido. Os torcedores que quiserem assistir aos treinos serão todos revistados e posteriormente acomodados em arquibancadas gradeadas para evitar tumultos. Em dias de jogos, na projetada reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014, as torcidas organizadas ficarão acomodadas à esquerda das tribunas especiais – como sempre ocorreu no passado – mas, por uma questão de segurança, serão vigiados por 10 mil homens armados da Polícia Militar.

Para estimular o time, os torcedores rubro-negros poderão levar cópias empalhadas de urubus. O que ainda está em estudo – e talvez demore a ser decidido – é a questão de uniforme dos jogadores. Não se sabe até agora se os jogadores poderão usar a camisa oficial ou se ela será substituída – como já foi – pela do Tabajara Futebol Clube. Tudo depende de uma especial autorização dos protagonistas do programa ‘Casseta & Planeta’, da Rede Globo. Na saída do Maracanã, os jogadores serão acomodados (com conforto) em camburões especiais até a nova sede, onde serão devidamente trancafiados até o próximo compromisso. As viagens de avião, para o Campeonato Brasileiro, serão proibidas. Os craques seguirão em ônibus especiais, mesmo para os mais distantes locais – como Fortaleza, por exemplo.

Particularmente, acho que as medidas tomadas pelo Tinhoso da Gávea são exageradas. Não na sede, que está realmente muito bem bolada. Mas nas viagens longas. Os jogadores, por uma questão de respeito ao ser humano, poderiam viajar de avião, desde que algemados, para não ameaçar a segurança dos demais passageiros. Através deste blog farei (prometo) uma campanha a favor dos aviões e das algemas, já que as viagens de ônibus serão extremamente cansativas e desgastantes. Por fim, nas divisões de base, aqueles que pretenderem jogar pelo Tinhoso terão que apresentar o que já existe nas eleições, ou seja, uma ‘ficha limpa’. Acredito que em 20 ou 30 anos o Tinhoso possa se recuperar do trauma porque passa nos dias de hoje.

Este é o meu desejo: liberdade condicional para os jogadores bem comportados.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Apenas um caso de polícia


Há alguns anos, um jornalista rubro-negro – certamente ressentido pelas derrotas sofridas no gramado – escreveu um livro de quase 500 páginas abordando o alcoolismo de Garrincha (1933-1982) e sua morte prematura aos 49 anos. Não me recordo de um só trecho em que falasse do gênio que foi Manoel dos Santos, não apenas no Botafogo como na conquista do bicampeonato mundial no Chile em 1962.

Eu sou Botafogo apaixonado, não gosto do Flamengo (vejam que não escrevi o adjetivo pejorativo ‘Tinhoso’) mas não vou escrever uma única e escassa palavra sobre o caso do goleiro Bruno no desaparecimento da jovem Elisa Samúdio. Já basta o que o clube da Gávea sofreu com Adriano da Chatuba e Vágner Love da Rocinha, o que me levou, ironicamente, a sugerir que fosse implantada na Gávea uma UPP.

Mas o caso de Bruno me parece gravíssimo. Trata-se de um caso de polícia, da Divisão de Homicídios. Mesmo detestando o Flamengo, como adversário nos campos de futebol da vida, me recuso a tratar do assunto. Sou um cronista esportivo e não um repórter policial. Não vou repetir aqui, em meu blog, a sacanagem sofrida por Garrincha, sua doença provocada pelo álcool e suas estripulias fora de campo.

O caso do goleiro Bruno é um caso de polícia, repito. O de Garrincha era um caso de doença, de dependência física com o álcool – para não citar os problemas vividos por ele com as artroses incuráveis que sofria nos joelhos. Para mim, a carreira de Garrincha terminou a 15 de dezembro de 1962, quando ele, pelo alvinegro, liquidou o Flamengo na final do Campeonato Carioca de 1962, marcando dois gols e provocando o terceiro, contra, de um zagueiro rubro-negro. O Flamengo, como clube de futebol, com a torcida que tem, não merece que eu deste caso me aproveite.

Por uma questão de ética profissional, não escreverei sobre o assunto. Não sei se jornalistas rubro-negros (como o que colocou Garrincha abaixo de zero) fariam o mesmo. Creio que não, principalmente se o alvo fosse o Glorioso.

Como diria o rubro-negro Kleber Leite, me incluam fora dessa.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O marketing alvinegro de Loco Abreu


O marketing não é minha área, mas estou convencido de que o jogador uruguaio e alvinegro Loco Abreu fez para o Botafogo nesta última Copa do Mundo – mesmo com a derrota do Uruguai para a Holanda – foi simplesmente sensacional. Loco Abreu, além de entrevistas declarando seu carinho pelo Glorioso, foi capa de O Globo na última terça-feira e citado, diversas vezes, por outros jornais e emissoras de televisão. Por isso, humildemente, peço a todos os torcedores do campeão carioca de 2010 que façam uma bela festa para ele quando voltar ao clube da estrela solitária.

Sebastian El Loco Abreu fez contra a Seleção de Gana a mesmíssima coisa que abateu a tiros a equipe do Tinhoso, cobrando um pênalti que colocou o suspeito goleiro Bruno, do citado Tinhoso, sem saber o que fazer. E mais: a maneira de Loco Abreu bater pênaltis foi repetida várias vezes nas televisões, sempre com o teipe de seu gol na decisão. Não tenho essa informação, mas se o marketing do Botafogo mandar fazer uma camisa alvinegra com o número 13, vai vender como água na Fogão-Shop, da Avenida Venceslau Brás. Loco Abreu virou ídolo do Botafogo.

Não gosto de me intrometer na vida do Botafogo – onde vou raras vezes apesar de sócio-proprietário desde 1968 – mas o presidente Maurício Assumpção deve fazer o possível e o impossível para manter o uruguaio no clube. Como o Brasil fracassou uma vez mais, coube a Loco Abreu, do Uruguai, manter o Botafogo nas páginas e nas telas de televisão, numa jogada de marketing que ninguém esperava. Mesmo na derrota para a Holanda (injusta até certo ponto), o Uruguai arrastou um grande número de torcedores alvinegros para o telão da praia de Copacabana.

Como torcedor apaixonado pelo Botafogo, eu, Roberto Porto (com 12 letras no nome), estou animado para o restante do Campeonato Brasileiro, com ele, Loco Abreu, e mais o argentino Herrera, Jobson e Maicosuel, além de outros como Caio Talismã, Lúcio Flávio (voltando à forma) e Edno (que parece ter redescoberto seu jogo). Mas não se esqueçam, repito, de receber Loco Abreu como ídolo, pelo que ele, de maneira até indireta, colocou o Botafogo na imprensa, fazendo com que os torcedores brasileiros até esquecessem a bisonhice da equipe brasileira na Copa.

Quem sabe Loco Abreu ainda faz das suas na luta pelo terceiro lugar no Mundial? Vou torcer por ele porque ele é o Botafogo nessa maldita Copa da África.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Uma geração mais do que bisonha


Esta foto, de meu arquivo particular, é da Seleção Brasileira que derrotou a Itália por 2 a 1, em 1978, e conquistou o terceiro lugar na Copa do Mundo da Argentina. Para os mais novos, vou identificar: em pé, da esquerda para a direita, estão Nelinho, Leão, Oscar, Amaral, Batista e Rodrigues Neto; agachados, na mesma ordem, Búfalo Gil, Toninho Cerezzo, Jorge Mendonça, Roberto Dinamite e Zico. Como jogava esse time dirigido por meu amigo Cláudio Coutinho (1939-1981)? Leão, Nelinho, Oscar, Amaral e Rodrigues Neto; Batista, Cerezzo, Jorge Mendonça e Zico; Búfalo Gil e Dinamite. Agora faço a pergunta: faltava craque nessa equipe de Cláudio Coutinho?

Evidentemente que faltava. Um ou outro podia ser substituído, claro. Mas era o que o futebol brasileiro tinha de melhor naquela época, já tão distante. Agora torno a fazer outra pergunta: por que certo jornal carioca – em campanha aberta contra Dunga – afirma, em manchete, que Luiz Felipe Scollari nunca teve medo de selecionar craques? E eu mesmo respondo: simplesmente porque a geração de jogadores da época de Luiz Felipe Scollari – pentacampeão mundial em 2002 na Copa do Japão e Coréia do Sul – era melhor e dotada de profissionais mais talentosos. Já a geração de Dunga fez o que fez na África do Sul: venceu os mais fracos (Coréia do Sul, Costa do Marfim e Chile), empatou com Portugal e perdeu com justiça para a Holanda.

Não tenho a menor pretensão de defender Dunga, a quem nem conheço. Mas fazer campanha aberta contra ele é uma coisa injusta. Por que, torno a interrogar, ninguém fez campanha contra Telê Santana da Silva (1931-2006), outro que fez uma sólida amizade comigo? Telê perdeu duas Copas do Mundo (1982 e 1986), sendo que em 1982 montou um time quase espetacular: Valdir Peres, Leandro, Oscar, Luisinho e Júnior Capacete; Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho e Éder. Fora Valdir Peres e Serginho, só contava com craques. Até Éder jogava um bolão na Copa da Espanha. E Carlos Alberto Parreira, em 2006? E Mário Jorge Lobo Zagallo em 1974 e 1998? A rigor, só dois técnicos perderam finais de Copas do Mundo: Flávio Costa (1906-1999) e Zagallo. Um em pleno Maracanã, o outro na França, para o time de Zidane.

Mas há uma explicação para tudo. A CBF, de Ricardo Teixeira, queria que Dunga privilegiasse – prejudicando outras empresas jornalísticas – o grande império de comunicação do Brasil. E Dunga, com seu temperamento irascível, o desobedeceu. O desobedeceu, não tinha time – aliás tinha um time bisonho – e foi demitido pela Internet. Ele e toda a comissão técnica. Vamos torcer pelo Brasil, claro, somos brasileiros. Mas não vamos nos juntar à críticas sem sentido. Dunga é teimoso? É. Pode não ser bom técnico? Pode. Mas vamos olhar para a bisonha geração de jogadores que ele teve à sua disposição, principalmente no meio de campo.

Em minhas colunas na ESPN Brasil – sede em São Paulo – escrevi logo de saída que a Seleção Brasileira poderia aspirar no máximo um terceiro lugar. Errei. Foi eliminada diante do primeiro adversário forte que enfrentou. Nos comentários à essa minha coluna (mais de 50 telespectadores) fui apoiado mas também fui chamado de impatriota. Como posso ser patriota vendo um time jogar tão mal, com jogadores tão bisonhos e sem a menor criatividade? Tenham todos muita paciência, mas até a Argentina, tida e havida como o escrete dos escretes, tomou um sacode da Alemanha.

Agora, sem muitas esperanças, torço para o Uruguai, do botafoguense Loco Abreu. Mas a verdade é que a final deve ser Holanda x Alemanha.

Me cobrem isso, por favor.

sábado, 3 de julho de 2010

Adiós muchacho, mascarado e sin verguenza


Ah, Maradona (foto do JB), Dieguito tão querido (?) no Brasil... Você disse tanta coisa antes e durante a Copa do Mundo da África do Sul. Garantiu que iria ficar nu na Praça do Obelisco em Buenos Aires caso a Argentina fosse campeã do mundo... E agora, quem diria, caiu de quatro diante da Alemanha e vai voltar mais cedo. É verdade, Maradona, que você não sacaneou o Brasil quando o time (?) de Dunga perdeu da Holanda. Mas falou mal de Pelé (pela enésima vez), disse que Messi era o melhor jogador do mundo, etc e tal. E agora, Don Diego? Como você será recebido na volta à capital argentina? Fique com o título que você conquistou no México com aquele gol com a mão e com as derrotas que sofreu diante do Brasil. Recuerdate de 1982?

Você é insuperável, Maradona. Boquirroto, metido a besta naquele terno ridículo que o deixou sem pescoço. Cansou de beijar seus jogadores, fingindo-se de técnico carinhoso e malandro ao mesmo tempo. Declarou que sua turma não precisava de concentração fechada, que iria permitir sexo e pirulitos para todos. E ahora, hermanito? O que é que você vai dizer em casa (se é que ainda tem casa)? O que você vai explicar para o pasquim Olé, que vive esculhambando o Brasil? Foi bem feito, Maradonita, foi bem feito. Tomar de quatro da Alemanha foi um castigo e tanto para um cara mascarado como você. Tanta marra para arrumar um time mequetrefe, que tomou um baile da Alemanha. Adiós muchacho, que la tierra le sea leviana...

O Brasil, Maradona, não ficou atrás. Foi eliminado, sim, pela Holanda. Jogou mal, principalmente no segundo tempo, mas não deu o vexame histórico que su equipo deu. Você vai carregar para sempre esses quatro a zero, junto com Carlito Tevez, Messi e todos os outros. Ahora, Don Diego, serei hincha del Uruguay, del jugador Loco Abreu, campeón por mi club de corazón, el Glorioso, el Botafogo eterno. E tome cuidado, Maradona: com tanta trampolinagem, desde as eliminatórias, você certamente vai perder o cargo. Los hinchas del River Plate irão fazer pressão para que você caia fora, com essa barbicha e esse terno indescritível.

E ahora repito: que la tierra le sea leviana, bien leviana Maradona...


sexta-feira, 2 de julho de 2010

Loco Abreu é o Botafogo na Copa


Foi uma sexta-feira de cinzas para o futebol brasileiro. Sermos eliminados como fomos pela Holanda, jogando de maneira bisonha e medíocre, me deixou entristecido. Mesmo sabendo que a geração de jogadores que foram à África do Sul estava muito abaixo do que estamos acostumados, foi trágico. Em minha coluna no site da ESPN Brasil – que já teve até agora 50 comentários, uns bons, outros maus – havia afirmado, logo após a nossa estréia, que conseguiríamos no máximo um placê – linguagem de turfe que significa ficar em terceiro lugar. Mas errei. Nem no terceiro pudemos ficar, tamanha a mediocridade do jogo que apresentamos. Foi de doer.

Minha única e escassa alegria nessa sexta-feira negra – tomara que a esqueçamos rapidamente – foi o pênalti categórico que o uruguaio-botafoguense Loco Abreu bateu, na partida contra Gana, eliminando o último país africano no Mundial. No momento em que Loco Abreu partiu para decidir a partida, lembrei-me da final contra o Tinhoso, no Maracanã, em abril. Ele mostrou a mesmíssima frieza e categoria daquela partida que deu a meu amado Botafogo o título de campeão carioca de 2010. De canhota, como se estivesse numa pelada, Loco Abreu matou o goleiro ganês, com a única diferença que não usou a trave para enganar o hoje suspeito Bruno.

Confesso que, mesmo entristecido com a derrota do Brasil, dei uma gargalhada quando a bola estufou a rede do adversário. Loco Abreu é de uma coragem impressionante, tanto jogando pelo Uruguai como pelo Glorioso. Sei que o Uruguai terá que enfrentar a correria da Holanda pela frente, o que não será um bom negócio. Sei, também, que Loco Abreu não é titular do time de Montevidéu. Mas, quem sabe? Com sua frieza e sua altura, poderá ganhar a posição. E confesso que apesar de ter o Uruguai atravessado na garganta desde 1950 – e de outras refregas sul-americanas – vou torcer pela Celeste, única e exclusivamente por causa do alvinegro Loco Abreu.

Gana teve o jogo nas mãos no último minuto de jogo, com o pênalti a seu favor. Mas o atacante, que poderia eliminar o Uruguai naquele derradeiro chute, bateu um tiro de meta. E a jabulani estourou no travessão. Parece que estava escrito que 2010 é um ano alvinegro. Na série de pênaltis, coube a Loco Abreu fechar o caixão de Gana, com a coragem e a categoria de sempre. Os uruguaios foram à loucura, formando uma pirâmide sobre o jogador do Botafogo. Ah, como me recordei da decisão contra o Tinhoso... Por isso vibrei porque o alvinegro de General Severiano é o meu maior amor imaterial. Principalmente agora com os reforços que estão chegando.

E o Tinhoso? O que vocês me dizem dele? Bruno sob suspeita da polícia e Wagner Love fugindo às pressas para a Rússia, além de Adriano da Chatuba, que já tirou o time de campo antes que a polícia terminasse a investigação da moto dada de presente a um traficante. Não é uma beleza? Poderia haver coisa melhor? É cada vez mais importante que a PM instale na Gávea uma unidade da UPP. Só assim, o banditismo que ocorre por lá poderia ter fim. Mesmo assim, é preciso ter cuidado. É preciso uma unidade da UPP na Gávea e outra no Ninho do Urubu da Carniça.

Como diz um leitor deste blog, termino com a frase: “Loco Abreu neles...”