Não é de hoje que o Botafogo de Futebol e Regatas me proporciona as mais incríveis e inesperadas surpresas. Faz tempo – século passado para que vocês tenham uma idéia – mas no domingo, 28 de novembro de 1948, meu pai, rubro-negro da cabeça aos sapatos, aproveitou a passagem de meu avô pelo Rio, vindo de Pernambuco – origem da família – para convidá-lo para um almoço em nosso apartamento em Laranjeiras.
O coronel Porto, da Guarda Nacional de Pernambuco, era uma figura imponente. Tinha uma voz tonitruante e chegava a me assustar. Não preciso dizer que o velho coronel que se foi deste mundo em 1953, também torcia pelo Sport Club Recife e, logicamente, pelo Mais Querido no Rio. E cá entre nós, o pai de meu pai era para mim, àquela altura do campeonato, um ser quase extraterreno.
O coronel Porto, da Guarda Nacional de Pernambuco, era uma figura imponente. Tinha uma voz tonitruante e chegava a me assustar. Não preciso dizer que o velho coronel que se foi deste mundo em 1953, também torcia pelo Sport Club Recife e, logicamente, pelo Mais Querido no Rio. E cá entre nós, o pai de meu pai era para mim, àquela altura do campeonato, um ser quase extraterreno.
Como criança, almocei mais cedo e liguei o rádio para escutar Botafogo x Simpaticíssimo em General Severiano. O primeiro tempo foi um desastre para o Botafogo, que começou perdendo de 2 a 0. Quando meu pai e meu avô almoçavam, souberam e passaram a me provocar. Mas fui capaz de resistir estoicamente à chegada do segundo tempo e vibrei, mesmo na frente deles, quando Osvaldo Ávila diminuiu para 2 a 1.
Quando faltavam apenas 20 minutos e as visitas já estavam na sala de estar, eis que Oswaldo Baliza recolocou a bola em jogo e retornou de costas para sua meta. Gringo pegou de primeira e colocou o rubro-negro em vantagem por 3 a 1. Um frangaço, daqueles de integrar com brilho qualquer pegadinha de TV.
Aí, meus amigos, não suportei mais as gozações, desliguei o rádio – um enorme e potente rádio, por sinal – e tirei literalmente o time de campo. Abri a porta do elevador e, rigorosamente sozinho, fui brincar (não me perguntem de quê) no jardim do prédio.
Quando subi já estava escuro e eu, amargurado, já não encontrei mais ninguém em casa – ainda bem. Foi quando a campainha da porta tocou e fui abrir. Para minha surpresa, lá estava meu querido e inesquecível tio Júlio Lopes Fernandes – o responsável único pela paixão que sinto até hoje pelo Botafogo.
Como ele era antes de tudo um esportista – costumava aplaudir os adversários quando entravam em campo, coisa que não faço – não estranhei o sorriso dele. Só fiquei abestalhado quando ele me chamou: – Venha de lá com um abraço...Vencemos por 5 a 3...
Foi então que ele me relatou que o Botafogo, depois dos 3 a 1 adversos, reagiu de uma maneira ferrenha e determinada e, através de Otávio Sérgio, Braguinha, Sílvio Pirilo e Paraguaio (na foto – gentilmente cedida por meu amigo e companheiro de escola, o jornalista Sergio Cavalcanti –, com a gloriosa camisa 7), mostrando que nada impediria que o Glorioso se sagraria campeão daquele ano.
Hoje, quase 62 anos depois, cheguei à conclusão de que foi ótimo não ter escutado a narração dos restantes quatro gols do Botafogo. Admito que seria capaz de quebrar alguma coisa de valor e, depois, teria que me haver com minha mãe, que se foi - Daura Porto (1912-2006).
Minha mãe, por sinal, nunca teve time. Disse que foi Flamengo, Vasco e Fluminense. Mas, apesar de ter três dos quatro filhos botafoguenses, jamais torceu pelo alvinegro, nem na época de Heleno ou de Garrincha. Sempre pareceu incólume à paixão dos três filhos.
Mas como sou insistente, enquanto ela ainda estava em forma, meti uma conversa de cerca lourenço nela e forcei a barra:
– Mãe, afinal de contas, depois de tantos anos, gostaria de saber por qual clube você torce?
Ela me olhou séria e respondeu na lata:
– Por nenhum...
3 comentários:
Bom dia, Roberto Porto. Acabei de ler os três últimos artigos do seu Blog; a goleada histórica sobre o mengo, Garrincha e a partida de 1948 contra o Fla. Aquela famosa goleada de 6x0 foi, com certeza, o motivo de me tornar botafoguense, de tão marcante que foi. Não tive o prazer de ver o Garrincha jogando e nunca o vi de perto, mas, em 1983, quando ele morreu, meu pai comprou o Jornal dos Sports do dia seguinte e tinha uma grande homenagem ao Mané. Acho que minha mãe tem esse jornal até hoje. Sempre ouvi dizer que aquele time de 1948 era muito bom, mas, também soube que perdera os quatro campeonatos anteriores - parece que foi vice. Gostaria de lembrar, também, que em 1981, quando o time do Zico devolveu os 6x0, não era um período favorável ao Botafogo. Na semana daquele clássico, dois jogadores do Fogão envolveram-se em uma confusão - não me recordo o que foi - e não puderam jogar; eram os ponteiros Édson e Jérson. E tinha também um jogador muito ruim que naquela partida jogou na lateral esquerda, um tal de Jorge Luiz. Esse jogador caiu de pára-quedas em Marechal Hermes. Parece que veio do Náutico. Aí o time urubu aproveitou-se e ganhou a partida. Mas, nem por isso, deixei de gostar do time da Estrela Solitária, O MAIOR DO PLANETA TERRA!! Saudações botafoguenses!!
Bom, no dia 28 de novembro de 1948, eu estava com um ano e seis dias de vida (nasci no dia 22). Mas, ainda nenem, mas ja' botafoguense desde o berco, sabia influencia de meu pai (1905/1998), devo ter escutado, durante a tarde, o humor de meu pai passar da raiva (ele tambem odiava o time da beira da Lagoa) para a euforia com a mudanca no placar que abriu de vez as portas para o melhor presente de aniversario que recebi, o titulo carioca de 1948.
Na decada seguinte, garoto do primario, aguentei ver ELES serem tricampeoes, de forma suspeita, mas ja sabendo que as coisas iam mudar. Afinal de contas, vestia a nossa camisa sete um rapaz de pernas tortas que me acostumei a admirar desde os primeiros treinos em General Severiano, o maior jogador do Mundo, Garrincha.
E foi assim.
Caro chefe e amigo, voce enriquece nosso dia a dia com suas cronicas sobre o maior time do mundo.
Agora me diga, seus livros vendem aqui em Brasilia? Onde? me informe, amigo.
E acho que com essa dupla de area do Prata, podemos ate nao vencer todas, mas que nao faltara garra, coragem e dedicacao ao Botafogo, isso e' certeza.
Ótimo Post Roberto!
Imaginando como foi essa partida, chego a me emocionar. Como gostaria de ter assistido essa partida in loco, seria maravilhoso.
O gol da virada deve ter feito as bases do estádio estremecerem.
* Gostei muito do uniforme do Fogão desse jogo.
** Lembrei do meu falecido padrinho, que era flamenguista fanático, e sempre que podia lembrava ele do famos jogo do senta. Li sobre esse jogo a 1ª vez em uma coluna sua no JS.
Abraço e saudações alvinegras!!!
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