Este blog é em homenagem ao campista Amarildo Tavares Silveira, que no último dia 29 de julho completou 70 anos. Mas fica a pergunta: que time é o da foto em General Severiano? Simplesmente é o da formação básica que levou o Botafogo ao bicampeonato carioca de 1962, derrotando o Urubu, com ligeiras alterações, por 3 a 0. Aí estão pela ordem: de pé, Joel Martins, Manga, Nílton Santos, Zé Maria, Ayrton Povil e Rildo; agachados, Garrincha, Arlindo, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Na prática, dirigido por Marinho Rodrigues, jogava com Manga, Joel, Zé Maria, Nílton Santos e Rildo; Ayrton, Arlindo e Zagallo; Garrincha, Quarentinha e Amarildo, que já conquistara no Chile o bicampeonato mundial em lugar de Pelé.
Como realmente há coisas que só acontecem ao Glorioso, o clube, gradativamente, foi se desfazendo de jogadores importantes, como Paulo Valentim, o guerreiro de 1957, vendido ao Boca Juniors; Didi, o mestre, transferido ao Real Madri (no qual não se deu bem) no início de 1962; Amarildo, negociado com o Milan, em 1963 e, por fim, Arlindo, que ainda jogou em 1963 mas acabou no México pouco depois. O sonho de João Jobim Alves Saldanha, de transformar o Botafogo num verdadeiro escrete, com a compra do passe de Didi, em 1956, foi por água abaixo.
Só não escoou pelo ralo porque com o dinheiro da venda de Amarildo (150 milhões de cruzeiros), o Botafogo comprou o passe de Gérson ao Urubu em 1963 (ele só pôde jogar em 1964) e promoveu duas autênticas revelações do juvenil: nada menos do que Jairzinho e Roberto Miranda, além de promover Rogério Ventilador, Carlos Roberto e Paulo César. Por isso, o Alvinegro conquistou o bicampeonato de 1967-1968 e, depois, amargou um longo jejum até 1989. Mas a venda de Amarildo, com apenas 23 anos para a Itália, foi um desastre, mesmo levando-se em conta que a negociação permitiu a vinda de Gérson, incompatibilizado no Urubu de Flávio Costa.
Como veterano torcedor apaixonado pelo Botafogo, guardo de Amarildo grandes recordações, no Alvinegro de General Severiano e na Seleção Brasileira. No Chile há pelo menos quatro momentos preciosos de Amarildo, a quem Nélson Rodrigues deu o apelido de Possesso. Os dois gols da vitória sobre a Espanha, em passes de Garrincha, o gol sem ângulo contra a então Tchecoslováquia na final e, no mesmo jogo, o drible desconcertante em seu marcador – que se esparramou pelo gramado – e o centro preciso para Zito, do Santos, marcar de cabeça o segundo gol do Brasil. Vavá, que já jogava no Atlético de Madri, marcou o terceiro dos 3 a 1, numa falha do goleiro.
Pelo Botafogo, a 15 de dezembro de 1962, tenho na memória uma grande jogada de Amarildo. Jogando com uma coxeira – deve ter sentido algo no músculo – ele, de maneira esperta, lançou Zagallo livre, nas costas de Murilo, zagueiro-direito do Urubu. Zagallo foi à linha de fundo e centrou para a área. Foi então que Quarentinha, numa tesoura voadora espetacular, da marca do pênalti, acertou um balaço que Fernando não segurou. Garrincha, malandro, vinha chegando e só tocou para dentro do gol, marcando os 3 a 0 que matou o Urubu de raiva e deu ao Glorioso o bicampeonato carioca. Naquele dia, no Maracanã, 145 mil pessoas pagaram ingressos.
Parabéns pelos 70 anos, Amarildo. E obrigado pelas alegrias que me deu.
(*) Correção: no último blog, falei nos dois goleiros afro-descendentes que foram convocados para a Seleção Brasileira: Osvaldo Baliza e Jefferson. Mas há mais dois brancos: Manguinha, desastroso em 1966, além de Paulo Sérgio, que não chegou a ser titular.