quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Detalhes de uma discussão


Aí está, uma vez mais, o time do Botafogo campeão de 1957. Esta espécie de pôster foi vendida nas bancas, assim que o Glorioso conquistou o título carioca, goleando o Fluminense por 6 a 2. Talvez os leitores deste meu blog desconheçam a razão da publicação desta foto. Mas há alguns motivos específicos. Primeiro, o Botafogo está com o mando de campo nas Laranjeiras; segundo, Paulo Valentim ainda aceitava a camisa número nove e, por último, por erro crasso, é Servílio e não Servilho como está grafado.

O time está posado assim: de pé, da esquerda para a direita, com Amauri, Thomé, Servílio, Nílton dos Santos, Pampolini e Beto; e agachados, na mesma ordem, Garrincha, Didi, Paulo Valentim, Édson Praça Mauá e Quarentinha – o artilheiro que não sorria e virou livro recentemente. Mas há outras peculiaridades. Naquele campeonato, o Botafogo teve quatro mandos de campo empurrados para as Laranjeiras (eu ia a pé para o estádio) e Amauri está presente. A partir da primeira rodada do segundo turno, Adalberto tomou-lhe o lugar de goleiro titular e foi assim até o final.

Outro detalhe – que não foi percebido por um de meus leitores – é que João Saldanha (1917-1990) mantinha três jogadores no meio-campo, Pampolini, Didi e Édson, apelidado de Praça Mauá, de acordo com o que me contou o reserva de Garrincha, Neivaldo (1933-2006), um bom amigo que tive. Pois bem: na final diante do Fluminense, João Saldanha simplesmente colocou quatro homens à frente dos zagueiros: Pampolini, Didi, Édson e Quarentinha.

Por quê?

Porque João, matreiro e conhecedor da força tricolor, escalou Quarentinha em campo com a única missão de ficar em cima de Telê Santana (1931-2006), por saber que Telê era o ponto chave do time.

Como fui ao jogo, a 22 de dezembro de 1957, me surpreendi, no intervalo do primeiro para o segundo tempo, com a bronca que Thomé deu em Quarentinha na entrada do túnel. Afinal de contas o Botafogo já vencia por 3 a 0 (gols de Paulo Valentim, já com a camisa oito) e não era motivo para aquela raiva toda. Só depois fiquei sabendo que Thomé estava cobrando de Quarentinha a tal marcação em cima de Telê, conforme instruções de João Saldanha. Na etapa final, Paulinho fez mais dois e Garrincha, um.

Agora chego ao ponto que queria: por que, na Seleção Brasileira, dois anos depois, João, de cuja inteligência ninguém duvidava, escalou o Brasil, nas eliminatórias, num 4-2-4 rígido, com Carlos Alberto, Joel, Piazza e Rildo e, mais à frente, apenas Clodoaldo e Gérson, deixando Jair, Tostão, Pelé e Edu na frente? Honestamente não sei explicar.

Acrescente-se a esse detalhe o fato de João, armado, ter invadido a concentração do Flamengo, para tirar satisfações com Yustrich e a entrevista que deu para a televisão dizendo que Pelé era meio cego, que precisava jogar de óculos (ou lentes). Pronto: estava aberto o caminho para uma intervenção de João Havelange, escolhendo Zagallo, além de satisfazer os militares que estavam no poder e lá ficariam ainda por muitos e muitos anos.

No último blog, com a inusitada bandeira do Bonsucesso tremulando ao fundo (à esquerda está a do Botafogo) esqueci de dizer como foi a partida no Estádio Nacional de Santiago, contra o Chile, na primeira exibição do Brasil após o tri. Vencemos por 5 a 1, gols de Pelé, Roberto Miranda, Jairzinho (2) e Paulo César Lima.

O time?

Era quase o Botafogo, com Félix, Carlos Alberto, Brito, Joel e Everaldo; Clodoaldo, Nei Conceição e Paulo César Lima; Jairzinho, Roberto e Pelé (Rogério). Técnico Zagalo, preparador físico Admildo Chirol, médico Lídio Toledo – em resumo, quase o Glorioso.

O que mais é preciso dizer?

Um comentário:

Anônimo disse...

Querido Porto;
Esse time de 57 era fantastico. Alias, o Neivaldo, que era reserva ou jogava nos juvenis foi um exemplo de dedicacao ao Botafogo-como varios que tivemos em varias decadas de glorias que tivemos- poi ja jogou com um pe quase quebrado e super inchado e serecusou a tirar a chuteira, a pedido do medico, acredito ter sido o Lidio Toledo, pois achava que nao poderia vesti-la de novo. Coisa que nao se ve hoje. Na final de 57 era um pouco pequeno para ir ao jogo (so comecei a ir a partir de 61), porem me parece que o Saldanha queria que o Pampoline, racudo e bom marcador, marcasse o Escurinho e o Waldo, que eram rapidos e os melhores do time frufru da epoca. Faziam gols com as jogadas construidas pelo Tele e por isso que o "Quarenta" ( acho o diminutivo muito inapropriado para a grandeza do futebol que tinha..kkk, ne?)foi designado para essa tarefa, pois o "Maua" e o Didi tinham a missao de construir jogadas para o "Mane" e o "Valentim." Realmente,as atitudes impulsivas do Saldanha ajudaram muito a derruba-lo e por isso creio que foram as principais razoes para a sua queda. Os milicos nao gostavam de pessoas com esse arrojo e personalidade propria, queriam, isso sim, oprimir o povo a ser submisso. Parabens pelo sites e artigos que acompanho sempre. Voce e a nossa memoria viva e quem dera tivessemos mais pessoas como voce a defender o nosso Glorioso. Saude e felicidades. Antonio (desculpe a falta de acentos, teclado nao configurado para tal)