sábado, 25 de abril de 2009

Roberto executa o Mais Querido

Naquele distante domingo, 13 de dezembro de 1964, o Botafogo, embora dono de um excelente elenco, pouco ou nada tinha que fazer diante do Mais Querido, campeão carioca do ano anterior. O Glorioso, a rigor, o mais que podia era derrotar o adversário e deixar o título para ser decidido apenas entre Bangu e Fluminense numa melhor de três. Havia, porém, um motivo sentimental à parte: Nílton Santos decidira que aquela seria sua última partida oficial pelo Botafogo no Maracanã, já que havia uma outra, amistosa, para cumprir na Bahia, por força contratual. Aos 39 anos, Nílton, atuando como quarto zagueiro, já não sentia motivação para seguir em sua jornada.

Antes do início da partida, o Simpaticíssimo ofereceu uma salva de prata a Nílton Santos, como homenagem à sua vitoriosa carreira, iniciada em 1948, como lateral-esquerdo de um time que entrou para a história do Botafogo. O encarregado de entregar a salva de prata a Nílton Santos foi o jornalista-empresário Drault Ernani Filho, rubro-negro mais do que ferrenho. Drault, inclusive, foi de uma infelicidade à toda prova no momento em que ele e Nílton saíam juntos do gramado, pois o jogador iria entregar o troféu no túnel alvinegro. E, sabendo que o jogo seria decisivo para as pretensões de seu clube, disse uma frase que Nílton Santos considerou ofensiva:

— Veja lá o que você vai fazer em campo hoje, Nílton...

Nílton Santos foi curto e grosso em sua resposta:

— Vá lá para a tribuna que você vai ver...

O jogo, é bom que se diga, foi duro, com oportunidades de parte a parte. O Mais Querido – que ainda não tinha os 33 supostos milhões de torcedores que Zico hoje apregoa – lutava para ter possibilidades de conseguir o bi. O Botafogo, para variar em seus confrontos com o rubro-negro, apenas para arruinar a festa. Aos 23 minutos do segundo tempo, na baliza à direita das tribunas, houve uma falta na lateral-direita do ataque alvinegro. Mura apresentou-se para cobrar e levantou um centro alto sobre a área. Roberto Miranda, ao lado de Jairzinho, tocou de cabeça no cantinho direito de Marcial, sem chance de defesa. Botafogo 1 a 0.

Estava feita a maldade. O Mais Querido foi pro espaço.

Naquele lance, que provocou uma alegria incontida de dois então jovens atacantes – Roberto e Jairzinho (foto) – acabara definitivamente o sonho do bicampeonato. Se o Mais Querido ganhasse, seria campeão; se empatasse, iria para uma melhor de três, com Fluminense e Bandi. O título carioca ficou com o Fluminense, que contava, entre seus artilheiros, com José Amoroso Filho, cria do Botafogo e campeão carioca de 1961 pelo clube.

Mas a história não terminou aí, pelo menos para Nílton Santos, apesar de sua vitoriosa despedida. Carlito Rocha (1894-1981) deixou de falar com seu jogador preferido. Anos mais tarde, a bordo de um avião a caminho de São Paulo, Nílton me confessou o seguinte:

— Estou convencido de que seu Carlito parou de falar comigo só porque não avisei a ele que iria parar de jogar naquele dia. Não há outra explicação possível. Fiquei magoado, mas depois que ele morreu, sempre defendendo o seu Botafogo – referia-se à perda de General Severiano para a Vale do Rio Doce – consegui entender sua frustração. Afinal, se joguei 17 anos com a camisa alvinegra, ele foi o principal responsável.

Em 1965, já com o Mais Querido campeão carioca, o Glorioso tornou a pregar uma peça em seu adversário preferido. Venceu por 1 a 0 e, como dizem os torcedores, botou água no chope das comemorações. Mas essa história fica para um próximo blog, OK?

11 comentários:

Anônimo disse...

O FLAMENGO FOI E SEMPRE SERA O MAIOR ADVERSARIO DOS RIVAIS NO RIO
PORQUE COM CERTEZA É O MAIS DIFICIL (QUASE IMPOSSIVEL) DE SER BATIDO.
É BOM LEMBRAR QUE ELE TEM SUPERIORIDADE DE VITORIAS SOBRE TODOS O FREGUESES.
E PRA NOSSA FELICIDADE NAO TEMOS QUE FICAR LEMBRANDO DE CONQUISTAS A 30,40 OU 50 ANOS ATRAS (92,2007,2008,2009)
SAUDAÇOES RUBRUNEGRAS

Malu Cabral disse...

Essa história é fantástica! E vem bem a calhar com o jogo de amanhã.

E SEREMOS CAMPEÕES!!!

Porto não sai daqui e continua no Blogsport.

Beijo, Mestre!

Malu Cabral disse...

abril 25. 2009 10:08


Grande Porto, Botafoguenses na imprensa estão em falta...
A luta é desigual, mas domingo irei ao maior do mundo com a certeza que pelo menos lutaremos e honraremos a gloriosa camisa alvinegra.

Queria que voce dissesse as suas impressões sobre o título perdido de 1969 e o Flamengo e Botafogo de 1968 do returno.
Meu pai dizia que foi um dos maiores shows de bola que Gerson e cia. deram no maracanã.

Abraços
MAM | mamwho@gmail.com | 201.29.162.161 | Apagar

abril 25. 2009 16:03


Mestre Porto,
Mais um belo espaço para você nos presentear com as histórias do GLORIOSO!
Parabéns!
Abs e SA!!!
rodrigo federman | rodrigo.federman@uol.com.br

MAM disse...

Grande Porto, Botafoguenses na imprensa estão em falta...
A luta é desigual, mas domingo irei ao maior do mundo com a certeza que pelo menos lutaremos e honraremos a gloriosa camisa alvinegra.

Queria que voce dissesse as suas impressões sobre o título perdido de 1969 e o Flamengo e Botafogo de 1968 do returno.
Meu pai dizia que foi um dos maiores shows de bola que Gerson e cia. deram no maracanã.

Abraços
MAM

Jaques Fernandes disse...

comecei a torcer com esse time - rogério, roberto, jair e paulo césar, o melhor ataque do mundo. tinha tambem gerson, ney conceição, leônidas, manga, cao, zequinha, carlos roberto, valtencir etc

Anderson disse...

O Anônimo disse "Rubru" negro. rsrs
se nem eles sabem escrever a forma carinhosa de chamar o timinho deles.
Aqui em casa todos são botafoguenses.

Thiago Mello disse...

Uma Honra! Só tenho isso a dizer!

Anônimo disse...

NAS ULTIMAS FINAIS COM CERTEZA NAO É O MAIS QUERIDO QUE TEM BEBIDO AGUA COM CHOOP
SRN

Luiz Rogério disse...

Porto,

Essas histórias são ótimas!

Valeu!!!!

* Não existem blogs dos torcedores do framengu?

Saudações Alvinegras!!!
... e ninguém cala!

Luiz Rogério

Anônimo disse...

Amigo Roberto Porto, é muito bom poder participar deste blog - talvez seja o mais democrático pois foi utilizado até mesmo por um analfabeto flamenguista (veja como ele escreve sua "saudação") - de quando em vez escrevo algumas linhas neste espaço para os botafoguenses. Não tive mais coragem para ler o blog depois da decisão da taça rio. Foi muita desilusão para um dia só. Não quis nem assistir ao jogo de hoje (26/04). Só fiquei sabendo do resultado agora há pouco. Só queria lhe fazer uma pergunta, mas não precisa responder, se não quiser: Você acha que houve um acordo entre os dirigentes do Botafogo e os daquele outro time(?) para ter mais dois jogos, a fim de poder pagarem os salários dos "rubrunegros"? Foi nisto que pensei a semana toda. Um abraço.

Anônimo disse...

Olha, moro em Sampa e percebo que a paulistada desdém do Campeonato Carioca pelo simples fato que a gatunagem corre solta e o framengu é sempre campeão com a ajuda do apito amigo. É um campeonato sempre decidido nos bastidores, criando uma atmosfera de desconfiança e perda de prestigio.