Em meio à década de 80, mesmo já cursando faculdades, meus filhos, Roby e Cristiana Porto, decidiram partir para os Estados Unidos de George W. Bush (sujeito que não sossegou enquanto não arrumou uma guerra no Iraque). Cris ficou uns tempos em Nova York mas, como jamais foi chegada ao frio, partiu para a Califórnia. Roby (hoje na Sportv aqui no Rio) ficou, acompanhando o Glorioso pela Rádio Nacional da Praça Mauá.
Certa vez, Roby me passou um e-mail dizendo que quando ia para o trabalho – gerenciava um restaurante (coisa de brasileiro jovem) – encontrou no metrô um cidadão chinês. Como Roby, na maior cara de pau, andava sempre com uma camisa do Botafogo de mangas compridas, atraiu a atenção do chinês que lhe perguntou se aquela camisa era do Botafogo. Foi o suficiente para que eu criasse em minhas colunas do Jornal dos Sports (ainda nas mãos dos Velloso) a figura de Chang Xin-Pow.
Chang, é óbvio, era botafoguense fanático, bem ao gosto do leitor Armando Alves Carreira Leite. E mais: ele e seu filho Changuinho, tinham horror àquele clube da Beira da Lagoa.
Moradores de Staten Island – um dos cinco bairros de Nova York – Chang e Changuinho, aos finais de semana, divertiam-se abatendo corvos a tiros, imaginando de maneira forçada que eram urubus. Bom, a partir daí, com o Alvinegro arrebentando no Brasileiro de 1995, despertei um ódio mortal nos torcedores do ‘Mais Querido’.
Chang ficou tão famoso através de minhas colunas que, na posse de José Luiz Rolim, me obrigou a ‘alugar’ um chinês para comparecer à festa no nosso palacete colonial. Vestido com uma camisa alvinegra, recomendei ao chinês – um rapaz bem concatenado que trabalhava numa loja em Vila Isabel – que não desse uma palavra. Só fizesse sinais com a cabeça. Foi um sucesso total.
O rapaz fez tão bem seu papel que até assinou um documento, exigindo que a estrela do Botafogo da Paraíba voltasse a ser branca.
Naquela época, Nélson Rodrigues Filho e Mário Neto tinham colunas falando do Fluminense e Áureo Ameno, do Vasco, além da minha, claro. Não havia, pelo que me recordo, uma coluna rubro-negra.
Foi então que Luiz Augusto Velloso, chefe-de-redação, me fez um pedido especial: queria que eu mesmo, numa espécie de alter-ego, respondesse com violência à coluna ‘Preto no Branco’ que eu escrevia. Com educação, disse a ele que não conseguiria ‘defender’ o Flamengo de minhas próprias gozações.
Quando o Botafogo derrotou o Flamengo no Ceará, no Castelão, o suposto Chang – que se comunicaria comigo por e-mail – colocou no jogo o título ‘Forró de Fortaleza’. A partir daí, quando deixava o jornal, na Rua Tenente Possolo, na Lapa – sempre dava uma olhada para me certificar de que não estava ameaçado. È preciso dizer que Luiz Augusto (que depois seria presidente do rubro-negro) jamais interferiu nos meus textos.
Deixei o Jornal dos Sports (hoje na Praça da Bandeira), mas a figura criada por mim, de um chinês com ódio ao Flamengo, entrou para o anedotário da imprensa esportiva. Daí o Armando Alves Carreira Neto me pedir cópia de minhas crônicas da época.
Estou tentando encontrá-las nas dezenas de disquetes que tenho, mas está difícil. Do ‘Bom Dia’, que escreveria depois para o saudoso Haroldo de Andrade (1934-2008), encontrei pelo menos uns cinco disquetes. Mas estou esperançoso.
(*) Na foto de hoje, no Galeão, antes de uma viagem para os EUA, estamos juntos Liz (minha nora), eu, com a bela camisa negra, e Roby.
Bons tempos aqueles do Glorioso...
5 comentários:
Pois é, Chang perturbou os "framenguistas" naquela época maravilhosa, aguardo ansiosamente e torço para que o senhor consiga achar algumas daquelas crônicas, será uma grande alegria revê-las....um forte abraço, Armando.
Caro Porto,
será fundamental depois que encontrar o arquivo (mesmo amarelado) vc pedir para uma pessoa escaneá-las e ir publicando aos poucos em forma de posts. Acho que seria uma boa lembrança. Outro dia estava revirando uma papelada e encontrei um adesivo que o patrocinador da época fez com a assinatura do Túlio Maravilha. Foi uma sensação ótima relembrar por alguns instantes aquele tempo. Recentemente coloquei em meu blog uma foto do Garrincha vestindo a camisa do ASA de Arapiraca quando fez uma partida de apresentação. São coisas de nossa história e vc é um dos que preservam nossa memória. Grande abraço e um grande ano de 2009.
Saudações alvinegras!
Marcos Rodrigues - http://jornaldoocio.blogspot.com
Boa tarde,
Caro Roberto, estou a mais de 3 meses procurando seu livro e não consigo comprar,
por favor me fale onde posso adquirir o mesmo.
SAUDAÇÕES ALVINEGRAS.
Alex ( Juiz de Fora - Mg)
Caro Roberto.
Olha, você agora me remeteu àquela época... Que maravilha!! Eu era leitor assíduo de sua coluna no JS e me lembro muito bem desse chinês. Nessa do forró de Fortaleza eu me esbaldei de rir, principalmente quando ele se referia a aquele clube da beira da Lagoa como sendo o "ulubú otálio". Que saudade!! Realmente foi um sucesso enorme.
Mais uma vez, obrigado por nos brindar com essas histórias.
Saudações
André Lira
Roberto Porto, eu me recordo com muito carinho das crônicas do "chinÊs", eu tenho amigos rubro-negros que simplesmente te odiavam por aquilo, agora se fosse possível queria te fazer um pedido, que vc ressucitasse a crônica "os dez recados", que vc escreveu após o título de 1989, e um asegunda edição dos "dez recados" que foi após o título de 1995, seriam uma maravilha relembrar momentos felizes, um abraço e tenha MUITA MUITA MUITA saúde para continuar defender o nosso Glorioso, de alguns pseudos jornalistas que detestam o Botafogo.
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