sexta-feira, 11 de junho de 2010

Um time que sabia o que fazer


Minha máquina do tempo é infalível. E é a bordo dela, nesses tempos de um Botafogo que toma gols incríveis, que desembarco no Maracanã (145 mil pagantes), na tarde de 15 de dezembro de 1962, para assistir à final do Campeonato Carioca daquele ano entre Botafogo e Flamengo. Para os mais jovens, que não têm a obrigação de conhecer todos os jogadores do Glorioso – que precisava da vitória porque estava um ponto atrás do Tinhoso, também chamado de clube da beira da Lagoa – vamos à tradicional identificação, explicando, que o time, nessa tarde, tinha três desfalques.

Então vamos lá: da esquerda para a direita, de pé, Paulistinha (no lugar do titular Joel Martins), Manguinha, Jadir (no lugar de Zé Maria), Nílton dos Santos, Aírton Povil e Rildo da Costa Menezes; agachados, na mesma ordem, Manoel (Garrincha) dos Santos, Edson (Praça Mauá) de Assis Pinto (nos lugares de Didi ou Arlindo), Valdir (Quarentinha) Cardoso Lebrego, Amarildo Tavares da Silveira e Mário Jorge Lobo Zagallo. Apenas para começar nosso aquecimento, diria que esse era um time que sabia o que fazer para matar a pau seus adversários – principalmente o Tinhoso.

Como jogava essa equipe, mesmo desfalcada de jogadores como Joel Martins (lateral direito), Zé Maria e Didi ou Arlindo? Em campo, o técnico Marinho Rodrigues, que não inventava e que anos atrás fora um dos campeões de 1948, escalava Manguinha, Paulistinha, Jadir, Nílton dos Santos e Rildo (um verdadeiro carrapato); Aírton, Édson e Zagallo; Garrincha, Quarentinha e Amarildo. Em minha opinião, faço questão de dizer, nesse dia 15 de dezembro de 1962, Garrincha fez sua última exibição extraordinária, marcando dois gols e provocando o terceiro dos 3 a 0.

A estratégia de jogo era simples e foi aplicada inúmeras vezes. O Botafogo começava a atacar pela esquerda, trocando bolas entre Zagallo, Nílton Santos e Amarildo quando, de repente, invertia o jogo para o pivô Aírton. Este, sempre de meias arriadas, invertia o ataque para a direita, pegando Garrincha com um único e escasso marcador, no caso Jordan, ou Gérson Nunes. Aí, amigos, era o caos completo e absoluto. Mané engolia os dois, fez um gol logo de saída, obrigou Vanderlei a meter o nariz na bola e fazer o segundo e fechou o caixão rubro-negro no segundo tempo.

A jogada do terceiro gol foi fascinante. Como sempre atacando pela esquerda, Zagallo tocou para Amarildo (que estava atuando sem condições físicas, com início de distensão) e recebeu de volta. Fugindo às suas características, Zagallo foi até a linha de fundo e cruzou alto sobre a área, na altura da marca do pênalti. Foi aí que Quarentinha aplicou uma tesoura voadora avassaladora, fazendo a bola estourar no peito do goleiro Fernando. E aí, Garrincha, livre, quase em cima da linha do gol, só fez empurrar a bola para as redes. Botafogo bicampeão carioca de futebol.

E para os aficcionados, aí vão detalhes da partida: Botafogo – Manga, Paulistinha (já falecido), Jadir, Nílton Santos e Rildo; Aírton, Édson e Zagallo; Garrincha, Quarentinha e Amarildo; Flamengo – Fernando, Joubert, Vanderlei, Décio Crespo e Jordan; Carlinhos, Nelsinho e Gérson; Espanhol, Dida e Henrique. Juiz: Armandinho Marques, que expulsou de campo, no finalzinho, Paulistinha e Dida.

(*) Será que vale a pena cantar para o time atual do Botafogo o sucesso do conjunto ‘Calcinha Preta’? ‘Você não vale nada mas eu gosto de você...’

4 comentários:

Enéias Teles Borges disse...

Mestre,

Pelo menos, para nós, temos a esperança de um time pelo menos 50% daquele. Vencemos o Flamengo e temos Jóbson e Maicosuel está de volta, não é?

Abraços.

Gil disse...

Mestre Porto,

Não sei se entenderás, mas tenho uma inveja danada por não ter presenciado esses anos dourados.
Sonho, desesperadamente, um dia, presenciar algo parecido.
Nos meus 53 anos de vida, uma das coisas que mais desejo e espero é que os Deuses Botafoguenses permitam-me ver algo parecido.

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Chico da Kombi disse...

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Botafogo ontem, hoje e eternamente.

FORÇA FOGÃO!

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Sandro. disse...

Não sabia desta escalação. Sem o grandioso Didi, 3x0 ao natural. Pergunto, pq Didi ou Arlindo? E onde estava Paulinho Valentim? Rildo era mesmo um grande lateral e Nilton Santos era um craque da posição, ao ponto que ia para a zaga com muita naturalidade. Ademais da conta, qualquer time com Manguita, Nilton Santos, Amarildo o possesso, Quarenta e Garrincha, não pode ser qualquer coisa menor que campeão. E de prefer~encia, por goleada! heheheh