quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Os mortos da ‘Batalha de Berna’

A Hungria, sob o regime comunista, chegou em 1954 ao Mundial da Suiça como favorita absoluta para conquistar o título. Campeões olímpicos de 1952, em Helsinque, Finlândia, os húngaros, no ano seguinte, deram um verdadeiro baile na Inglaterra, em Wembley (6 a 3), diante de 100 mil espectadores.

Na revanche, em Budapeste, foi pior: o time dos craques Ferenc Puskas, Sandor Kocsis, Zoltan Czibor e Jozef Bozsik aplicou nos ingleses a histórica goleada de 7 a 1. Fora os húngaros, como forças secundárias, apareciam na Suiça, que jogava em casa, o Uruguai (campeão mundial em 1950), e o Brasil (campeão Pan-Americano de 1952), sob a direção de Zezé Moreyra (1907-1998).

Dos derrotados pelos uruguaios em 1950, Zezé Moreyra praticamente não levou ninguém entre seus jogadores titulares, formando uma equipe com Carlos Castilho, Djalma Santos, Pinheiro e Nílton Santos; Brandãozinho e José Carlos Bauer (remanescente de 50); Julinho Botelho, Didi, Baltazar, Pinga e Rodrigues, que carregava com ele o apelido de Rodrigues Tatu. A Seleção Brasileira estreou goleando o fraquíssimo México por 5 a 0 e, logo depois, empatou em 1 a 1 com a Iugoslávia da época, não tão dividida em vários países como hoje.

Mas a famosa ‘Batalha de Berna’ acabou definida por sorteio para o terceiro jogo. O clima em Macolin, nas cercanias de Lausanne, foi o pior possível quando todos souberam que iriam enfrentar a Hungria. Ainda garoto de colégio, me recordo de ter ouvido no rádio uma frase histórica de Pinheiro a respeito do sorteio:

- É, agora vai ser difícil...Vamos ter que enfrentar os húngrios (sic)...

Poucos sobraram vivos daquela partida disputada sob tensão no Wankdorf Stadium, em Berna. O Brasil, com a equipe alterada, jogou com Castilho (1927-1987), Djalma Santos (1929), Pinheiro (1932) e Nílton Santos (1925); Brandãozinho (1925-2000) e José Carlos Bauer (1925-2000); Julinho (1929-2003); Didi (1928-2001), Índio (1931), Humberto Tozzi (1934-1980) e Maurinho (1933-1995). A Hungria, que venceu por 4 a 2 e eliminou o Brasil, colocou em campo Gyula Grosics (1926), Jeno Buzansky (1925) e Mihaly Lantos (1928-1989); Gyula Lorant (1923-1981), Jozsef Bozsik (1925-1978) e Jozsef Zakarias (1924-1971); Joszef Toth II (1929), Sandor Kocsis (1929-1979), Nandor Hidegkuti (1922-2002), Mihaly Toth (1926-1990) e Zoltan Czibor (1929-1997).

Pelo Brasil, não jogaram Baltazar (1926-1993), Pinga (1924-1996) e Rodrigues Tatu (1925-1988) e, pela Hungria, Ferenc Puskas (1927-2006) e Laszlo Budai II (1928-1983). Os cronistas da época disseram que Baltazar, Pinga e Rodrigues fugiram da raia, com medo da Hungria.

Correu, inclusive, o boato que na concentração de Macolin eles teriam ingerido tubos de pasta de dentes para alegar diarréia no dia da partida. Puskas não pôde jogar pois foi covardemente atingido no tornozelo pelo alemão Liebrich, nas oitavas-de-final, quando a Hungria venceu por 8 a 3. Mancando e poupando-se, Puskas só voltou para disputar a final, que a Alemanha Ocidental venceu por 3 a 2 e conquistou seu primeiro título mundial. A arbitragem do inglês William Ling foi considerada suspeita, pois anulou um gol legítimo de Puskas, no segundo tempo. Em meio à chamada ‘Guerra Fria’, comentou-se na época que a Hungria, país ‘satélite’ da antiga União Soviética, não poderia jamais ser campeã do mundo, pois premiaria o comunismo, vigente em vários países do Leste Europeu.

Ao final de Hungria x Brasil, houve um tumulto generalizado nos vestiários, um ao lado do outro. O Brasil teve Nílton Santos e Humberto expulsos, enquanto a Hungria teve somente Boszik. Daí vem o apelido de ‘A Batalha de Berna’ Dessa verdadeira guerra campal, pelo Brasil restam quatro vivos: Djalma Santos, Pinheiro, Nílton Santos e Índio. Pela Hungria, só sobraram três, Grosics, Buzansky e Toth II. Ambas as seleções tiveram suicidas: Castilho, pelo Brasil, e Kocsis, pela Hungria.

Após o Mundial, Nélson Rodrigues (1912-1980) gozava seu colega de resenha esportiva Armando Nogueira, que vira na Hungria um time imbatível. Quando queria provocar Armando, Nélson dizia simplesmente ‘A Seleção Húngara do Armando Nogueira’, como que insinuando claramente que não havia equipe tão brilhante assim.

(*) Na foto, perfilados, no dia do jogo, cantando o Hino Nacional, estão, da esquerda para a direita, Índio, Didi, Humberto, Maurinho, Djalma Santos, Brandãozinho, Nílton Santos, Pinheiro, Julinho, Castilho, Bauer e o massagista Mário Américo, verdadeiro ‘papagaio de pirata’ nas fotografias do Brasil.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Glorioso na reta de fazer 100 anos

Fundado a 12 de agosto de 1904, no Largo dos Leões, o Botafogo Footbal Club esperou 48 longos anos para se fundir com o Club de Regatas Botafogo, criado em primeiro de julho de 1894, na Praia de Botafogo. Segundo João Saldanha (1917-1990), essa demora de quase meio século perdurou porque o Regatas – proprietário da estrela solitária, que não é estrela e sim o planeta Vênus – estava repleto de tricolores. Por fim, a oito de dezembro de 1942, como o Regatas andava mal das pernas (ou dos remos) uniu-se ao Football, originando o Botafogo de Futebol e Regatas de hoje, que agora, em 2010, caminha para completar bem vividos (e sofridos) 68 anos de vida.

Mas e os 100 anos do apelido de O Glorioso, como surgiu?

Surgiu em 1910, quando o Botafogo Footbal Club cumpriu uma campanha excepcional no Campeonato Carioca, conquistando o título depois de golear o Fluminense por 6 a 1, a 25 de setembro daquele ano, faltando ainda uma partida a ser cumprida diante do Hadock Lobo, igualmente fuzilado por 11 a 0. O time campeão de 1910 – que recebeu o apelido de O Glorioso – está aí na foto que ilustra este blog: Coggin (os goleiros só usariam camisas diferentes a partir de 1912), Pullen e Dinorah de Assis; agachados, Rolando, Lulu e Lefèvre; e sentados, Emanoel, Abelardo, Décio, Mimi Sodré e Lauro, que tiveram 10 jogos, nove vitórias e uma única derrota.

Mas fica a pergunta: quem apelidou o Botafogo de O Glorioso?

Para Alceu Mendes de Oliveira Castro, que escreveu a bíblia alvinegra ‘O futebol no Botafogo – 1904/1950’, foi a imprensa esportiva da época. Mas ele não cita um autor. O fato é que na década de 40, o compositor (torcedor do América) Lamartine Babo (1904-1963) incorporou o apelido Glorioso no que é hoje o hino oficial do clube – que me arrepia até hoje quando por acaso o ouço – e que a torcida canta nos jogos.

Mas o Botafogo é assim mesmo, cheio de idas e vindas, muitos erros e alguns acertos e até já freqüentou a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Vocês, que me acompanham neste blog alvinegro talvez não saibam, mas o Botafogo é tão imprevisível – e até chegado à loucuras – que, após a fusão e a adoção do mais belo escudo do mundo (eleito por diversas revistas internacionais) decidiu estrear as novas camisas (já com a estrela solitária) num simples treino coletivo no dia 19 de janeiro de 1943. Pode? Pode. No Botafogo tudo pode. Por isso, Augusto Frederico Schmidt disse a Santhiago Dantas (ambos alvinegros) que o Botafogo teria a vocação do erro.

João Saldanha era mais simples. Dizia que o Botafogo é um campo e duas balizas. Com toda a sua experiência no clube, será que João Sem Medo estava errado?

Vamos agora esperar que, neste ano de 2010 que está chegando, o departamento de marketing do clube faça uma grande promoção dos 100 anos do Glorioso. Mas, por favor, não confundam os 100 anos do Glorioso com a data de fundação do clube, que já ultrapassou em muito essa data, e que a 12 de agosto estará fechando 106 anos.

E tenham todos a mais absoluta e convicta das certezas de que João Saldanha, até morrer, sempre teve certa implicância com o Regatas, apesar da bela estrela solitária, do lindo escudo que foi originado da fusão e do belo nome Botafogo de Futebol e Regatas.

O motivo: já disse acima: ele achava que o Regatas estava cheio de tricolores. E chegava a citá-los, mas não estou autorizado a revelar aqui quem era ou não era torcedor do Fluminense. Que vocês, leitores, principalmente os veteranos, tentem descobrir quem era adepto do mais que famoso Pó de Arroz das Laranjeiras.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Gigghia, o último vivo da façanha de 50

No último dia de outubro ainda deste ano de 2009, publiquei neste blog a foto do time do Brasil que disputou a final do Mundial de 1950, contra o Uruguai, a 16 de julho daquele ano, no Maracanã. Todos, do goleiro Barbosa ao ponteiro-esquerdo Chico já deixaram este mundo. O último deles foi o zagueiro-central Juvenal Amarijo, que faleceu este ano. O time da decisão era Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair Rosa Pinto e o já citado Chico.

Hoje, graças à preciosa ajuda do amigo uruguaio Carlos Daniel Goyen, passo para o lado dos campeões mundiais e publico seus destinos. Na foto, no Maracanã, estão, da esquerda para a direita, de pé (só valem os uniformizados) Obdúlio Varela, Tejera, Gambetta, Máspoli e Rodriguez Andrade; agachados, na mesma ordem, Gigghia, Júlio Perez, Miguez, Schiaffino e Morán (reserva do titular Vidal).

De todos eles, o único ainda vivo, morando em Montevidéu, é o ponteiro-direito Alcides Gigghia (1926), autor do gol da vitória de 2 a 1 dos uruguaios. Os demais, como seus adversários brasileiros, se foram. A saber, Roque Máspoli (1930-1978), Mathias González (1925-1985), Eusébio Tejera (1922-2002), Schubert Gambetta (1920-1991), Obdúlio Varela (1917-1996), Rodríguez Andrade (1927-1985), Julio Perez (1926-2002), Oscar Miguez (1927-2006), Alberto Schiaffino (1925-2002), Rubén Morán (1930-1978) e o técnico Juan Lopez (1908-1983).

Em poucas e resumidas palavras, quase que por ironia do destino, apenas Alcides Gigghia, que enganou Moacir Barbosa na baliza à direita das tribunas do Maracanã, permanece vivo, como que para relembrar para a história do futebol uruguaio, a maior façanha esportiva de seu país e o bicampeonato mundial (1930-1950) que nossos irmãos do Sul ostentam com maior orgulho e paixão.

Nunca é demais lembrar que poucos meses antes, na Copa Rio Branco, Brasil e Uruguai jogaram três vezes seguidas, uma delas no Pacaembu e as duas outras em São Januário. O Brasil perdeu um jogo e venceu os outros dois com a maior dificuldade. Se o técnico Flávio Costa (1906-1999) não aprendeu a lição, quem sou eu – à época um menino de calças curtas – quem vai discutir o assunto?

*Gigghia, o sobrevivente de 1950, colocou os pés na calçada da fama, do Maracanã

(Créditos SporTV)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

As várias faces de João Saldanha

João Jobim Alves Saldanha (1917-1990) foi, inegavelmente, um sujeito inteligente. Recentemente, inclusive, virou estátua no Maracanã, com todo merecimento. Mas eu, que convivi com ele na redação do Jornal do Brasil, na Avenida Brasil, 500, nele descobri, somando fatos e conversas particulares, certa incongruência – se é que os leitores deste meu blog me entendem. E essa incongruência o levou a ser demitido da Seleção Brasileira que, nas mãos de Mário Jorge Lobo Zagallo, conquistou o tricampeonato mundial em 1970, no México.

Vejamos dois exemplos típicos – que cheguei a debater com ele na redação. O Botafogo que esmagou o Fluminense por 6 a 2 na final do Campeonato Carioca de 1957, estava teoricamente escalado com Adalberto, Beto, Thomé, Servílio e Nílton Santos; Américo Pampolini e Didi; Garrincha, Édison Praça Mauá, Paulo Catimba Valentim e Quarentinha. Por sinal, Paulo Valentim jogou com a camisa oito porque afirmou que a nove não lhe dava sorte – talvez por isso marcou cinco gols.

Na prática, porém – eu lá estava com meu amigo Roberto Sant’Anna – o time jogou com Adalberto, Beto, Thomé, Servílio e Nílton Santos; Pampolini, Didi, Édison e Quarentinha; Garrincha e Paulo Valentim, ou seja, num 4-4-2 fechadíssimo. E mais: Quarentinha, artilheiro implacável, recebeu a missão de marcar Telê Santana (1931-2006) em cima, não permitindo que o número sete tricolor armasse um único e escasso ataque para Valdo, Escurinho ou Jair Francisco. Estratégia inteligente? Claro. O Fluminense era mais afinado e vencera o Botafogo no turno por 1 a 0, com Didi, de maneira mais do que displicente, chutando um pênalti nas mãos de Carlos Castilho.

Mas e na Seleção Brasileira, tantos anos depois?

João Saldanha escalou o time num 4-2-4. Na foto acima, em 1957, Thomé comanda uma abraço generalizado dos alvinegros na goleada histórica. Na foto abaixo, a cores, estão posados Carlos Alberto Torres, Félix, Djalma Dias, Joel, Wilson Piazza e Rildo; embaixo, agachados, Jairzinho, Gérson, Tostão, Pelé e Edu, ou seja, dois pontas abertos e apenas dois no meio-campo (Piazza e Gérson), às vezes auxiliados por Tostão, que não marcava ninguém. Em poucas e resumidas palavras, como diria Nélson Rodrigues (1912-1980), era um 4-3-3 mais para 4-2-4. Pode?

Em 1970, logo depois da Copa do Mundo, fui ao Chile com a Seleção Brasileira e fiquei temporariamente retido em Buenos Aires à espera de uma escala. Sabem com quem conversei por mais de uma hora? Com o presidente da então CBD João Havelange, também à espera de um avião para Santiago. E Havelange me disse que com aquele esquema de dois pontas abertos (Jair e Edu) e o meio-campo desprotegido o Brasil não iria a lugar nenhum. Daí a demissão de João Saldanha e a chegada de Mário Jorge Lobo Zagallo, com seu tradicional e eficiente (na época) 4-3-3.

O que fez Zagallo? Mudou o time. Montou uma equipe com Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Marco Antônio (depois Everaldo); Clodoaldo, Gérson e Rivelino; Jair, Tostão e Pelé. E quando Gérson se machucou, valeu-se da primeira substituição permitida numa Copa do Mundo: colocou Paulo César Lima recuado e avançou um pouco Roberto Rivelino, ou seja, manteve o rígido 4-3-3 que aplicara no Botafogo, com Carlos Roberto, Gérson e Paulo César, mantendo à frente Rogério Ventilador, Jairzinho e Roberto Miranda.

Naquela tarde no Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, conversando animadamente com João Havelange, me convenci de que o comunismo de João Saldanha nada tivera a ver com sua demissão. E que a chamada ditadura militar não dera qualquer palpite, a não ser o pedido de Emílio Garrastazu Médici (1905-1985) para que desse uma chance a Dadá Maravilha – que, cá entre nós, de Maravilha não tinha nada. A rigor, Dario só fez correr em campo, após a final, tentando carregar a Taça Jules Rimet, infelizmente derretida por bandidos que invadiram a então CBF.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Qual o melhor time?

A equipe da primeira foto, posada em General Severiano, no início do vitorioso Campeonato Carioca de 1962, ou a da segunda, na vitória de 3 a 0 sobre o Flamengo? Na primeira, de acordo com a formação da foto, estão Joel Martins (homônimo do ponteiro rubro-negro campeão do mundo de 1958), Manguinha, Nílton ‘Mestre’ dos Santos, Zé Maria, Ayrton Povil e Rildo; Agachados, Garrincha, Arlindo, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Em campo, no 4-3-3, o time jogava com Manga, Joel, Zé Maria, Nílton Santos e Rildo; Ayrton, Arlindo e Zagallo; Garrincha, Quarentinha e Amarildo. No terceiro jogo, no Maracanã, Didi – torcedor do Fluminense, segundo me declarou em programa da Rádio Globo – voltou ao time mas foi embora para ser treinador do Peru, antes de passagem meteórica pelo São Paulo.

Já a equipe da segunda foto, a da decisão na qual Garrincha literalmente engoliu o Flamengo com Carlinhos, Nelsinho e Gérson Nunes no meio-campo escalado por Flávio Costa, é a campeã carioca, formada com Paulistinha (já falecido), Manguinha, Jadir (ex-Flamengo), Nílton ‘Mestre’ dos Santos, Ayrton Povil e Rildo da Costa Menezes; agachados estão Garrincha, Édison Praça Mauá, Quarentinha Lebrego, Amarildo Silveira e Mário Jorge Lobo Zagallo. No gramado a equipe atuava com Manga, Paulistinha (expulso com Dida, no final), Jadir, Nílton Santos e Rildo; Ayrton, Praça Mauá e Zagallo; Garrincha, Quarentinha e Amarildo.

Particularmente – mas muito particularmente mesmo – acho a primeira equipe melhor do que a segunda. Afinal tinha três titulares, absolutos: Joel Martins, Zé Maria e Arlindo. Mas o Botafogo, que para mim tem a vocação do erro, vendeu Arlindo para o México e Joel e Zé Maria estavam contundidos. Assim, a segunda equipe pode se gabar de, mesmo sem três titulares (além da fuga de Didi) de ser a campeã carioca de 1962, com dois gols de Garrincha e um de Vanderlei, contra. Por sinal, o terceiro gol de Garrincha, logo aos três minutos do segundo tempo, foi uma obra prima.

Chutando para o lado da torcida rubro-negra, à esquerda das tribunas, Ayrton deu um passe a Amarildo (jogando com uma coxeira branca) e este, aproveitando-se que Murilo subia, já que Zagallo atuava recuado, tocou para o próprio Zagallo (torcedor declarado do Flamengo). Zagallo, então, centrou alto para a área. Foi então que Quarentinha, na marca do pênalti, acertou uma acrobática tesoura-voadora. A bola explodiu no peito de Fernando e Mané, sempre atento, só teve o trabalho de empurrá-la para as redes. Pronto: com 3 a 0 o Flamengo estava rigorosamente liquidado.

Nesse dia, um sábado, 15 de dezembro de 1962 (com Armandinho Marques no apito), Flávio Costa dispensou Joel Martins, no ônibus que levava o Flamengo para o Maracanã, justamente na Rua Silveira Martins, onde Joel morava, e preferiu Espanhol. Depois, para equilibrar o meio-campo, escalou Carlinhos, Nelsinho e Gérson, com a missão de vigiar Garrincha. Carlinhos e Nelsinho era o que se chamava de ‘tocadores de violino’ e não marcavam ninguém. E Gérson Nunes está procurando Garrincha até hoje, mesmo atuando como comentarista do garotinho José Carlos Araújo, na Rádio Globo. No ano seguinte, 1963, o Botafogo vendeu Amarildo ao Milan e imediatamente comprou Gérson do Flamengo. Mas em campeonatos cariocas, Gérson só pôde estrear em 1964, pois já tinha atuado pelo Flamengo. Só jogou em amistosos com a camisa alvinegra e na falecida Taça Brasil.

Hasta la próxima...


(*) Detalhe: O Botafogo não está fazendo 100 anos em 2010. O Botafogo Footbal Club é de 12 agosto de 1904. E o Club de Regatas Botafogo é de 1° de julho de 1894. O centenário de 2010 é do título de 1910, que valeu ao então Botafogo Footbal Club o título de ‘O Glorioso’, imortalizado no hino composto pelo torcedor do América Lamartine Babo (1904-1963). Não confundam as coisas, por favor

Dose para dinossauro desmamado

Na saída do jogo Botafogo x Palmeiras, no Engenhão, fui abordado por um torcedor alvinegro e leitor de meu blog – dele não me recordo o nome porque, como diz José Inácio Werneck, meu amigo do peito, minha memória não é de ferro. Se não estou enganado, ele me acusou de reacionarismo em relação à torcida do Flamengo. E me provou, dias depois, publicando no meu computador a coluna (furtada por um site que desconheço), reproduzindo a dita cuja coluna. O tal torcedor, apesar da vitória do alvinegro, estava até um pouco agressivo em suas palavras e mal me cumprimentou. Na hora, saí pela tangente, mas quando veio o e-mail, me desculpei. Não gosto de ofender ninguém, a não ser árbitros e bandeirinhas (Ana Paula e Moutinho) que furtaram o Glorioso em partidas até certo ponto recentes.

Mas eis que me chega às mãos uma foto inacreditável: torcedores rubro-negros, estendem uma faixa dizendo que o clube da beira da Lagoa é ‘équiça’ campeão brasileiro – mesma sequência do São Paulo Futebol Clube, este sim hexacampeão. Fico imaginando, apenas por acaso, se o rubro-negro conquistar o heptacampeonato. Como seus torcedores escreverão uma faixa? ‘Épita’ e, por hipótese – apenas por hipótese, octacampeão. Será que pintarão outra faixa com ‘óquita’?

Percebo que os rapazes da faixa não passaram do velho primário de guerra. Nem meu sobrinho, Lucas, que tem apenas cinco anos, escreveria uma sandice dessas. E olhem, leitores de meu blog, que Lucas – menino inteligente – sabe ler tudo é irônico, e ainda escreve bilhetes para a mãe Paula e o pai, Rafael. E pelo que sei, já é torcedor do ‘Framengo’, aliás Flamengo, contrariando o pai que é cruzmaltino.

Em poucas e resumidas palavras, o botafoguense que me criticou na saída do Engenhão está sem saída. O que vai dizer agora? Que sou reacionário? Que sou arbitrário? Que a torcida do ‘Framengo’, aliás, Flamengo, é alfabetizada? Que os torcedores não brigam entre sí é caem das arquibancadas do Maracanã? Não faz muito tempo, e um torcedor apaixonado do ‘Framengo’, aliás Flamengo, estava estreando uma camisa rubro-negra novinha em folha e foi dela roubado quando caminhava para o lado esquerdo das arquibancadas do Maracanã. Ficou desolado, pois viu seu dinheiro jogado fora. Mas, apesar do roubo, manteve-se rubro-negro.

Venhamos e convenhamos, ‘équiça’ é dose para dinossauro ou mamute desmamado... Primário nessa gente, é o que, de bom coração, eu desejo.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Dois recuerdos del Glorioso

Este blog de hoje – verdadeiro presente de Natal – é para os rigorosamente viciados no Botafogo de Futebol e Regatas. São fotos do século passado, admito, mas tive um prazer enorme em recebê-las do amigo e companheiro eterno Ricardo Baresi, um alvinegro que não sossega atrás das coisas de seu clube.

Para identificar as duas fotos, tive a ajuda do mestre Pedro Varanda, que já foi um competente assessor de imprensa do Glorioso – afastado por Bebeto de Freitas sem uma única, mísera ou escassa explicação. E quem postou o blog foi minha amiga de fé, irmã, camarada, Malu Cabral, que sabe tudo sobre o Botafogo e nos fulmina com seu Blog-Clipping do clube alvinegro, via Internet. Faz tudo por amor ao clube.

Na primeira foto, de agosto de 1966, num empate de zero a zero com aquele Clube da Beira da Lagoa, aparecem de pé Joel (veio do Bangu), Nei Conceição, Manga, Zé Carlos, Dimas e Moreira;

e agachados, na ordem, Jair Ventura Filho, Gérson Nunes, Barcímio Sicupira, Fifi e Waldir (este eu não reconheceria). O Glorioso jogou com Manga, Joel, Zé Carlos, Dimas e Moreira (deslocado para a lateral-esquerda); Nei Conceição, Gérson e Fifi; Jairzinho, Sicupira e Waldir.

No ano seguinte, com alterações, seríamos donos do título do Campeonato Carioca.

Na segunda foto, no pé do blog, outro zero a zero, desta vez contra o Bangu de Moça Bonita, a três de maio de 1970. Lá estão, de pé, Moreira (outro dia foi a General Severiano), Cáo, Moisés Xerife, Nei Conceição (fez aniversário no último dia oito de dezembro), Sebastião Leônidas e Valtencir Senra (já falecido); agachados, na ordem, Zequinha, Carlos Roberto, Ferreti, Betinho e Careca. O time jogou com Cáo, Moreira, Moisés Xerife, Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto, Nei Conceição e Betinho; Zequinha, Ferreti e Careca.

Em 1966 e 1970, Baresi, Varanda e Malu não puderam ir ao Maracanã porque eram muito crianças, mas eu, já taludo e jornalista (trabalhava no Jornal do Brasil), estava lá na tribuna dos periodistas, torcendo para meu clube do coração. Aliás, no Jornal do Brasil, em meio à década de 70, conseguimos formar, na sede da Avenida Brasil, 500, 12 torcedores do Botafogo num grupo de cerca de 24 periodistas.

A saber, João Jobim Alves Saldanha, Sandro Luciano Moreyra, Oldemário Vieira Touguinhó, Roberto Porto (o narrador deste blog, lógico), Márcio Guedes, Otávio Name, Eloir Maciel, Mara Bentes Cardoso, Cláudio Dienstman (gaúcho), Otávio Name, Mesquita (diagramador), Luiz Fernando ‘Gauchinho’ Lima e Antônio Maria Filho.

Vez por outra, em dias seguintes às vitórias, adentrava a editoria de esportes a figura de Salim Simão, aos gritos. De Salim guardo a lembrança de uma fita cassete com os gols do Botafogo na conquista de títulos, mas principalmente, com a esmagadora vitória (a maior até hoje em decisões do Campeonato Carioca) sobre o vetusto tricolor das Laranjeiras por 6 a 2.

Embora apenas torcedor, lá estava eu, com meu amigo Roberto Sant’Anna, nas especiais. Detalhe: ficamos juntos do time de water-polo do Fluminense e do dirigente Benício Ferreira Filho. Quando Paulo Catimba Valentim marcou o quarto gol, eles se levantaram para ir embora. Eu os provoquei dizendo que ficassem porque vinha mais. E veio, com Garrincha e Paulo Valentim. No final, Valdo marcou o segundo gol do Fluminense, mas foi apenas para rimar a frase histórica: - Foi seis a dois no pó de arroz...

Feliz Natal para todos.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Um time meio sobre o esquisito

Mal havia terminado a Feira de Livros que o Botafogo promoveu em sua sede, na Avenida Venceslau Braz, surpreendi o companheiro Ricardo Baresi conversando com o Possesso Amarildo, no Salão Nobre. Baresi tentava identificar uma foto do Glorioso, batida num amistoso contra o América, em São Januário (o Botafogo venceu). Metido a saber tudo de Botafogo, me aproximei e comecei a ajudá-los. Baresi e Amarildo trocaram de óculos de aproximação, mas pouco progrediram. No final, Amarildo ia saindo com o par de óculos de Baresi e vice-versa. Por pouco, muito pouco, não trocaram os óculos. Parece que Baresi percebeu a confusão.

Pelo que pude perceber, independente das identificações de Amarildo, o time, posado, era o seguinte: Adhemar, Manguinha, Paulistinha (?), Frazão e Chicão; Neivaldo, Édison Praça Mauá, Bruno, Amarildo e Zagallo. Esse time, pelo que deduzi, ajudado pela enciclopédia que leva o nome de Pedro Varanda, jogou assim: Manguinha, Adhemar, Zé Maria, Paulistinha (?) e Chicão; Frazão, Edison Praça Mauá e Zagallo; Neivaldo, Bruno e Amarildo. Minha dúvida é Paulistinha (já falecido, e, por isso, pedi a ajuda do dentista Ronald Alzuguir, mas não recebi resposta até hoje. Não acredito que a figura seja Paulistinha.

Varanda garante que sim, mas, como veterano alvinegro (mais de 60 anos de torcedor), duvido um pouco.
E para que os leitores mais veteranos tenham um ataque de saudades, publico no pé deste blog, mais uma foto, com meu amigo de fé Ronald Alzuguir. O time posado em General Severiano, de 1958 ou bem no início de 1959, é Ernâni, Thomé, Servílio, Ronald Marreta, Nílton Santos e Cacá; Garrincha, Paulo Catimba Valentim, Didi, Quarentinha e Zagallo. Na prática, a escalação era esta: Ernâni, Cacá, Thomé, Servílio e Nílton Santos; Ronald Marreta Alzuguir, Didi e Zagallo; Garrincha, Paulo Catimba Valentim (despedindo-se para ir para o Boca) e Quarentinha – o artilheiro que não sorria.

São duas fotos sensacionais para os mais viciados torcedores do Botafogo e deles espero resposta para as correta identificações. Mas aquele Paulistinha careca e baixinho da foto ao alto não me convence. Varanda diz que é e ele apura tudo nos jornais da época. Pode ser. Mas o melhor da história veio com Amarildo, que identificou Frazão como Perivaldo, que teria vindo do São Cristóvão. Eu disse a ele que quem veio do São Cristóvão foi Genivaldo e não Perivaldo. Aliás, tenho foto do Genivaldo, que veio do São Cristóvão com a função de substituir Paulo Valentim e acabou não dando certo.

Mas nessa época, ou pouco depois dela, o Botafogo era um time enjoado, com Nílton Santos, Garrincha, Amarildo e Zagallo, todos eles e mais Didi (que retornou da Espanha) bicampeões mundiais no Chile. Por isso, a FIFA colocou o Botafogo como um dos 12 maiores clubes do Século 20. Hoje talvez não seja mais um Clube do Século, mas é proprietário do mais bonito escudo do mundo, após três eleições, a primeira delas feita por uma revista japonesa.

Bota fogo nisso, Maurício Assumpção...


segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O meu ser botafogo


Ser botafogo,
é ser o certo perante o errado;é ter uma mania, sem ser superticioso;é ser o maior, entre os mais fortes;é ter uma vida em preto e branco, sem se importar com cores.

Ser botafogo,
é viver o passado, sonhando com o futuro;é olhar pro ceú, e ver que a mais bela estrela brilha em nosso uniforme;é admirar o brilho nos olhos, do mais antigo torcedor; é viver e sentir a paixão, mesmo nos momentos de dor.

Ser botafogo,
é se emocionar com os dribles de Garrincha;é ver a magica do senhor Nilton santos;é vibrar toda vez que vemos o gol do mauricio;e é chorar pelos 21 anos.

Ser botafogo,
é reviver os comentarios do joão sem medo;é querer brincar com o cachorro biriba;é ter como torcedor um apaixonado Armando Nogueira.

Ser botafogo,
é gritar sem ser ouvido;é levar a mão do lado esquerdo do peito pra se emocionar;é olhar pro alto e agradecer por poder ver o alvinegro em campo;é sentir o verdadeiro amor, sem represalia;é poder dizer: Eu Te Amo Botafogo de Futebol e Regatas.


Andrew Torres Fonseca

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Churrasco de Porco no Engenhão

Finalmente, a apaixonada e sofrida torcida do Botafogo teve o presente que merecia, às vésperas do aniversário de fusão do Club de Regatas Botafogo com o Botafogo Football Clube, em 1942.

O Botafogo de Futebol e Regatas, apoiado enlouquecidamente por 40 mil torcedores no Engenhão, obrigou o time a fazer um saboroso churrasco do Porco (Palmeiras), fugindo do temido rebaixamento e evitando que o adversário participasse da Taça Libertadores da América de 2010. Pela primeira vez no Campeonato Brasileiro que terminou, o alvinegro da estrela solitária jogou com uma raça desmedida e um empenho extraordinário. Na tarde de domingo, no lotado Engenhão, o Botafogo foi o Botafogo que eu conheço e acho que mereço.

Todos os jogadores atuaram com um empenho que honrou o nome do clube, mas não posso deixar de destacar as atuações de Leandro Guerreiro (foto) – como sempre – Jefferson, Alessandro e Fahel, este último tão criticado nos últimos tempos.

E mais: O Botafogo terminou com um ponto à frente do Fluminense (que também escapou do rebaixamento), certamente, depois do Flamengo (Fla-Prensa), o clube mais elogiado dos últimos tempos no futebol do Rio de Janeiro. É verdade que o Fluminense, mesmo com o empate, escapou de uma guerra em Curitiba. Mas não é menos verdade que o Botafogo enfrentou o mesmo antagonismo quando encarou o Atlético PR.

A rigor, o Botafogo, no domingo, não fez uma partida elogiável. Superou com garra e muito coração o time titular do Palmeiras, que lutava por uma classificação para Taça Libertadores. O Palmeiras – conhecido como Porco (que mau gosto) por sua torcida – não fez como o Grêmio que jogou sem oito titulares diante do Flamengo, só para atazanar a torcida de seu rival gaúcho Internacional. O velho Verdão chegou ao Rio com sua força máxima e chegou, em determinados momentos, a dominar o Botafogo. Mas a disposição do Botafogo era tão grande, tão imensa, que o Porco acabou merecidamente fritado.

O Botafogo, a bem da verdade, agigantou-se em campo.

Espero agora, como torcedor apaixonado, que os dirigentes não mais façam com que a fiel torcida sofra como sofreu em 2009, beirando o rebaixamento para a série B. Agora há tempo para que a diretoria pense na temporada de 2010 retribua o amor e a paixão dos torcedores que lotaram o Engenhão e estimulou o time o tempo todo.
Posso dizer isso de cadeira pois estive lá (não fiquei no famoso PFC da Globo) e pude verificar in loco o que é ser botafoguense, mesmo às portas de um rebaixamento que, cá entre nós, que ninguém nos ouça, não seria demasiado exagerado. O Botafogo cumpriu uma das piores campanhas dos últimos tempo. Salvou-o a torcida e o empenho de jogadores exemplares como Leandro Guerreiro, um verdadeiro herói.

Como botafoguense, espero que o Botafogo de 2010 – ano de Copa do Mundo – seja digno do Botafogo pelo qual me apaixonei há tantas e tantas décadas. Infelizmente, a já anunciada venda de Jobson ao Cruzeiro já é o primeiro passo equivocado. Jobson não é Garrincha – está longe disso. Mas é um jogador imprevisível, Quem o substituirá no ataque, já enfraquecido do Glorioso?

Com a palavra, a diretoria alvinegra.

(*) E não me venham com a dupla Victor Simões e Reinaldo (que, aliás, domingo, jogou bem enquanto esteve em campo).

(**) Ano que vem, 2010, o Botafogo fará 100 anos do nome que recebeu no hino do clube: ‘O Glorioso’.