quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Saudades de um grande ídolo


Infelizmente, só conheci Nílton Santos pessoalmente algum tempo depois dele encerrar sua brilhante carreira. Como homem de redação do meu sempre querido Jornal do Brasil, a cobertura do Botafogo pertencia ao repórter Sandro Luciano Moreyra (1910-1987) e, mais tarde, já no time bicampeão carioca (1967-1968) ao também repórter João Areosa Duarte. Ficamos amigos quase que por acaso. Numa resenha da antiga TV-E (hoje TV Brasil), declarei que o melhor jogador do Botafogo que vi jogar era ele, Nílton Santos. Certa vez, num jogo do Botafogo à noite, na saída do Maracanã, alguém me agarrou pelo braço e disse a seguinte frase:

- Agora, você não pode desmentir. Gravei tudo o que disse a meu respeito...

O cidadão que me segurou era simplesmente Nílton Santos.

Daí em diante foi uma festa. Encontramo-nos diversas vezes, dei carona a ele de uma solenidade na prefeitura (época de Luiz Paulo Conde) e chegamos a viajar juntos para São Paulo, onde ele seria entrevistado no programa ‘Bola da Vez’ da ESPN Brasil. Mas a mais emocionante de todas às vezes foi quando o Botafogo me chamou, em plena reunião do Conselho Deliberativo (do qual fiz parte por mais de 15 anos), para homenageá-lo. Veterano de tantas batalhas, com Nílton Santos sentado à minha frente, falei, recordei fatos de sua carreira, suas grandes vitórias no Botafogo e na Seleção Brasileira, mas acabei derrapando: como diria Nélson Rodrigues (1912-1980) chorei lágrimas de esguicho, o mesmo acontecendo com meu eterno ídolo e sua mulher, dona Célia. Foi rigorosamente impossível conter a emoção que me assaltou.

Não tive coragem de ir vê-lo no hospital. Tenho dois medos: a de tornar a me emocionar e a de Nílton Santos não me reconhecer. Por isso, foi com rigorosa surpresa que meu amigo e companheiro de profissão Maurício Thuswol, botafoguense como eu, me mandou a foto que ilustra este blog, de autoria do fotógrafo Rodrigo Queiroz (http://www.rodrigoqueiroz.art.br/) de um Nílton Santos, ainda com muita saúde, à beira de sua casa de praia, em Araruama. E não faz muito tempo que outro dos meus ídolos alvinegros, Otávio Sérgio de Moraes (1923-2009) me revelou que o apelido de Nílton Santos, entre eles, jogadores da época, era simplesmente ‘Caminhão’.

Nílton me contou a briga que teve com Heleno de Freitas (1920-1959), logo no primeiro coletivo do Glorioso, em 1948 (Heleno ainda ficaria uns meses em General Severiano e jogaria pelo menos oito partidas com Nílton Santos). Tudo aconteceu quando Nílton Santos, entre os reservas, deu seu famoso e lindo drible de corpo em Heleno e foi xingado pelo temperamental e fantástico centroavante (morto há 50 anos). Nílton Santos, sempre malandro, respondeu ao xingamento dizendo que quem sabia da vida de Heleno era Zizinho (1921-2002). Por pouco os dois não se atracaram. Quando Zizinho soube da discussão (sempre foi amigo de Nílton Santos), perguntou:

- Mas Nílton, por que você me colocou nessa história infeliz?

E Nílton respondeu de estalo:

- Porque você é meu amigo e foi o primeiro nome que veio à minha cabeça...

Dizer que não tenho gigantesca saudade de Nílton Santos seria uma mentira das grossas. Tenho sim, mais do que podia imaginar. Sinto até saudades do soco que ele deu em Armandinho Marques, em 1971, no Maracanã, trabalhando como supervisor do Botafogo. Nílton Santos atravessou o campo, depois de o Botafogo perder o título para o Atlético Mineiro (tinha que ganhar por três ou quatro a zero) e acertou Armando Marques numa foto feita por José Santos, de O Globo (foi Prêmio Esso).

Nílton Santos, hoje adoentado, pode ter certeza. Não mais precisa me segurar pelo braço nem gravar minha entrevista. Tenho certeza absoluta de que ele foi o maior jogador da história do meu tão amado Botafogo.

3 comentários:

Gil disse...

Mestre Porto,

Os ídolos deveriam ser imortais!
Só de ler os olhos marejam e fico imaginando a tua emoção ao relatar.

Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!

Camila Augusta disse...

Quanta coisa boa hoje Porto!
Emocionante... como queria ter visto o grande Nilton em campo!
Amigo, continue postando belas recordações como estas, só assim nos esquecemos desse timeco que temos em campo hoje.
Saudações.

Blog do Vascão disse...

Bonita história Roberto, você é feliz pois pode acompanhar seus ídolos de perto, sem dúvidas Nilton Santos foi um gênio da bola.

Abraço
Jeferson