Com a morte, ontem em Salvador, do zagueiro Juvenal Amarijo, não sobrou ninguém entre os titulares da amaldiçoada Seleção Brasileira que perdeu do Uruguai (2 a 1) a final da Copa do Mundo de 1950, no Maracanã. O time, escolhido pelo técnico-ditador Flávio Costa (1906-1999), que orientava o Vasco da Gama, era Moacir Barbosa (1921-2000), Augusto da Costa (1922-2004), Juvenal Amarijo (1923-2009) e João ‘Bigode’ Ferreira (1922-2003); Danilo Alvim (1921-1996) e José Carlos Bauer (1925-2007); Manoel ‘Maneca’ Marinho (1926-1961) ou Albino Friaça (1924-2008), Thomaz ‘Zizinho’ Soares da Silva (1921-2002), Ademir Menezes (1922-1996), Jair Rosa Pinto (1921-2006) e Francisco (‘Chico’) Aramburu (1923-1997).
Que todos descansem em paz é o que desejo sinceramente.
A foto que ilustra este triste blog mostra, pela ordem, no Maracanã lotado, de pé, da esquerda para a direita, Barbosa, Augusto, Juvenal, Bauer, Danilo, Bigode; agachados, na mesma ordem, Friaça (substituto de Maneca), Zizinho, Ademir, Jair e Chico. De todos eles, guardo na lembrança a figura risonha e sempre alegre de Ademir, que tinha uma coluna no jornal ‘O Dia’. Como não sabia escrever do ponto de vista jornalístico, Ademir contava um de seus casos para o excelente jornalista Hideki Takizawa, que verdadeiramente redigia a coluna – muito lida por sinal.
Eu não trabalhava na Editoria de Esportes de ‘O Dia’, mas me sentava ao lado, como responsável pelo noticiário nacional (política de Brasília) e internacional. E foi assim que fiz amizade com Ademir. O ‘Queixada’ logo percebeu que eu conhecia futebol e quando sua memória falhava, para relatar um fato novo a Hideki, apelava para mim, sem a menor cerimônia mas com uma incomensurável simpatia:
- Roberto, hoje estou com a memória fraca. Me conte uma história vivida por mim...
Nunca fui Vasco nem tampouco Fluminense (clube pela qual Ademir jogou em 1946 e 1947). Mas Ademir era um de meus ídolos pelo futebol e pelos gols que marcava. E muitas vezes o salvei relatando um de seus feitos, sempre afugentando a maldita derrota de 1950. Me recordo de que, certa ocasião, fiz com que Ademir passasse a Hideki uma história na concentração do Vasco, quando ele, de molecagem, encheu o prato de Heleno de Freitas (1920-1959) de cebolas. Heleno detestava cebolas e fez um pequeno escândalo, atirando o prato na parede.
Ademir adorou a lembrança.
Hoje, 59 anos depois da Copa de 1950, percebo que o Brasil jogou sempre errado. Não vou criticar os três zagueiros – Augusto, Juvenal e Bigode – porque era assim que se jogava na época. Mas os homens de meio-campo, Bauer, Danilo, Zizinho e Jair não marcavam rigorosamente ninguém. E tem mais: no esquema do ‘Professor’ Flávio Costa, o Brasil jogava com dois pontas abertos (Maneca ou Friaça) e um centroavante, Ademir, enfiado entre os zagueiros adversários. Resultado: ficava um enorme buraco entre Juvenal e Augusto e Juvenal e Bigode.
E vejam que Flávio Costa teve três oportunidades seguidas de enfrentar o mesmo Uruguai pela Copa Rio Branco. Perdeu o primeiro jogo no Pacaembu por 4 a 3, venceu apertado por 3 a 2 em São Januário e levantou o troféu com a magérrima vitória por 1 a 0, também em São Januário, tudo isso às vésperas da Copa do Mundo, já em 1950. Em poucas e resumidas palavras, Flávio sabia como o Uruguai jogava.
Por tudo isso, num curso que dei na UniverCidade sobre Jornalismo Esportivo, com o já falecido companheiro Fernando Horácio da Matta, custei a entender a frase de Zizinho aos alunos. Usando de rigorosa autenticidade, Zizinho disse o seguinte:
- Naquele 16 de julho de 1950, se eu pudesse escolher um time para jogar, optaria pelo do Uruguai...
Vida que segue. Sob as vistas de Mário Jorge Lobo Zagallo, que, soldado, fazia segurança do Exército nas tribunas do Maracanã, a Seleção Brasileira de 1950 já não mais existe.