quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Uma história quase cabeluda


A história que hoje lhes vou contar não é bem uma história cabeluda. Mas digamos que seja mal depilada e envolve dois personagens desse timaço da foto de 1960. Nele, é óbvio, falta Paulo Valentim (1932-1984), que já começava a fazer sucesso absoluto no Boca Juniors.

Mas vamos deixar esses prolegômenos de lado e caminhar direto aos fatos que são a mais pura expressão da verdade, somente a verdade, e me foram revelados, em grande parte por um de seus personagens, nada menos do que Nílton dos Santos.

No início dos anos 50, à noite, Nílton caminhava pela Rua Cândido Mendes, na Glória, em direção a uma famosa, digamos como Ancelmo Góes, ‘casa de saliências’. De repente, surgiu uma carona.

Ao volante de um carro da época, de segunda mão, eis que Valdir Pereira (1928-2001), o Didi, jogador do Fluminense, decidiu dar uma ajuda a seu adversário alvinegro, dos primeiros duelos entre os dois clubes no Maracanã.

Começou aí, no caminho para a ‘casa de saliências, uma sólida amizade entre os dois que foi se reforçando durante os anos seguintes, primeiro nas seleções brasileiras de 1952 e 1954, depois, a partir de 1956, no Glorioso.

Empurrado pelo destino, Didi conheceu Guiomar (1930-2002), ajudante, vestida de Odalisca, de Ary Barroso (1903-1968) no programa ‘Calouros em Desfile’ da TV Tupi.

Não é segredo que Ary tinha uma paixonite por Guiomar e, quando ela se foi com Didi, ele, atordoado, escreveu o samba-canção ‘Risque’ (‘Risque, meu nome de seu caderno, pois não suporto o inferno de nosso amor fracassado...’). O samba, por sinal, fez sucesso.

Na Copa do Mundo de 1954, na Suíça, o autoritário Zezé Moreyra (1907-1998) isolou os jogadores da Seleção Brasileira na concentração de Macolin e não permitia ‘passeios’ ou ‘voltinhas’ por Lausanne. E Didi queria telefonar para Guiomar, no Rio.

Resultado: inconformado, decidiu fazer greve de fome e ficar trancado no quarto. Mas o amigo Nílton dos Santos ficou preocupado. E no almoço e jantar escondia comida no uniforme e alimentava o companheiro, que ele, Nílton, achava um craque.

Três anos depois, a 22 de dezembro de 1957, Paulo Valentim mal acabara de marcar o quarto gol do Botafogo, na decisão do título com o Fluminense, quando Telê Santana (1932-2006) chamou Nílton e Didi e disse a eles:

- Tudo bem, vocês já são campeões (o jogo estava 4 a 1), mas me façam um favor: peçam ao Garrincha (1933-1983) para acabar com aquele carnaval que ele está fazendo pela direita, desmoralizando o Fluminense.

Garrincha não acabou de fazer seu carnaval, marcou o quinto gol e deu o sexto para Paulo Valentim fazer, selando a vitória de 6 a 2, recorde absoluto em decisões de campeonatos cariocas.
Mas Telê não sossegou e foi tirar satisfações com Didi. Os dois discutiram e trocaram pontapés sem que o juiz visse. Garrincha, é óbvio, não dera a menor bola para o pedido de Nílton e Didi.

O epílogo dessa história me foi contado pelo próprio Telê, nas areias do Leme. Ficamos amigos, corríamos juntos pelo calçadão e depois dávamos um mergulho. E aí, ao sol, vinham histórias e mais histórias.

(*) Só para não dizer que não falei de outras glórias: Nílton e Didi foram bicampeões do mundo em 1958 e 1962 com a Seleção Brasileira.

5 comentários:

Anônimo disse...

Porto,

Quando leio histórias como essa, uma coisa estranha acontece.
Nunca conseguiria imaginar o nosso glorioso Nilton Santos indo a uma "casa de saliência".
Deve ser porque pra mim (e pra todos os botafoguenses) ele é um deus. Um deus vivo.

Mas aí temos que lembrar que os gregos já nos ensinaram, a milhares de anos atrás, que os deuses também pecam.

grande abraço

Alejandro Abiusi

Roberto Porto disse...

Caro botafoguense Alejadro:
Imaginou Garrincha fazendo aquele filho na Suécia em 1959?E pela grade? Não é pecado, não...É instinto humano...

Saudações Botafoguenses
Roberto Porto

Anônimo disse...

Como é bom ler seus relatos outra vez, Roberto Porto...
Meu pai, então com 11 anos, esteve neste jogo. Nem preciso dizer o que aconteceu depois...
Eu, meu irmão e agora a minha filha já nascemos botafoguenses. E acredito que este 22/12/1957, foi o começo de tudo.
Só o Botafogo mesmo.
Para finalizar, eis uma pequena matéria que vi navegando pela internet:

"Adriano Galliani, o homem-forte de Berlusconi no Milan demonstrou erudição sobre o futebol brasileiro ao afirmar que o único eventual reforço para a retaguarda do clube italiano seria Nilton Santos, que disputou quatro copas do mundo e ficou conhecido como a enciclopédia do futebol"

Saudações

André Lira

Luiz Rogério disse...

Porto,

Você poderia presentear a imensa torcida botafoguense com um livro sobre histórias do futebol ligadas ao Botafogo, seria sensacional!

Muito interessante o post de hoje!

Um abraço.

Saudações Alvinegras!!!

Luiz Rogério

Anônimo disse...

Perdão pelo comentário/pergunta atrasado(a), mas o centro avante deste time me parece o Amoroso e não Paulinho Valentim. Estou certo? Parabéns pelo blog. Grandes histórias do nosso Botafogo.