sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Um Natal de tristeza


Estou passando, com a mais absoluta das certezas, o Natal mais infeliz de minha existência. Perdi, há 24 dias, a grande companheira de minha vida, Ada Regina Guimarães. Nós nos conhecemos a 23 anos na redação da Tribuna da Imprensa, eu como editor de esportes, ela como estagiária de diagramação. Começamos a namorar e em 1988 fomos viver juntos em Vila Isabel, com o filho dela, Mário Henrique Bittencourt – hoje advogado do Fluminense – quando ele tinha apenas nove anos. Foi um período maravilhoso, repleto de alegrias, sorrisos e, inclusive, ainda com a presença de meus pais, que já se foram faz tempo.

Poucos anos depois, graças a meu trabalho, já como editor nacional e internacional de O Dia, pude realizar um de seus sonhos: uma viagem ao exterior. Profunda conhecedora de inglês, ela queria conhecer os Estados Unidos. E fomos nós três para Nova York, em fevereiro, onde fomos recebidos por meu filho Roby Porto que nem sonhava em trabalhar como narrador de televisão – na ESPN de lá, no início e na Sportv hoje em dia. Ela tinha tanto medo de avião (jamais havia embarcado num deles) que, enquanto o Boeing taxiava na pista, no Galeão, ela me perguntou aflita:

- Já decolamos?

Quando desembarcamos no Aeroporto Kennedy, meu filho estava nos esperando. Fazia um frio, acreditem, de 17 graus abaixo de zero. Pelas ruas desertas de Nova York só circulavam uns poucos táxis, com correntes nos pneus. Ficamos num hotel modesto, pertíssimo do Central Park – totalmente coberto pela neve – e perto, também do sinistro Edifício Dakota, onde John Lenon (1940-1980) foi assassinado a tiros e também foi rodado o filme de terror de Roman Polanski, em 1968, ‘O bebê de Rosemary’, com Mia Farrow e John Cassavetes nos papéis principais.

Na segunda semana o tempo melhorou. Chegou a 12 graus acima de zero e pudemos aproveitar algumas das atrações daquela que é considerada a capital do mundo. Chegamos a visitar o famoso Empire State, a Broadway, o Lincoln Center e outros lugares que minha memória não está ajudando. Passei meu aniversário lá, dia 22 de fevereiro, num restaurante português que levava o nome de ‘Cabana Carioca’. Para mim, especificamente, não foi uma aventura. Como jornalista, viajei quase o mundo todo – inclusive a Arábia Saudita – e estive quatro vezes nos Estados Unidos. Mas para Ada Regina, foi um sonho. O único que realizou em vida.

Hoje, sozinho em casa, tento relembrar aqueles momentos de muita neve e de raros raios de sol. E sinto uma dor profunda no peito. Nem o fato de o meu Botafogo ter sido agraciado com o bicampeonato brasileiro me alegra. Ela me faz uma falta incomensurável. Jamais esquecerei sua ausência e de seu jeito de caminhar na neve nas calçadas novaiorquinas. Não acredito em outras vidas. Mas a que ela me proporcionou irá comigo até o meu apito final.

Obrigado por ter existido, Ada Regina. Obrigado, mesmo.

8 comentários:

Camila Augusta disse...

Amigo Porto,

não fiquei muito a vontade para lhe telefonar ou ainda enviar e-mail... a situação é triste.
Mas saiba que pensei em você e que estou aqui para o que precisar.
Grande abraço.

Zatonio Lahud disse...

Roberto, meus sinceros sentimentos. Só o tempo para aplacar tamanha dor. Abraço!

Enéias Teles Borges disse...

Mestre, reafirmo o que já lhe enviei por e-mail e para sua página na ESPN.

Abraços.

André disse...

Que texto bonita apesar da dor.

Abraço alvinegro

Joseane Andrade disse...

um abraço

Joseane Andrade disse...

Meu querido amigo,Roberto porto, é com grande alegria que lhe escrevo,pois, apesar de muito tempo sem nos falarmos eu nunca me esqueci da sua pessoa pois vc marcou a minha vida nas viagens Rio-Capivari-Rio(Recall) onde na van do Marcelo nos encontramos e tinha a honra se me sentar ao seu lado e vc me presentiou com o livro do seu amigo,Roberto Assaf, e peço à DEUS que lhe fortaleça nessa caminhada diária sem sua fiel companheira um super abração, Joaby.

laerte disse...

Sr. Roberto Porto, lhe admiro muito pelo grande conhecimento do meu querido botafogo. O amor que tenho por ele é algo inexplicável. Me lembro que na minha adolescência todos os dias juntava moedas em casa para comprar o Jornal dos sports (nosso querido cor de rosa) para ler o noticiário e em especial do meu botafogo e o sr. ssabe que época era essa? 1975/76/77...
Sofria como um condenado a cada derrota acachapante mas sempre com esperanças de vencer a máquina do horta, o Vasco do Bob Dinamite ou o Fla do Zico...
Qualquer vitória era como uma conquista de campeonato...mesmo com jogadores como Cremilson, China, Nilson Andrade< Miranda e outros eu tinha esperanças...
Digo isto porque apesar de não nos conhecermos, sinto a afinidade de sermos tão botafoguenses assim, tão apaixonados por este clube tão singular. Quero deixar aqui meu lamento tardio pela perda de sua amada como se fosse um grande amigo.

Um abraço bem alvinegro...
Laerte

Rodrigo Medeiros disse...

Amigo, Porto. Retorne à este espaço. Você faz falta e estamos todos com saudades.

Força, nobre alvinegro! Grande abraço!