sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Uma transação (quase) mafiosa



O que há de interessante nesta foto do time do Botafogo em 1988?

Aparentemente nada, rigorosamente nada, certo?

Mas vamos à tradicional identificação: de pé, da esquerda para a direita, Ricardo Cruz, Wilson Gottardo, Josimar, Mauro Galvão, Luisinho Quintanilha e Renato; agachados: Helinho, Delei, Cláudio Adão, Paulo Criciúma e Gilmar.

Mas vamos ao que interessa. O então presidente do clube, Emil Pinheiro (1923-2001) me contou, certa ocasião, em sua sala na sede do Mourisco, pois General Severiano ainda pertencia à Vale do Rio Doce, como conseguiu reforçar a equipe para o Campeonato Carioca.

Castor de Andrade (1926-1997), presidente de honra do Bangu, estava precisando de dinheiro vivo – não me perguntem a razão. Emil aproveitou a oportunidade e fez a ele uma proposta:

daria a Castor 100 mil dólares mas, em troca, queria os passes de Marinho (ponteiro-direito), Mauro Galvão, Cláudio Adão e Paulo Criciúma. Para surpresa de Emil, Castor topou a parada e os dois marcaram um encontro para a Cabana da Serra.

Já era noite alta quando os dois, em carros de luxo e cercados por seguranças armados, pegaram a Grajaú-Jacarepaguá e desembarcaram no restaurante, àquela hora totalmente vazio. Emil abriu uma maleta e colocou em cima da mesa os 100 mil dólares em notas de 100, com a efígie de Benjamim Franklin (1706-1790), estadista dos Estados Unidos.

Mas Castor – me garantiu Emil Pinheiro – era, digamos na gíria, mordido de cobra. Por isso, de repente, chamou um auxiliar mais qualificado e colocou na mesa uma maquineta que garantiria a autenticidade das cédulas. E lá ficou Emil à espera que todos os 100 mil dólares passassem incólumes pela maquineta de Castor. Só então, concretizou a transação.

Pela escalação do time, em campo, vocês, que acompanham este blog, verão que Emil acertou em cheio, embora endividasse a pessoa jurídica Botafogo. O time acima atuava com Ricardo Cruz, Josimar, Mauro Galvão, Wilson Gotardo e Renato; Luisinho Quintanilha, Delei e Paulo Criciúma; Helinho, Cláudio Adão e Gilmar. Estava formada a base que acabaria com a escrita de 20 anos sem conquistar um título, o que ocorreria logo no ano seguinte.

O dinheiro de Emil Pinheiro vinha do jogo do bicho? Claro que vinha. Mas a torcida não estava nem aí para isso. Queria, como ocorreu, que o amado Botafogo saísse do atoleiro onde estava e conquistasse títulos, o que ocorreu duas vezes seguidas, em 1989 e 1990.

Castor de Andrade e Emil Pinheiro já se foram deste mundo. Mas Bangu e Botafogo – por pior que tivessem suas finanças abaladas após a saída deles – escreveram seus nomes na história do futebol carioca (Bangu campeão de 1966 e finalista em 1967).

8 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa essa história!

Luiz Rogério disse...

Roberto,

Parabéns! Mais uma vez nos presenteou com uma história interessante sobre o nosso amado Botafogo.

Aquele ano de 1988 foi de muita espectativa, muitas contratações, bons valores foram colocados no clube e outros com raizes alvinegras foram colocados de lado.

Nessa foto vejo o Helinho, bom ponta de direita, rápido e arisco, que, por mim, merecia estar no elenco campeão de 1989.

Na minha opinião o Helinho jogava muito mais do que o Mazolinha por exemplo.

Me lembro que na segunda passagem do Maurício pelo Botafogo, se não me engano ele veio do América em 2006 e em 2007 foi emprestado ao Internacional, ele sofreu um pouco com a torcida, pois muitos torcedores, incluindo eu, reclamavam a saída do Helinho.

Valeu pela lembrança e pela ótima história!

Um abraço.

Saudações Alvinegras!

Luiz Rogério

Anônimo disse...

Essas histórias todas merecem um livro...

Guilherme disse...

Luiz Rogério, se vc me permite vou te corrigir o Maurício veio em 1986 e foi emprestado ao Inter-RS em 1988, fazia parte daquele time vice-campeão Brasileiro que perdeu para o Bahia.

Anônimo disse...

ESSE TIME FORMOU A BASE DO CAMPEÃO DE 89, A DIFERENÇA DESSE GRUPO DE 88 PARA O RECÉM-FORMULADO ELENCO DE 2009 E A FALTA DE UM JOGADOR EXPERIENTE, NAQUELE DE 89 TÍNHAMOS O GLAVÃO NA ZAGA, O PAULINHO CRICIÚMA NO MEIO E O MAURÍCIO NO ATAQUE. O ATUAL ELENCO TEM MUITOS JOGADORES NOVOS E NENHUM GRANDE NOME DE EXPERIÊNCIA, MAS ESPERO QUE A EXEMPLO DE 88, ESSE GRUPO FORME A BASE DE UM TIME CAMPEÃO.

BYTES QUE EU GOSTO disse...

O Cláudio Adão já estava velho e fora de forma nesta época fez pouquíssima coisa no Botafogo

Esse time é inesquecivel para qualquer torcedor..Foi a base para o título de 89.
Lembro que no meio de surgiu um excelente cabeça de área chamado Carlos Alberto Santos, que o Zico levou para o Japão.

Emil Pinheiro tinha visão do futebol, muito mais do que estes cartolas de hoje. Teríamos ganho aquela final de 92 se não fosse alguns moleques daquele time.

MARCELO SANTOS disse...

EITA SAUDADE... A BASE DE 89..

Unknown disse...

Mais uma grande história revelada pelo saudoso e inesquecível Roberto Porto. Prezado Luiz Rogerio, apenas para esclarecer, o Helinho ponta direita, excelente jogador por sinal e muito bom caráter, recebeu uma proposta irrecusável do Grêmio no final de 1988 e, apesar do pedido do Valdir Espinosa para que ficasse, infelizmente para o Botafogo ele saiu, posto que era uma oportunidade ímpar na sua carreira. Fraterno abraço à todos. Saudações alvinegras!