Quim Valentim - pai de Paulo Valentim (1932-1984) - não suportou mais as aventuras e desventuras do filho, Paulo Valentim, na zona boêmia de Barra de Piraí e decidiu mudar-se de armas e bagagens para Belo Horizonte. Quim tinha recursos, pois era o todo-poderoso dono da banca de jogo de bicho da cidade e, mais que isso, carregava a fama de ter jogado noAtlético Mineiro, pelo qual fora campeão em 1936, formando um trio final como goleiro Kafunga e o zagueiro Florindo.
Paulo Valentim não queria trocar de cidade mas acabou fazendo sucesso numa partida em Juiz de Fora, atuando pela equipe de Barra de Piraí. Tupi, Sport e Tupinambás fizeram propostas àquele centroavante arisco e corajoso.Mas o clube que finalmente levou o atacante foi mesmo o Atlético Mineiro, noqual Paulo Valentim, em pouco tempo, transformou-se no demolidor das defesas do Vila Nova, Cruzeiro e América. Em Belo Horizonte, Paulo Valentim dormia sob as arquibancadas do velho Estádio de Lourdes, hoje o Diamond Mall. Mas a solidão da concentração empurrou o jovem Paulo Valentim para a boêmia mineira.
Num piscar de olhos, o jovem de Barra do Piraí começou a ficar conhecido na Rua do Comércio (hoje Guaicurus), na Boate Almanara e no ponto efervescente da cidade chamado de Pólo Norte. Foi quando surgiu na vida de Paulo Valentim a figura de uma prostituta pernambucana, baixinha, rechonchuda e que tinha fama de enlouquecer os homens.
Quando Paulo Valentim conheceu Hilda, a mulher que carregava o apelido de Furacão - logicamente pelo seu desempenho sexual - não mais a largou. A juventude e o preparo físico de Paulo Valentim não prejudicavam o seu rendimento nos gramados, masa diretoria do Atlético não se conformava com as noitadas de seu centroavante.
O alvinegro de Belo Horizonte foi campeão de 1955 com Paulo Valentim,mas em 1956, mesmo com todos os gols que marcava, o clube decidiu negociar seu passe com o Botafogo. O dirigente mineiro José Ramos, em entendimento com João Saldanha, conseguiu vender o passe de Paulo Valentim por Cr$ 1milhão, quantia altíssima para um jogador inteiramente desconhecido no futebol carioca.
Em 1955, depois de cometer a loucura de vender os passes de Dino da Costa e Vinícius ao futebol italiano, o Botafogo foi superado pelo Bonsucesso e não pôde disputar o terceiro turno do Campeonato Carioca. No início de 1956, revoltado com o vexame, João Saldanha saiu em campo e decidiu - com autorização do presidente Paulo Azeredo - reestruturar o departamento de futebol do clube.
Além de Didi e Paulo Valentim, João Saldanha negociou as contratações de José Carlos Bauer, do centroavante argentino Alarcón e do ponteiro paraguaio Cañete. Só não pôde promover a volta de Quarentinha (1938-1996) que ainda ficou um ano emprestado ao Bonsucesso.
Mas o Botafogo de 1956, mesmo não sendo campeão, voltou a trilhar o caminho das vitórias e foi o responsável direto pelo tiro de misericórdia no sonho do tetra campeonato do Mais Querido.
No turno, derrotou o rubro-negropor 5 a 0 e, no returno, venceu por 1 a 0, gol de Cañete, dando por antecipação o título da cidade ao Vasco. E Paulo Valentim conquistou aposição de titular para o Campeonato Carioca de 1957.
A partir de sua chegada ao Botafogo, Paulo Valentim passou a viver dias de sucesso. Em 1957 foi o herói da conquista do título alvinegro, marcando nada menos do que cinco gols na vitória de 6 a 2 sobre o Fluminense, diante de 130 mil torcedores que pagaram ingresso. Curiosamente, no time campeão, os artilheiros Paulo Valentim e Quarentinha (que retornara ao Botafogo) mal se falavam e em campo não trocavam passes.
No ano seguinte, mesmo perdendo o super-super campeonato para o Vasco, o Botafogo fez boa figura e Paulo Valentim - que recebera de Garrincha (1933-1983) o apelido de Macaco Sueco -acabou convocado para a Seleção Brasileira que disputaria em Buenos Aires, em 1959, o Campeonato Sul-Americano. E foi na capital argentina que ele transformou-se em herói nacional ao botar os uruguaios para correr e ainda marcar os três gols da vitória brasileira por 3 a 1.
Os argentinos ficaram encantados com a bravura de Paulo Valentim e não sossegaram enquanto o Boca Juniors não comprou seu passe, no início datemporada de 1960.
Antes de seguir para Buenos Aires, Paulo Valentim anunciou aos companheiros de Botafogo que, daquele momento em diante, sua companheira Hilda Furacão seria a senhora Hilda Valentim. Entre os padrinhos do casamento estavam João Saldanha e o mineiro Américo Pampolini, que também se sagrara campeão de 1957.
Dizem que, no sermão ao casal, o padre teria feito referências pouco elogiosas ao passado de Hilda e que Paulo Valentim, irritado, pensara em agredi-lo.
O que é certo é que João Saldanha, ateu de carteirinha, conseguiu acalmar os ânimos e a cerimônia pôde prosseguir. E lá se foi Paulo Valentim para Buenos Aires, casado com Hilda Furacão (foto deles, no apartamento de Buenos Aires), para defender o Boca Juniors, o clube de maior torcida na Argentina.
Dizem que, no sermão ao casal, o padre teria feito referências pouco elogiosas ao passado de Hilda e que Paulo Valentim, irritado, pensara em agredi-lo.
O que é certo é que João Saldanha, ateu de carteirinha, conseguiu acalmar os ânimos e a cerimônia pôde prosseguir. E lá se foi Paulo Valentim para Buenos Aires, casado com Hilda Furacão (foto deles, no apartamento de Buenos Aires), para defender o Boca Juniors, o clube de maior torcida na Argentina.
Lá, Paulo Valentim e Hilda moraram no mesmo prédio de Orlando Peçanha, campeão mundial pelo Brasil em 1958 e preterido para a campanha de 1962 no Chile. E o Boca, de jogadores famosos como Ubaldo Rattin, Marzolini, Orlando Peçanha e Sanfilippo, entre outros, sagrou-se campeão em duas temporadas: 1962 e 1964.
Por que Paulo Valentim, artilheiro dos campeonatos argentinos de 1961, 1962 e 1964, ídolo da torcida do Boca Juniors, veio parar no São Paulo na temporada de 1965? Segundo o repórter Paulo Vinícius Coelho, da ESPN Brasil, Paulo Valentim esteve inscrito pelo tricolor paulista em três temporadas: 1965, 1966 e 1967.
Nos registros do clube do Morumbi seu nome, porém, é apenas uma anotação sem qualquer comentário. De São Paulo, Paulo Valentim – sempre acompanhado de Hilda Furacão – viajou para Toluca, no México, onde os brasileiros passaram a ter enorme cartaz após a conquista da Copa do Mundo de 1970.
Mas beirando os 40 anos, sem fôlego e tresnoitado pelas mesas de pôquer, só lhe restou a opção de trabalhar no cais do porto. Vendo o estado de saúde do marido piorar, consta que Hilda Furacão teria lhe dito que voltaria à velha profissão – a mais antiga do mundo – para que ambos sobrevivessem. Paulo Valentim vetou a pretensão da companheira e eles voltaram ao Brasil.
Parece que Neivaldo Carvalho (1933-2006), eficiente ex-jogador do Botafogo, foi o último contato de Paulo Valentim no Brasil. Pouco antes da Copa do Mundo de 1978, na Argentina, Neivaldo, Cacá, Pampolini, Vavá e muitos ex-jogadores, como Nilton Santos, costumavam bater bola no Caxinguelê, um clube no Horto Florestal do Rio, perto do prédio da Rede Globo.
Por incrível que pareça, dessas peladas participava Ermelindo Matarazzo, que jogou nos aspirantes do Botafogo no final da década de 40. Ao final de uma manhã de muita diversão, Pampolini deu um recado a Neivaldo:
– Tem um cara atrás do gol que quer falar com você...
Neivaldo foi até lá e custou a reconhecer o cidadão. Era Paulo Valentim, que o próprio Pampolini, padrinho do casamento com Hilda Furacão, não reconhecera. Paulo Valentim queria dinheiro para comprar duas passagens para Buenos Aires. Neivaldo apelou então para o milionário Ermelindo Matarazzo. O ex-goleiro fez uma exigência:
– Dinheiro eu não dou. Dou a você, Neivaldo, que fica encarregado de comprar as passagens e entregá-las em mãos, está combinado?
Neivaldo comprou as passagens e as passou a Paulo Valentim, hospedado numa pensão barata no Flamengo. Quando esteve na pensão, Neivaldo não viu Hilda Furacão, mas ficou assustado com a quantidade de malas que tomavam conta do quarto. E ouviu a última frase do velho companheiro de Botafogo:
– Vou morar com a Hilda num apartamento de paredes aveludadas que temos em Buenos Aires...
Seis anos depois, Paulo Valentim estava morto.
Um comentário:
Sobre o Ermelino Matarazzo ha' uma historia, que ele me confirmou, dezenas de anos depois, que 'e muito boa. Cansado de ser reserva do Oswaldo Baliza, um dia o Ermelino, em um intervalo dos treinos, disse para o goleiro titular. "Daria tudo para trocar de lugar com você". Baliza, na bucha, respondeu:EU TAMBEM!!!!!
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