sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Luto e uma boa dose de superstição



Tenho quase a mais absoluta certeza de que os leitores deste blog não irão reconhecer de estalo os jogadores desta foto. Mas se os mais veteranos conseguirem, jamais saberão a história do calção preto que o time está utilizando. Pois então vamos lá, primeiro identificando cada um dos craques dessa equipe que disputou o Campeonato Carioca de 1954.

Da esquerda para a direita, de pé, Gérson dos Santos, Gílson Mussi, Nílton dos Santos, Danilo Alvim, Rubens (Ruarinho) Ruaro e Orlando Maia; agachados, na mesma ordem, Garrincha, Dino da Costa, Carlyle Cardoso, Paulo Omena e Luiz Vinícius de Meneses. Em campo o time jogava com Gilson, Orlando Maia, Gérson e Nílton dos Santos; Ruarinho, Danilo e Paulo Omena; Garrincha, Dino e Vinícius. Era um 3-3-4 ousado.

Mas qual a razão do calção negro se a partir de 1948 o Botafogo do meu coração utilizava calções brancos? A resposta é simples: luto pela morte do presidente Getúlio Vargas (1882-1954). E o calção preto continuaria na temporada de 1955, mas como a superstição não vingara, o calção branco voltou em 1956 para se despedir definitivamente a partir de 1957.

Honestamente, não posso garantir que esse troca-troca não tenha tido o dedo de Carlito Rocha (1894-1981), o rei da superstição em General Severiano. O fato é que o calção branco adotado em 1948 dera certo e o Botafogo decidiu usá-lo daí em diante, contrariando os próprios estatutos do clube. Na época, dirigentes e torcedores – cada um mais fanático do que o outro – dava palpites no uniforme, como ocorre agora com as meias cinza.

Infelizmente, após esse Campeonato Carioca de 1954, o Botafogo se desfez de dois de seus melhores jogadores: Dino da Costa (artilheiro da competição) e Luiz Vinícius de Meneses. O primeiro foi negociado com o Roma, o outro com o Nápoles. E o Botafogo, com isso, montou no ano seguinte, com veteranos, um time que cumpriu uma das campanhas mais bisonhas de sua história.

Eu costumo comparar o estilo de Dino da Costa com o de Paulo Valentim (1932-1984), negociado com o Boca Juniors após o Campeonato Sul-Americano de 1959. Dino e Paulo Valentim tinham um drible seco dentro da área que desnorteava os adversários e a bola sobrava à feição para o chute mortal em direção às redes dos adversários. Vocês podem apostar.

Falei em Paulo Valentim e me lembrei de um comentário de Sandro Moreyra (1919-1987) no rádio (não me recordo a emissora), durante uma partida Botafogo x Flamengo. Irritado com o esquema do seu Botafogo, Sandro, a certa altura, disse simplesmente o seguinte:

- O Paulo Valentim está sozinho lá na frente, em meio a um bando de jogadores do Flamengo... Vai acabar sendo assaltado...

Os leitores deste blog têm total liberdade para interpretar o comentário de Sandro Moreyra.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Botafogo não pôde salvar a pátria


Com nove alterações em relação à partida anterior, quando foi derrotada pela Hungria por 3 a 1, esta é a formação da Seleção Brasileira que enfrentou Portugal, perdeu pelo mesmo placar e foi eliminada da Copa do Mundo de 1966, disputada na Inglaterra. Brasil x Portugal foi, também, o último jogo da Seleção Brasileira num mundial a ser transmitido unicamente pelo rádio. A partir da Copa do Mundo de 1970, a televisão entrou em cena.

Mas quem são os jogadores da foto que ilustra este blog?

Vamos lá:

de pé, Orlando, Manga (Botafogo), Brito, Denílson, Rildo (Botafogo) e Fidélis; agachados, Jairzinho (Botafogo), Lima, Silva, Pelé e Paraná.

Em campo, esse time jogava assim: Manguinha, Fidélis, Brito, Orlando e Rildo; Denílson e Lima; Jairzinho, Silva, Pelé e Paraná – este último é aquele que errou a bola e chutou a bandeira de corner num amistoso da Seleção no Maracanã. Ainda iniciante no jornalismo esportivo, escutei, por alto-falantes, esse jogo sentado no meio-fio da deserta Avenida Rio Branco, diante do Jornal do Brasil, para onde tinha que ir quando a partida acabasse.

Hoje, mais de quatro décadas depois, estou certo de que o Brasil não se atualizou em relação ao futebol europeu. Os dirigentes brasileiros pensavam apenas em comemorar o tricampeonato mundial, que só viria a ocorrer em 1970, no México. Em poucas e resumidas palavras, os êxitos conquistados em 1958 e 1962 fizeram com que todos ficassem mascarados.

É verdade que na partida diante de Portugal, o árbitro inglês McBee fez vista grossa, como diria Mário Viana (1910-1989), para as seguidas faltas da defesa portuguesa, principalmente sobre Pelé, que terminou o jogo mancando de tanto que apanhou. Entre os convocados e barrados para essa partida por Vicente Feola (1909-1975) estava Gérson, que já comandava o time do Botafogo após ter seu passe comprado ao Flamengo.

Mas não foram apenas os dirigentes que festejaram antes do tempo e voltaram mais cedo para casa. Os jornais, rádios e revistas, também. O número de jornalistas brasileiros credenciados para o Mundial de 1966 foi recorde. Todos igualmente otimistas. Eu me recordo que o cartunista Ziraldo criou o Canarinho Tri, que, depois, foi alvo das maiores chacotas.

O fracasso em gramados ingleses funcionou como uma espécie de alerta geral para os responsáveis pela Seleção Brasileira. Embora a troca de João Saldanha (1917-1990) por Zagallo tenha sido feita quase que em cima da hora de embarcar para o México.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A molecagem de Sandro Moreyra



Dizer que os jogadores do Botafogo foram fundamentais para a conquista pelo Brasil da Copa do Mundo de 1962, no Chile, é, como diria Nélson Rodrigues (1912-1980), o óbvio ululante.
E aí está a foto da equipe que todos devem conhecer:
de pé, da esquerda para a direita, Djalma Santos, Zito, Gilmar, Zózimo, Nílton Santos e Mauro;
agachados, na mesma ordem, Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagallo.

Em campo a Seleção Brasileira jogava com Gilmar, Djalma Santos, Mauro Ramos, Zózimo e Nílton Santos; Zito, Didi e Zagallo; Garrincha, Vavá e Amarildo. O esquema 4-3-3 que o Botafogo passou a usar após a compra do passe de Zagallo (que pertencia ao jogador e não ao Flamengo), seguiu adiante por muitos anos no clube de General Severiano.

Vários jogadores ocuparam a posição de falso ponta-esquerda, entre os mais famosos Paulo César, Dirceu e Sérgio Manoel para citar apenas estes três. Hoje ninguém adota o 4-3-3. Os técnicos preferem o 4-4-2 ou 3-5-2. O fato concreto é que os ponteiros foram substituídos pelos chamados alas, que defendem e atacam, tentando encontrar os homens que estão na área.

Mas vamos adiante, em busca do título desta coluna de meu blog. Havia um bando de jornalistas brasileiros cobrindo a Seleção, entre eles Sandro Luciano Moreyra (1919-1987), Mário Filho (1908-1966), Armando Nogueira e Araújo Neto (1929-2003). Sandro, como sempre, divertia-se com os companheiros, principalmente com Mário Filho, que pretendia escrever um livro sobre aquele Mundial, assim como Armando Nogueira e Araújo Neto.

Baseado na intimidade que tinha com os jogadores do Botafogo, titulares absolutos da Seleção Brasileira, Sandro passou a inventar notícias, passando-as para Mário Filho, àquela altura um jornalista mais de retaguarda, ou seja, mais editor do que repórter. A certa altura, Armando Nogueira ficou aborrecido com as mentiras de Sandro a Mário Filho e o repreendeu.

Sandro não tomou conhecimento da repreensão e foi adiante, inventando sonhos de Garrincha, premonições de Didi, palpites de Nílton Santos e assim por diante. Mário Filho acreditava em tudo. Foi então que Armando passou um pito em Sandro, seu colega do Jornal do Brasil. Sandro só lhe disse uma coisa: ‘Você, Armando, ainda vai colocar uma mentira minha em seu livro”.

Vida que segue, expressão usada por João Saldanha (1917-1990), que também estava lá, o Brasil conquistou o título e Armando e Araújo Neto colocaram na praça o livro “Drama e glória dos bicampeões do Mundo”. Sandro ficou quieto mas perguntou a Armando se tudo o que estava no livro era rigorosamente a verdade, nada mais que a verdade.

No livro, esgotado hoje em dia, há um capítulo sobre Garrincha, no qual Mané teria sido entrevistado por um radialista chileno após uma de suas exibições primorosas. Garrincha não queria dar a entrevista e o repórter insistiu. Garrincha voltou a negar. O chileno, então, sugeriu que ele cumprimentasse o público pelo microfone e se despedisse.
Garrincha foi curto e grosso:

- Adiós, micrófono...

Passado algum tempo, sempre sorrindo, Sandro perguntou a Armando:

- Não disse que iria colocar uma mentira em seu livro?

Armando retrucou sem graça:

- Que mentira, Sandro?

Sandro foi curto e grosso:

- Aquela do adiós micrófono... Isso nunca aconteceu...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O telefonema de Charles Borer

O telefonema de Charles Borer

Corria o ano de 1979 quando o telefone tocou na editoria de esportes de O Globo. Era para José Antônio Gerheim, repórter e botafoguense como eu. Gerheim atendeu, disse umas duas palavras e desligou. Depois se dirigiu a mim e disse que o presidente do Botafogo, Charles Borer (1929-2001), queria conversar conosco na casa dele, em Jacarepaguá. Topei a parada e ficamos à espera do motorista de Borer que nos pegaria e traria de volta.

O que Borer queria conosco? Mistério total. Assim que chegamos, ele nos conduziu à sala e nos perguntou se aprovaríamos a contração da dupla Marcelo e Ziza, este último filho de Pinga (1924-1996), que pertenciam ao Atlético Mineiro. O que nós poderíamos responder? Claro que sim. A verdade é que Borer, em seu último ano de mandato à frente do Botafogo queria um título qualquer que fosse o preço.

Mas por quê?

Porque em seu primeiro ano à frente do clube, o Botafogo foi remetido a Marechal Hermes, o estadinho de General Severiano fora demolido e só restava a sede, fechada e decadente. Borer não fora feliz quando, sem querer, montara o famoso ‘Time do Camburão’ e tinha interesse em arrumar uma equipe que fizesse frente aos grandes clubes do Rio.

Foi assim, simplesmente assim, que surgiu este Botafogo da foto, com Gaúcho, Zé Eduardo, Rocha, Serginho, Paulo Sérgio e Perivaldo (de pé) e Édson, Mendonça, Mirandinha, Marcelo e Ziza (agachados). Em campo o time formava com Paulo Sérgio, Perivaldo, Zé Eduardo, Gaúcho e Serginho; Rocha e Mendonça, Édson, Mirandinha, Marcelo e Ziza.

Marcelo e Ziza não deixaram seus nomes na história do Botafogo, assim como dezenas de outros jogadores, que atuaram nos 20 anos sem títulos. Pessoalmente, tenho a mais absoluta e concreta das certezas de que o Glorioso perdeu uma geração de possíveis torcedores que se apaixonaram por outros clubes. Afinal de contas, ninguém é de ferro para suportar tanto tempo sem conquistar uma taça. Aliás me corrijo: o Botafogo conquistou a do Torneio Início de 1977.

Será que ela conta?

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Uma transação (quase) mafiosa



O que há de interessante nesta foto do time do Botafogo em 1988?

Aparentemente nada, rigorosamente nada, certo?

Mas vamos à tradicional identificação: de pé, da esquerda para a direita, Ricardo Cruz, Wilson Gottardo, Josimar, Mauro Galvão, Luisinho Quintanilha e Renato; agachados: Helinho, Delei, Cláudio Adão, Paulo Criciúma e Gilmar.

Mas vamos ao que interessa. O então presidente do clube, Emil Pinheiro (1923-2001) me contou, certa ocasião, em sua sala na sede do Mourisco, pois General Severiano ainda pertencia à Vale do Rio Doce, como conseguiu reforçar a equipe para o Campeonato Carioca.

Castor de Andrade (1926-1997), presidente de honra do Bangu, estava precisando de dinheiro vivo – não me perguntem a razão. Emil aproveitou a oportunidade e fez a ele uma proposta:

daria a Castor 100 mil dólares mas, em troca, queria os passes de Marinho (ponteiro-direito), Mauro Galvão, Cláudio Adão e Paulo Criciúma. Para surpresa de Emil, Castor topou a parada e os dois marcaram um encontro para a Cabana da Serra.

Já era noite alta quando os dois, em carros de luxo e cercados por seguranças armados, pegaram a Grajaú-Jacarepaguá e desembarcaram no restaurante, àquela hora totalmente vazio. Emil abriu uma maleta e colocou em cima da mesa os 100 mil dólares em notas de 100, com a efígie de Benjamim Franklin (1706-1790), estadista dos Estados Unidos.

Mas Castor – me garantiu Emil Pinheiro – era, digamos na gíria, mordido de cobra. Por isso, de repente, chamou um auxiliar mais qualificado e colocou na mesa uma maquineta que garantiria a autenticidade das cédulas. E lá ficou Emil à espera que todos os 100 mil dólares passassem incólumes pela maquineta de Castor. Só então, concretizou a transação.

Pela escalação do time, em campo, vocês, que acompanham este blog, verão que Emil acertou em cheio, embora endividasse a pessoa jurídica Botafogo. O time acima atuava com Ricardo Cruz, Josimar, Mauro Galvão, Wilson Gotardo e Renato; Luisinho Quintanilha, Delei e Paulo Criciúma; Helinho, Cláudio Adão e Gilmar. Estava formada a base que acabaria com a escrita de 20 anos sem conquistar um título, o que ocorreria logo no ano seguinte.

O dinheiro de Emil Pinheiro vinha do jogo do bicho? Claro que vinha. Mas a torcida não estava nem aí para isso. Queria, como ocorreu, que o amado Botafogo saísse do atoleiro onde estava e conquistasse títulos, o que ocorreu duas vezes seguidas, em 1989 e 1990.

Castor de Andrade e Emil Pinheiro já se foram deste mundo. Mas Bangu e Botafogo – por pior que tivessem suas finanças abaladas após a saída deles – escreveram seus nomes na história do futebol carioca (Bangu campeão de 1966 e finalista em 1967).

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Olha o Luxemburgo aí, gente!!!



Confesso aos leitores deste alvinegro blog que, na época, comprei esta foto na banca de jornais do Tolito, quase em frente ao Clube de Engenharia, na Avenida Rio Branco.

Mas o que teria esta foto de extraordinário?

Para mim, naquela época, 1978, valeu pela presença dos dois mascotinhos, João Diniz e Bruno, filhos de meu irmão Carlos Porto, autor do projeto do Engenhão. João virou a casaca e passou a torcer para aquele clube que vocês sabem.

Bruno, não. Segue alvinegro, dá aulas de desenho em Xangai e mantém na sacada de sua casa uma bandeira alvinegra. Sobre meu irmão arquiteto não preciso dizer que é tão botafoguense quanto eu. Talvez mais.

O tempo passou célere – pouco mais de três décadas – e alguns pontos precisam ser ressaltados no time que ilustra o blog. Mas, primeiro, vamos à identificação das figuras:

de pé, da esquerda para a direita, Ubirajara, Perivaldo, Ronaldo Torres, Russo, Nílson Andrade e, acreditem ou não, Vanderlei Luxemburgo, o Luxa;

agachados, na mesma ordem, Cremílson, Luisinho Tombo, Mendonça, Marcelo e Renato Sá.

Em campo, a escalação era esta: Ubirajara, Perivaldo, Nílson Andrade, Ronaldo Torres e Vanderlei Luxemburgo; Mendonça, Russo e Renato Sá; Cremílson, Luisinho Tombo e Marcelo.

O local é o estadinho de Marechal Hermes, para onde foi o Botafogo do meu coração depois da venda da sede à Companhia Vale do Rio Doce dois anos antes.

O presidente do clube, Charles Borer (1929-2001) fez o possível para reerguer o Botafogo, mas nada conseguiu, a não ser montar o que seria o “Time do Camburão”.

Na partida desta foto, contra a Portuguesa, num sábado à tarde, ocorreu um fato inusitado. O Botafogo estava conseguindo endurecer um jogo até certo ponto fácil e o placar indicava 1 a 1.
No segundo tempo, chutando para a baliza à esquerda da mal ajambrada tribuna para a imprensa, uma bola foi lançada na ponta-esquerda para Renato Sá. Mas ela iria sair se o repórter Valdir Luiz, da Rádio Nacional – um botafoguense ensandecido – não lhe desse um toquinho correndo junto à lateral. Renato Sá, então, foi à linha de fundo e centrou para Luisinho Tombo marcar o 2 a 1 e selar a vitória.

É evidente, pelos detalhes que descrevi, que eu estava presente com meus filhos Roby Porto (hoje na Sportv) e Cristiana Porto (há 20 anos na Califórnia). Quanto a Valdir Luiz, ficou na dele, quietinho, pois seu toque foi sutil. Mas se o Botafogo venceu naquele dia em Marechal deve um pouco a meu amigo radialista da Nacional.
Saudações Botafoguenses,
Roberto Porto

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O canto do cisne de Garrincha


O ano de 1962 é, certamente, o ano de ouro de Garrincha (1933-1983). E começou logo na noite de 3 de janeiro, quando o Botafogo goleou o poderoso Santos de Pelé por 3 a 0 num amistoso de entrega das faixas dos campeões estaduais de 1961.

Naquela noite, com o Maracanã botando gente pelo ladrão, o Botafogo jogou com Manga, Rildo, Zé Maria, Nilton Santos e Chicão (que morreria baleado anos depois); Ayrton e Didi; Garrincha, Quarentinha (China), Amarildo e Zagallo. O Santos colocou em campo Laércio, Dalmo, Mauro Ramos (Olavo), Calvet e Lima; Zito e Tite; Dorval, Coutinho (Pagão), Pelé e Pepe.

Garrincha ganhou um Simca Chambord e, antes da partida, foi carregado em triunfo por seus companheiros por ter sido eleito o melhor jogador de 1961. Amarildo marcou dois gols e China, um, na etapa final.

Eu escapara da Faculdade Nacional de Direito e estava lá, de paletó e gravata, atrás da baliza à esquerda das tribunas.

Meses depois, em Viña Del Mar e Santiago, Garrincha foi obrigado a carregar nas costas a Seleção Brasileira na Copa do Mundo do Chile. Com a contusão de Pelé logo no segundo jogo (Tchecoslováquia), ele assumiu o comando do time.

Jogou na ponta, atuou na meia-esquerda, cobrou faltas, fez gol de cabeça e, pasmem, marcou um golaço contra o Chile com um petardo de canhota. Por fim, cumpriu sua última, histórica e irretocável atuação no Botafogo, marcando praticamente os três gols alvinegros na finalíssima contra o Simpaticíssimo e dando ao alvinegro o bicampeonato carioca (1961-1962).

A partir de 1963, Garrincha, aos 30 anos, já não foi o mesmo, viveu atormentado pela artrose nos joelhos, acreditou em rezadeiras e submeteu-se a uma duvidosa operação de meniscos.

Durante mais dois anos ainda jogou pelo Botafogo até ser negociado com o Corinthians.

Estranhamente foi atingido no joelho numa jogada desleal de Zito, do Santos, seu companheiro de glórias na Suécia e no Chile. Mesmo assim, ainda foi convocado para a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, e chegou a marcar um gol de falta na estréia, diante da Bulgária.

Mas o bom e velho Garrincha já não era o mesmo: gordo, lento, distraído e desligado das partidas. Passou pelo rubro-negro e terminou a carreira jogando por equipes de menor expressão.

E morreu quase esquecido, numa casa de saúde, com apenas 49 anos, em janeiro de 1983

Quem viu, viu. Quem não viu só pode imaginar.


Saudações Botafoguenses,
Roberto Porto

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Um time para esquecer



Os torcedores alvinegros que acompanham este blogspot não precisam quebrar a cabeça para reconhecer os jogadores da foto.

Vamos lá:

de pé, da esquerda para direita, Ubirajara (o ‘goleiro mais bonito do Brasil’), Renê, Osmar, Carbone, Rodrigues Neto e Perivaldo (o ‘Peri da Pituba’); agachados, na mesma ordem, Gil, Paulo César, Dé, Nílson Dias e Mário Sérgio.

Em campo o time era este: Ubirajara, Perivaldo, Osmar, Renê e Rodrigues Neto; Carbone, Paulo César e Mário Sérgio; Gil, Dé e Nílson.

O que fez o Botafogo de 1978?
Nada de importante. Cumpriu uma campanha de altos e baixos e seguiu a trajetória que iria levar o clube a passar 20 anos sem o gosto de um título – ganhou quando fecharia 21 anos. A rigor, como acontece agora, às vésperas do Campeonato Carioca de 2009, era uma equipe saída de vários desmanches e, por isso mesmo, repleta de jogadores sem nenhum compromisso com a camisa alvinegra.

São, por exemplo, os casos Ubirajara (ex-Flamengo), Renê (ex-Vasco), Rodrigues Neto (ex-Flamengo e Fluminense) e, à exceção de Nílson Dias, todos que formam o ataque, pois Paulo César já perdera a conta dos clubes que havia defendido, até mesmo no exterior (Olimpique de Marselha). O torcedor teve esperanças, pois que todos, rigorosamente todos os jogadores, eram experientes e poderiam surpreender. Mas nada disso aconteceu. Em 22 jogos (turno e returno), o Glorioso venceu apenas 12 partidas.

Em minha opinião, o Botafogo vivia uma espécie de crise existencial pois estava afastado de seu território, em General Severiano. Treinando e muitas vezes jogando em Marechal Hermes, o time não contava com o apoio de sua verdadeira torcida, já que era um sacrifício razoável viajar até Marechal Hermes. Sei perfeitamente disso porque, no Jornal do Brasil, lutava diariamente para ter a cobertura do clube, reservando, com antecedência, carro, fotógrafos e repórteres para cobrir a distância.

E o Botafogo seguiria assim, perdendo, em minha opinião, uma geração inteira de simpatizantes, já que todo garoto não gosta de torcer para clube perdedor e vira a casaca. Vasco, Fla e Flu foram os beneficiados.

Agora em 2009 a coisa é diferente. O desmanche do time não provocou a contratação de jogadores polêmicos, como aconteceu e partir do insucesso de 1971 (José Marçal no apito).

A nova diretoria está apostando em jogadores de currículo discreto e a torcida terá que se acostumar com isso. Pessoalmente, tenho certo receio em relação a entrosamento. Mas, com a maior honestidade de quem, como eu, já vi soluções equivocadas, com a aquisição de supostos craques badalados, prefiro a solução atual. Pode ser que dê certo. Principalmente porque agora o Botafogo tem no Engenhão a sua casa.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Um time que brilhou há 50 anos



Que tal o time desta foto? Bom ou ruim?

Eu, que assisti a ele atuar, acho que foi ótimo. Vocês querem que eu identifique as peças?

Pois vamos lá: de pé, da esquerda para a direita, Ernâni (ex-Vasco), Carlos Borges (Cacá), Jorge Perninha, Nílton dos Santos, Américo Pampolini e Ronald Alzuguir;

agachados, na mesma ordem: Garrincha, Tião Macalé, Paulo Catimba Valentim, Quarentinha e Amarildo Silveira.

O ano? 1958 (há 50 anos)

O time, ainda dirigido por João Saldanha, jogava assim: Ernâni, Cacá, Jorge Perninha, Ronald e Nílton Santos; Pampolini e Tião Macalé; Garrincha, Paulo Valentim, Quarentinha e Amarildo (Zagallo foi atingido por Jadir, ainda no Flamengo, e ficou foram do Campeonato Carioca, só retornando nas últimas rodadas, a pedido dele próprio, entre os aspirantes.

Dependendo das circunstâncias, João Saldanha (1917-1990) utilizava Neivaldo Carvalho na ponta-esquerda, um jogador dos ‘sete instrumentos’.

Escolhi esta foto por duas razões: para falar de Jorge Perninha e de Ronald Alzuguir, dentista de categoria com consultório em Copacabana.

Certa vez, na redação do Jornal do Brasil, já no prédio da Avenida Brasil, chamei João Saldanha à parte e o critiquei por escalar Jorge Perninha como zagueiro-central entre os titulares.

Para minha surpresa, João ficou irritado com minha pergunta, disse que estava sem alternativa, etc e tal, tudo isso falando alto. Percebi que ele não gostara de ser questionado e tirei meu time, caso contrário acabaríamos brigando.

João era esquentado à beça.

O caso de Ronald Alzuguir (que me emocionou ligando para mim no Natal) foi uma gozação. Pedi ao companheiro César Oliveira que levasse ao consultório do doutor Ronald uma garrafa de água sanitária. Ronald não entendeu nada. Foi quando César explicou a ele que a água sanitária era um presente meu, pois ele encerrara a carreira no Flamengo e teria que passar o líquido no corpo sempre que tomasse banho.

O motivo? Vocês sabem, claro.

Por sinal, Ronald e eu fomos convidados para dar um depoimento gravado a André Siqueira, sobre João Saldanha, no clube Marimbás. Quando nos encontramos, eu saindo e ele chegando, disse a ele:

- Doutor, não se esqueça da água sanitária...

É evidente que Ronald (outro dos ‘sete instrumentistas’) levou tudo na brincadeira. Nos aspirantes vitoriosos do Glorioso, Ronald era meio-campo, jogando ao lado de Osvaldo Rossi, que acabou indo para o Cruzeiro.

Para que vocês tenham uma idéia, nos últimos jogos da campanha de 1958, o ataque do time de aspirantes do Botafogo era Neivaldo, Rossi, Amoroso, Amarildo e Zagallo (recuperando a forma) no time de Paulo Amaral.

Apaixonado pelo Alvinegro, eu pegava o ônibus 103 no Largo do Machado, saltava perto do Instituto de Educação e ia a pé para o Maracanã assistir à preliminar. A hora dos aspirantes? ‘Esfriando o sol’, como diziam os titulares, às 13h15.

Bons tempos que estão guardados em meu coração.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Uma goleada histórica



Acompanhei o Campeonato Carioca de 1957 como um louco desvairado. E pelo que me recordo, lendo e revendo livros sobre a campanha do Glorioso, creio que não perdi uma única e escassa partida. Confesso que fiquei decepcionado duas vezes: na primeira, quando o Botafogo perdeu do Fluminense por 1 a 0 e Didi (1928-2001) jogou um pênalti na mão de Carlos Castilho (1927-1987); na segunda, quando o Vasco nos derrotou por 3 a 0, já no returno. Quando Almir (1937-1973) saltou para cabecear a marcar o último gol, eu me levantei e, solitário, comecei a deixar o Maracanã.

O Botafogo chegou à decisão contra o Fluminense com oito pontos perdidos, tendo que ganhar para ser campeão, pois o Tricolor tinha apenas sete. Mas eis que ocorreu uma surpresa: um dirigente do Fluminense, extremamente confiante na conquista do título, desdenhou de Vasco e Flamengo, dizendo que, para atrair torcida, os dois clubes deveriam sortear geladeiras e televisores na partida que ainda tinham para jogar.

Resultado: no dia 22 de dezembro daquele ano, a torcida do Botafogo (eu estava lá e vi) contou com o reforço dos rubro-negros, com a Charanga de Jaime de Carvalho, e a presença do vascaíno Ramalho, soprando seu imenso talo de mamão. O resultado da partida não deixa qualquer margem de dúvida: 6 a 2 – 3 a 0 no primeiro tempo e 3 a 2 no segundo. O herói do jogo, não preciso ressaltar, foi Paulo ‘Catimba’ Valentim, que marcou cinco gols, um deles, o terceiro na etapa inicial, de bicicleta.

A foto que ilustra este blogspot é curiosa. Quem bateu a foto foi Arthur Parahyba Dias, tricolor apaixonado e meu saudoso companheiro das redações do Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa. E se o leitor prestar atenção verá que Paulo Valentim (agachado) está com a camisa oito às costas. Ele dizia que a nove lhe dava má sorte. Como Didi não estava nem aí para essas coisas, cedeu a oito para o artilheiro alvinegro. É preciso ressaltar que a goleada é recorde em decisões de campeonatos cariocas.

Falei no chefe da Charanga Rubro-Negra, Jaime de Carvalho (1911-1976), e me lembrei de uma história que Sandro Moreyra (1919-1987) me contou certa vez. Corria o ano de 1954 e Jaime de Carvalho foi escolhido para representar a torcida brasileira na Copa do Mundo de 1954, na Suíça. E Jaime caprichou. Levou bandeiras, apitos, tambores e – para espanto e terror dos suíços – uma centena de foguetes que saudavam o time brasileiro quando entrava em campo. Jaime quase foi preso pela gendarmeria suíça.

De volta ao Brasil, Sandro, moleque como só ele, chamou Jaime à parte e perguntou, forçando um erro de concordância verbal:

- E aí, Jaime? O pessoal ‘gostaram’?

Jaime parou um pouco e Sandro imaginou que ele teria percebido a molecagem. Mas não houve tempo. Jaime respondeu assim:

- Você pergunta se o pessoal ‘gostaram’? Olha, o pessoal ‘endoidaram’...


quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Osvaldo Baliza ainda é lembrado



Os jovens botafoguenses – e há milhares deles pelo Brasil – não têm a menor idéia a respeito do time desta rara foto de 1950 de meu arquivo. Pois vamos lá:

de pé, da esquerda para a direita, Carlito Roberto, Oscar Basso (argentino), Osvaldo Baliza, Nílton dos Santos, Osvaldo Ávila e Rubinho;

agachados; Néca, Moisés Ferreira Alves (Zezinho), Ariosto Perlingeiro, Otávio Sérgio e Válter.
O time jogava com Osvaldo, Rubinho, Basso e Santos; Carlito e Ávila; Zezinho, Néca, Ariosto, Otávio Sérgio e Válter.

Até aí tudo bem, nenhuma novidade – pelo menos para os veteranos. Pois de repente, não mais do que de repente, recebo um e-mail da jovem Tati, neta do inesquecível Osvaldo (sorridente) Baliza. Ela diz que nada tem em casa sobre o avô e eu, de imediato, repassei algumas fotos para ela, inclusive a que ilustra este blogspot. Tati vibrou e disse que toda a família é botafoguense, creio eu, por causa da influência do velho Baliza.

Osvaldo Baliza foi integrante do time campeão de 1948, o único título que o Botafogo de Futebol e Regatas (anote aí, Pedro Varanda) conquistou em General Severiano. É claro que assisti ao Glorioso jogar com Osvaldo no gol e um detalhe me chamava atenção: a vibração dele.

A cada gol do Botafogo do meu coração, Baliza largava suas traves e ia comemorar com os companheiros, na área adversária. Eu, garoto, ficava morto de medo de ver nossa trave abandonada, mas Baliza voltava correndo para ela.

Quando o título de 1948 completou 50 anos, em 1998, houve uma festa em General Severiano, promovida pelo presidente Mauro Ney. Muita gente esteve ausente, mas Juvenal, Baliza e Otávio Sérgio compareceram.
Aproveitei para conversar um pouco com Osvaldo, que estava ao lado da avó de Tati. Quando chamaram o Baliza para receber uma medalha – pelo que me recordo – a senhora dele só fez um único e escasso comentário:

- Amanhã, ele vai esquecer tudo isso. A festa, os cumprimentos e a conversa que teve com o senhor...

Mas não dei importância. Para mim, o importante foi ter oportunidade de estar com o goleiro do meu Botafogo de tempos de infância.

Segundo Sandro Moreyra (1919-1987), Osvaldo Baliza (1923-1999) gostava de brincar com o reserva, nada menos do que Ermelino Matarazzo (não tenho datas de nascimento e morte), integrante da família rica de São Paulo. Certa vez, Matarazzo chegou para Baliza e disse:

- Puxa vida, Baliza. Eu daria tudo para ser você...

E Baliza, esperto, pensando na riqueza dos Matarazzo, respondeu:

- Quer trocar agora, eu topo...

Osvaldo Baliza, depois do Botafogo, passou uns tempos no Vasco. Mas foi ainda no Botafogo que foi convocado para a Seleção Brasileira para o Campeonato Sul-Americano de 1949 (no Rio) e o Pan-Americano de 1952 (no Chile).

Fica aqui a minha homenagem à jovem Tati, neta do grande e sorridente Osvaldo Baliza de meus tempos de garoto – sempre apaixonado pelo Botafogo.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Um chinês botafoguense



Em meio à década de 80, mesmo já cursando faculdades, meus filhos, Roby e Cristiana Porto, decidiram partir para os Estados Unidos de George W. Bush (sujeito que não sossegou enquanto não arrumou uma guerra no Iraque). Cris ficou uns tempos em Nova York mas, como jamais foi chegada ao frio, partiu para a Califórnia. Roby (hoje na Sportv aqui no Rio) ficou, acompanhando o Glorioso pela Rádio Nacional da Praça Mauá.

Certa vez, Roby me passou um e-mail dizendo que quando ia para o trabalho – gerenciava um restaurante (coisa de brasileiro jovem) – encontrou no metrô um cidadão chinês. Como Roby, na maior cara de pau, andava sempre com uma camisa do Botafogo de mangas compridas, atraiu a atenção do chinês que lhe perguntou se aquela camisa era do Botafogo. Foi o suficiente para que eu criasse em minhas colunas do Jornal dos Sports (ainda nas mãos dos Velloso) a figura de Chang Xin-Pow.

Chang, é óbvio, era botafoguense fanático, bem ao gosto do leitor Armando Alves Carreira Leite. E mais: ele e seu filho Changuinho, tinham horror àquele clube da Beira da Lagoa.

Moradores de Staten Island – um dos cinco bairros de Nova York – Chang e Changuinho, aos finais de semana, divertiam-se abatendo corvos a tiros, imaginando de maneira forçada que eram urubus. Bom, a partir daí, com o Alvinegro arrebentando no Brasileiro de 1995, despertei um ódio mortal nos torcedores do ‘Mais Querido’.

Chang ficou tão famoso através de minhas colunas que, na posse de José Luiz Rolim, me obrigou a ‘alugar’ um chinês para comparecer à festa no nosso palacete colonial. Vestido com uma camisa alvinegra, recomendei ao chinês – um rapaz bem concatenado que trabalhava numa loja em Vila Isabel – que não desse uma palavra. Só fizesse sinais com a cabeça. Foi um sucesso total.

O rapaz fez tão bem seu papel que até assinou um documento, exigindo que a estrela do Botafogo da Paraíba voltasse a ser branca.

Naquela época, Nélson Rodrigues Filho e Mário Neto tinham colunas falando do Fluminense e Áureo Ameno, do Vasco, além da minha, claro. Não havia, pelo que me recordo, uma coluna rubro-negra.

Foi então que Luiz Augusto Velloso, chefe-de-redação, me fez um pedido especial: queria que eu mesmo, numa espécie de alter-ego, respondesse com violência à coluna ‘Preto no Branco’ que eu escrevia. Com educação, disse a ele que não conseguiria ‘defender’ o Flamengo de minhas próprias gozações.

Quando o Botafogo derrotou o Flamengo no Ceará, no Castelão, o suposto Chang – que se comunicaria comigo por e-mail – colocou no jogo o título ‘Forró de Fortaleza’. A partir daí, quando deixava o jornal, na Rua Tenente Possolo, na Lapa – sempre dava uma olhada para me certificar de que não estava ameaçado. È preciso dizer que Luiz Augusto (que depois seria presidente do rubro-negro) jamais interferiu nos meus textos.

Deixei o Jornal dos Sports (hoje na Praça da Bandeira), mas a figura criada por mim, de um chinês com ódio ao Flamengo, entrou para o anedotário da imprensa esportiva. Daí o Armando Alves Carreira Neto me pedir cópia de minhas crônicas da época.

Estou tentando encontrá-las nas dezenas de disquetes que tenho, mas está difícil. Do ‘Bom Dia’, que escreveria depois para o saudoso Haroldo de Andrade (1934-2008), encontrei pelo menos uns cinco disquetes. Mas estou esperançoso.

(*) Na foto de hoje, no Galeão, antes de uma viagem para os EUA, estamos juntos Liz (minha nora), eu, com a bela camisa negra, e Roby.

Bons tempos aqueles do Glorioso...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Sandro detona o São Cristóvão



No final da década de 60, quando o Botafogo ainda tinha um estádio e um time de futebol – o ataque com Rogério, Gérson, Jair, Roberto e Paulo César explica o que quero dizer – Sandro Moreyra (1919-1987), que é visto neste blogspot comigo, no fusca de João Saldanha (1917-1990), na caricatura do Ique, me chamou para assistir a um jogo Botafogo x São Cristóvão em General Severiano. Aceitei o convite e decidimos nos alojar nas torres à esquerda das tribunas, de onde as rádios transmitiam os jogos.

Para mim, aquela posição razoavelmente privilegiada foi excitante. Acostumado a assistir às partidas do Glorioso nas sociais, com meu tio Júlio Lopes Fernandes (1900-1983), ficamos, eu e Sandro, quase em cima da linha de fundo, a poucos metros de altura. Eu estava cansado de saber que Sandro, meu companheiro no Jornal do Brasil, era gozador e folgado. Mas não fazia idéia quanto. No segundo tempo, ele atazanou o lateral-direito Triel, do São Cristóvão, dando-lhe supostas instruções.

Lá pelas tantas, jogo meio duro, Triel foi pegar uma bola bem abaixo de nós e Sandro, na maior cara de pau do mundo, gritou para ele:

- Ô Triel, ô Triel...Você não está sabendo aproveitar o recuo do Paulo César... Esquece a lateral e ataca...O Botafogo está perdido...

Final da história: Triel decidiu avançar, esqueceu o lado direito vazio e foi por lá, nas costas dele, que Paulo César marcou dois gols, se a memória não me falha, depois de assistir a uma infinidade de jogos do Botafogo.

Sandro sempre foi assim, gozador mas muito amigo dos jogadores do Botafogo, seu clube do coração.

Anos antes, chefiando uma delegação do Botafogo que excursionou à Europa (1955), os jogadores pediram a ele que a delegação voltasse ao Brasil de navio e ele permitiu. Exigiu apenas que o time ganhasse, em troca, os dois últimos jogos, na então Tchecoslováquia. E foi o que ocorreu.

Nessa viagem, que marcou o final de carreira excepcional de dois jovens jogadores alvinegros – Dino da Costa e Luiz Vinícius de Menezes – vendidos ao futebol italiano houve um imprevisto.

Quando a delegação estava em Turim, um guia, sem nada na cabeça, decidiu levar os jogadores à Catedral de Superga, onde caiu o avião do Torino em 1949, matando todo mundo.

É óbvio ululante que os jogadores ficaram apavorados com o comércio que ainda tomava conta do local, com camelôs vendendo restos do avião sinistrado (por isso a delegação da Itália, na Copa de 1950, também veio de navio). A bordo do Comte Grande, os alvinegros treinaram com Paulo Amaral, ocupando parte do convés superior do transatlântico.

Garrincha (1933-1983) foi o que mais aproveitou a longa travessia do Atlântico. Estava sempre com uma garrafa de coca-cola nas mãos. Só que, malandro, havia rum misturado ao refrigerante. E Zezé Moreyra ((1907-1998) foi à loucura quando descobriu o golpe. Mas aí, todos já estavam no Rio, à espera do Torneio Rio-São Paulo daquele ano.

(*) Certa vez, numa solenidade em General Severiano, tive a oportunidade de fazer uma pergunta a Zezé Moreyra.

Queria sabe para qual clube ele torcia: Botafogo ou Fluminense?

Ele me respondeu:

‘Os dois’. Confesso que fiquei decepcionado, pois Zezé passou a maior parte de sua vida no Glorioso.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

‘Recuerdos’ de tempos passados


A foto que ilustra este blogspot é no mínimo curiosa. Vejamos: sentados no gramado de General Severiano estão Osvaldo Rossi, Paulo Valentim (1932-1984) e Valdir Cardoso Lebrego (1933-1996), o famoso Quarentinha.

Agachados, atrás, estão Garrincha (1933-1983) e Amarildo Silveira.

E eu pergunto: o que o brilhante ‘retratista’ (gíria para fotógrafo que usamos nas redações da vida) quis mostrar? Nada menos do que o ataque do Botafogo, para 1959, logo depois que Valdir Pereira (1928-2001), o Didi, cismou de jogar no Real Madri e o Glorioso o vendeu por apenas 80 mil dólares.

O suposto ataque deveria jogar com Garrincha, Rossi, Paulo Valentim, Amarildo e Quarentinha. Mas João Saldanha (1917-1990) cismou que Sandro Luciano Moreyra (1917-1987) estava querendo escalar o time e simplesmente escalou Tião Macalé no lugar de Rossi (que ainda seria titular no grande Cruzeiro de Belo Horizonte).

O Botafogo fez uma campanha razoável, mas não fosse a teimosia de João poderia até ter tomado o lugar do Fluminense, o campeão carioca do ano. Coisas do Botafogo, é óbvio.

O Botafogo – hoje de Maurício Assumpção – sempre foi mestre na arte de surpreender. Aliás, espero que Maurício acabe de vez com isso. Mas no início de 1957, por exemplo, Tomás Soares da Silva (1921-2002), o craque Zizinho, deixou o Bangu e estava sem clube.

Nílton dos Santos, então, com excelente visão de conjunto, procurou o dirigente Ademar Bebiano (1905-1984) e sugeriu que o Alvinegro contratasse Zizinho para formar um ataque infernal com Garrincha, Didi, Paulo Valentim, Zizinho e Quarentinha (Zagallo ainda era do chamado ‘Mais Querido’).

Sabem vocês, os mais jovens e alguns veteranos, o que Bebiano disse? Não? Pois anotem em seus caderninhos de ‘recuerdos’:

- Olha, Nílton, o Zizinho jamais vestirá a camisa do Botafogo. Em 1948, aqui em General Severiano, ele tentou chutar o Biriba...(Pode?).

Resultado: Zizinho foi para o São Paulo e foi campeão paulista.

Menos mal porque na temporada de 1957 o Botafogo também foi campeão carioca, demolindo o Fluminense na final, por 6 a 2, com um ataque formado por Garrincha, Didi, Paulo Valentim, Édson Praça Mauá (1935-1995) e Quarentinha.

No dia 22 de dezembro daquele ano (eu estava em meio ao time de water-polo do Fluminense, na cadeiras), João Saldanha escalou um meio-campo forte com Pampolini (1933-2007), Didi, Praça Mauá e Quarentinha. Na frente só ficaram Garrincha e Paulo Valentim.

(*) Gostaria de dar dois toques aos blogueiros: primeiro, agradecer a quantidade de elogios que venho recebendo, elogios aliás rigorosamente imerecidos pois me limito a escrever sobre meu clube do coração; segundo, a questão da citação de anos de nascimento e morte:
os jovens leitores precisam saber a época em que os jogadores e dirigentes citados entraram para a história do Botafogo ou, simplesmente, nela esbarraram, como Zizinho. Ok?

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Uma história quase cabeluda


A história que hoje lhes vou contar não é bem uma história cabeluda. Mas digamos que seja mal depilada e envolve dois personagens desse timaço da foto de 1960. Nele, é óbvio, falta Paulo Valentim (1932-1984), que já começava a fazer sucesso absoluto no Boca Juniors.

Mas vamos deixar esses prolegômenos de lado e caminhar direto aos fatos que são a mais pura expressão da verdade, somente a verdade, e me foram revelados, em grande parte por um de seus personagens, nada menos do que Nílton dos Santos.

No início dos anos 50, à noite, Nílton caminhava pela Rua Cândido Mendes, na Glória, em direção a uma famosa, digamos como Ancelmo Góes, ‘casa de saliências’. De repente, surgiu uma carona.

Ao volante de um carro da época, de segunda mão, eis que Valdir Pereira (1928-2001), o Didi, jogador do Fluminense, decidiu dar uma ajuda a seu adversário alvinegro, dos primeiros duelos entre os dois clubes no Maracanã.

Começou aí, no caminho para a ‘casa de saliências, uma sólida amizade entre os dois que foi se reforçando durante os anos seguintes, primeiro nas seleções brasileiras de 1952 e 1954, depois, a partir de 1956, no Glorioso.

Empurrado pelo destino, Didi conheceu Guiomar (1930-2002), ajudante, vestida de Odalisca, de Ary Barroso (1903-1968) no programa ‘Calouros em Desfile’ da TV Tupi.

Não é segredo que Ary tinha uma paixonite por Guiomar e, quando ela se foi com Didi, ele, atordoado, escreveu o samba-canção ‘Risque’ (‘Risque, meu nome de seu caderno, pois não suporto o inferno de nosso amor fracassado...’). O samba, por sinal, fez sucesso.

Na Copa do Mundo de 1954, na Suíça, o autoritário Zezé Moreyra (1907-1998) isolou os jogadores da Seleção Brasileira na concentração de Macolin e não permitia ‘passeios’ ou ‘voltinhas’ por Lausanne. E Didi queria telefonar para Guiomar, no Rio.

Resultado: inconformado, decidiu fazer greve de fome e ficar trancado no quarto. Mas o amigo Nílton dos Santos ficou preocupado. E no almoço e jantar escondia comida no uniforme e alimentava o companheiro, que ele, Nílton, achava um craque.

Três anos depois, a 22 de dezembro de 1957, Paulo Valentim mal acabara de marcar o quarto gol do Botafogo, na decisão do título com o Fluminense, quando Telê Santana (1932-2006) chamou Nílton e Didi e disse a eles:

- Tudo bem, vocês já são campeões (o jogo estava 4 a 1), mas me façam um favor: peçam ao Garrincha (1933-1983) para acabar com aquele carnaval que ele está fazendo pela direita, desmoralizando o Fluminense.

Garrincha não acabou de fazer seu carnaval, marcou o quinto gol e deu o sexto para Paulo Valentim fazer, selando a vitória de 6 a 2, recorde absoluto em decisões de campeonatos cariocas.
Mas Telê não sossegou e foi tirar satisfações com Didi. Os dois discutiram e trocaram pontapés sem que o juiz visse. Garrincha, é óbvio, não dera a menor bola para o pedido de Nílton e Didi.

O epílogo dessa história me foi contado pelo próprio Telê, nas areias do Leme. Ficamos amigos, corríamos juntos pelo calçadão e depois dávamos um mergulho. E aí, ao sol, vinham histórias e mais histórias.

(*) Só para não dizer que não falei de outras glórias: Nílton e Didi foram bicampeões do mundo em 1958 e 1962 com a Seleção Brasileira.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

‘Apenas um clube diferente’


O Botafogo – e todos vocês torcedores do clube sabem disso – sempre foi um clube de fazer as coisas em cima da hora. Chega a viajar sem carregar o segundo uniforme, como aconteceu na Espanha, há pouco tempo, quando teve que enfrentar o Juventus de Turim – na sensacional decisão da Taça Teresa Herrera – com as camisas do La Coruña.

Houve outra vez, já não me recordo quando, pois minha memória não é de ferro, que o Glorioso utilizou as camisas amarelas da Suderj numa partida pelo Campeonato Brasileiro. Foi na década de 70, tenho certeza, pois me lembro de Rodolfo Fischer numa camisinha (sem segundas intenções) ridícula, curta demais para ele.

E é bom que Maurício Assumpção fique sabendo que em 1955 já era assim. Imaginem os leitores que a delegação do Botafogo – chefiada pelo meu futuro companheiro de redação Sandro Luciano Moreyra (1919-1987) – saiu do Rio às pressas para uma longa e penosa excursão pela Europa.

O Alvinegro de General Severiano foi embarcado num dos Constellations da Panair do Brasil (cansei de me arriscar a bordo deles) e desembarcou em Madri, no Aeroporto de Barajas, na hora em que devia estar em campo para enfrentar simplesmente o Real Madri, campeão europeu.

Foi aquela correria, claro. No Real Madri jogava o craque Alfredo Di Stefano.

Para fazer média, é óbvio, Sandro descolou uma bandeira da Espanha e o apaixonante Botafogo entrou no Estádio Chamartin com seus jogadores mortos de cansaço.

O time (poucos leitores viram essa equipe) jogou com Lugano, Orlando Maia, Gérson dos Santos e Nílton dos Santos (verdadeiro nome da Enciclopédia do Futebol); Danilo Alvim (Juvenal) e Ruarinho (Robert James Neil, o Bob); Garrincha, Quarentinha, Vinícius, Dino da Costa e Hélio (Neivaldo). Dino abriu o escore, o Real Madri empatou e desempatou mas Dino voltou a dar números definitivos aos 2 a 2 da estréia.

Daí em diante foi um sufoco. O Botafogo, na excursão arrumada pelo empresário José da Gama, viajava e jogava, jogava e viajava. Houve um momento em que o ponteiro-esquerdo Hélio, também conhecido como ‘Boca de Sandália’, chegou perto de Sandro (pai da Sandra Moreyra da Rede Globo) e perguntou:

- Seu Sandro, há quanto tempo estamos viajando?

Moleque como sempre, desde aquela época, simplesmente respondeu:

- Dois anos, Hélio. Por quê?

Hélio acreditou e disse que estava com saudades de casa. Sandro, então, sugeriu que ele escrevesse uma carta. Veio então a surpresa:

- Acontece, seu Sandro, é que estamos a tanto tempo viajando que me esqueci do endereço lá de casa...Minha mulher deve ter pensado que morri...

Anos mais tarde, na redação do sempre querido Jornal do Brasil – onde comecei minha carreira no dia em que John Kennedy foi assassinado em Dallas – perguntei a Sandro porque o Botafogo era assim, tão improvisado (preferi não dizer desorganizado) e ele, parodiando o slogan do Salgueiro, me respondeu com a maior cara de pau:

- O Botafogo, Roberto, não é o que você pensa. O Botafogo é apenas um clube diferente...

Acho que Sandro, que já se foi há tempos (nem viu o retorno do clube a General Severiano), sempre teve razão. E é bom que Maurício Assumpção saiba muito bem o clube que está assumindo. Um clube diferente...

Um campo e duas balizas


Em recente entrevista ao jornal Lance, o novo presidente do Botafogo, Maurício Assumpção, cita João Jobim Alves Saldanha (1917-1990) como um dos ‘bruxos’ (ou feiticeiros) que o fizeram torcedor do Glorioso.

Maurício enumera outros ‘bruxos’ como Sandro Moreyra (1919-1987), Armando Nogueira, Luiz Mendes, Márcio Guedes e a minha modesta pessoa entre aqueles que também o influenciaram.

De todos, porém, sem demérito para os demais, João Saldanha, em minha opinião, é o mais importante.

Por quê? Porque João, com quem trabalhei anos a fio no Jornal do Brasil, foi aquele que melhor definiu o alvinegro. O Botafogo, segundo ele, seria nada mais do que um campo e duas balizas.

Curioso, não?

O que João Saldanha – técnico campeão pelo Botafogo em 1957 – queria dizer com isso?

Simplesmente, no meu modo de entender, como um clube apaixonante, mas muito mais amador do que profissional. O Botafogo, estou certo de que João queria mostrar com isso, é que o Glorioso é um clube de Copacabana, das areias do Posto 4, de Heleno de Freitas (1920-1959), do comandante Edu da Panair do Brasil (1915-1950), integrante do Clube dos Cafajestes, do poeta Vinícius de Moraes (1913-1980), dos intelectuais Santhiago Dantas (1911-1964) e Augusto Frederico Schmidt (1906-1965) e tantos outros.

Em poucas e resumidas palavras, o Botafogo de Futebol e Regatas é um clube-cabeça. Quem haverá de negar?

Você, leitor do meu novo blogspot, chefiado por minha amiga Malu Cabral, quer um exemplo de como o Botafogo nunca esteve nem aí para a hora do Brasil?

Pois bem: só depois que o remo já havia sido superado pelo futebol, no início da década de 40, é que os dois Botafogo se uniram – e daí surgiu a incomparável estrela solitária.

Se Fluminense, América e Bangu seguiram sendo futebol clube, o problema é deles, que sempre moraram longe da praia. O Bangu, então, nem se fala. Mas o Botafogo? Francamente. Pior.

Segundo João – em conversas particulares comigo na redação do JB – o Regatas estava repleto de tricolores, que gostavam de remar e nadar.

Por tudo isso que relatei, pela imaterialidade inacreditável do meu amado Botafogo, é que a tarefa de Maurício Assumpção será, entre outras coisas, a de trazer o Glorioso de volta à Terra.

O Botafogo não é mais o Botafogo de Carlito Rocha (1894-1981) e Zezé Moreyra (1907-1998), nem do simpático Biriba (cheguei a vê-lo em campo com o time).

O Botafogo é o Botafogo do próprio Maurício Assumpção, com Jairzinho, Gérson, Roberto e Paulo César.

O Botafogo é também o meu Botafogo de Nílton Santos, Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo – e também de Paulo Valentim (1932-1984) – recordista de gols numa decisão em 1957 do Campeonato Carioca contra o Fluminense.

Supersticioso? Claro, o Botafogo é composto de torcedores supersticiosos dos pés à cabeça e contra isso Maurício não pode fazer nada. Mas se ele, Maurício, conseguir resgatar a nave alvinegra, que vive no espaço e nas nuvens, a superstição irá diminuir pouco a pouco.

E o querido Botafogo não será mais um campo e duas balizas e nem terá a vocação do erro, como Schmidt disse a Dantas num passado distante. É o que espero.

(*) Hoje, já que o Botafogo não fez, pois vive na estratosfera, faço uma homenagem ao time campeão de 1948, que, há 60 anos, na tarde de 12 de dezembro de 1948, passou por cima do Vasco na decisão do Campeonato Carioca em General Severiano. Garoto ainda, não pude assistir ao jogo.

Mas ouvi pelo rádio e dei cambalhotas de alegria.

Saudações Botafoguenses
Roberto Porto

Estou voltando!



Me aguardem que voltarei com a mesma paixão Botafoguense para dividir com todos vocês.


Saudações Botafoguenses
Roberto Porto