
Ademir adorou a lembrança.


Como os torcedores do Urubu são indivíduos de pouca leitura – com as raras e honrosas exceções de sempre – imaginam que o Engenhão seja propriedade particular do Botafogo de Futebol e Regatas, e não um bem público cedido ao alvinegro pelo prazo de 20 anos. Assim, desacostumados ao conforto e a instalações modernas, decidem quebrar tudo o que encontram pela frente. Foi assim que essa malta rubro-negra comportou-se no clássico Botafogo x Flamengo no último domingo. Esses bandidos, disfarçados de torcedores do Simpaticíssimo, quebraram tudo o que encontraram pela frente, como banheiros e cadeiras (foto). As latrinas, a que não estão acostumados, também foram quebradas, assim como torneiras e pias.
Um dos meu maiores ídolos de infância e juventude, Otávio Sérgio de Moraes (1923-2009), morreu ontem, segunda-feira, num hospital do Rio. Pelo que estou informado, tudo começou quando, idade avançada, ele levou um tombo em casa e fraturou o fêmur. Daí em diante seu estado só fez piorar e, por mais que sua família se esforçasse, o capitulo final chegou.Infelizmente, só pude privar da intimidade dele, artilheiro e campeão de 1948, muito mais tarde, em festas e reuniões em Venceslau Brás. Sempre solícito e falastrão, jamais me escondeu nada. E me parabenizou por ter, em 1998, convencido o presidente Mauro Ney Palmeiro a organizar uma festa para comemorar os 50 anos da histórica conquista sobre o Vasco da Gama, em General Severiano. Paraguaio abriu o escore, Braguinha ampliou e no segundo tempo Otávio colocou 3 a 0 no placar. Numa jogada infeliz, Ávila, que aparece na foto, fixou o escore em 3 a 1. Foi o único título do Botafogo em General Severiano.
Numa entrevista que fiz com ele, ao lado do companheiro César Oliveira, em 2005, revelei que, garoto, desmaiei de emoção quando ele, de bicicleta, aos 37 minutos do segundo tempo, acertou uma bicicleta certeira no canto de Mão de Onça (no gol à direita das sociais), na suada vitória sobre o Bangu, em 1949. Otávio até me consolou. Disse que aquele gol matou do coração um torcedor alvinegro que estava atrás do gol e nem houve tempo para transportá-lo ao Hospital Rocha Maia, alí pertinho, atrás do gol à esquerda das tribunas sociais.
Conversamos dezenas de vezes. Falei até na Seleção Brasileira que, em 1949, conquistou o título do Campeonato Sul-Americano de 1949. Otávio, que era ponta-de-lança, me revelou que Flávio Costa – com seu habitual esquema ditatorial – o escalou de centroavante, posição que ele nunca jogara. O ataque jogava com Tesourinha, Zizinho, Otávio, Jair Rosa Pinto e Simão. Ora bolas, Otávio, com a camisa 10, era o ponta-lança que chegava para bater em gol as jogadas tramadas por Zizinho e Jair não tão criticada Diagonal. Não podia jogar com a camisa nove porque, definitivamente, ficava isolado entre os zagueiros adversários. Acabou barrado e irritado com Flávio Costa, que levou esse esquema furado até a Copa de 50.
Eu garoto, ainda tenho um botão com o nome Otávio, jogando na meia-esquerda, com Heleno avançado entre os zagueiros de meus adversários. E o meu Otávio era um de meus artilheiros, batendo em gol sempre que a bolinha sobrava na entrada da área. Otávio Sérgio foi titular do Botafogo até 1953 e me contou histórias incríveis. Uma delas, conhecida por poucos, era o apelido que eles deram a Nílton Santos: ‘Caminhão’. Outra, depois de Heleno provocar Osvaldo Baliza, que tomou um frango, Heleno virou-se para ele e perguntou na hora da nova saída do Botafogo:
-Tatá, estou de costas...O Baliza ainda está olhando para mim?
A foto que ilustra esta matéria é do Torneio Início de 1949, em Álvaro Chaves, que o Botafogo prestigiou, colocando seu time titular em campo. Lá estão, de pé, da esquerda para a direita, Juvenal Francisco Dias, Gérson dos Santos, Osvaldo Baliza, Nílton (Caminhão) dos Santos, Osvaldo Ávila e Rubinho; agachados, na mesma ordem: Edgídio (Paraguaio) Landolfi, Ephigênio (Geninho) Bahiense, Sílvio Pirillo, Otávio Sérgio de Moraes e Braguinha.
Que você faça boa viagem, Otávio, e que a terra lhe seja mais leve do que nunca.