quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Um campo e duas balizas


Em recente entrevista ao jornal Lance, o novo presidente do Botafogo, Maurício Assumpção, cita João Jobim Alves Saldanha (1917-1990) como um dos ‘bruxos’ (ou feiticeiros) que o fizeram torcedor do Glorioso.

Maurício enumera outros ‘bruxos’ como Sandro Moreyra (1919-1987), Armando Nogueira, Luiz Mendes, Márcio Guedes e a minha modesta pessoa entre aqueles que também o influenciaram.

De todos, porém, sem demérito para os demais, João Saldanha, em minha opinião, é o mais importante.

Por quê? Porque João, com quem trabalhei anos a fio no Jornal do Brasil, foi aquele que melhor definiu o alvinegro. O Botafogo, segundo ele, seria nada mais do que um campo e duas balizas.

Curioso, não?

O que João Saldanha – técnico campeão pelo Botafogo em 1957 – queria dizer com isso?

Simplesmente, no meu modo de entender, como um clube apaixonante, mas muito mais amador do que profissional. O Botafogo, estou certo de que João queria mostrar com isso, é que o Glorioso é um clube de Copacabana, das areias do Posto 4, de Heleno de Freitas (1920-1959), do comandante Edu da Panair do Brasil (1915-1950), integrante do Clube dos Cafajestes, do poeta Vinícius de Moraes (1913-1980), dos intelectuais Santhiago Dantas (1911-1964) e Augusto Frederico Schmidt (1906-1965) e tantos outros.

Em poucas e resumidas palavras, o Botafogo de Futebol e Regatas é um clube-cabeça. Quem haverá de negar?

Você, leitor do meu novo blogspot, chefiado por minha amiga Malu Cabral, quer um exemplo de como o Botafogo nunca esteve nem aí para a hora do Brasil?

Pois bem: só depois que o remo já havia sido superado pelo futebol, no início da década de 40, é que os dois Botafogo se uniram – e daí surgiu a incomparável estrela solitária.

Se Fluminense, América e Bangu seguiram sendo futebol clube, o problema é deles, que sempre moraram longe da praia. O Bangu, então, nem se fala. Mas o Botafogo? Francamente. Pior.

Segundo João – em conversas particulares comigo na redação do JB – o Regatas estava repleto de tricolores, que gostavam de remar e nadar.

Por tudo isso que relatei, pela imaterialidade inacreditável do meu amado Botafogo, é que a tarefa de Maurício Assumpção será, entre outras coisas, a de trazer o Glorioso de volta à Terra.

O Botafogo não é mais o Botafogo de Carlito Rocha (1894-1981) e Zezé Moreyra (1907-1998), nem do simpático Biriba (cheguei a vê-lo em campo com o time).

O Botafogo é o Botafogo do próprio Maurício Assumpção, com Jairzinho, Gérson, Roberto e Paulo César.

O Botafogo é também o meu Botafogo de Nílton Santos, Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo – e também de Paulo Valentim (1932-1984) – recordista de gols numa decisão em 1957 do Campeonato Carioca contra o Fluminense.

Supersticioso? Claro, o Botafogo é composto de torcedores supersticiosos dos pés à cabeça e contra isso Maurício não pode fazer nada. Mas se ele, Maurício, conseguir resgatar a nave alvinegra, que vive no espaço e nas nuvens, a superstição irá diminuir pouco a pouco.

E o querido Botafogo não será mais um campo e duas balizas e nem terá a vocação do erro, como Schmidt disse a Dantas num passado distante. É o que espero.

(*) Hoje, já que o Botafogo não fez, pois vive na estratosfera, faço uma homenagem ao time campeão de 1948, que, há 60 anos, na tarde de 12 de dezembro de 1948, passou por cima do Vasco na decisão do Campeonato Carioca em General Severiano. Garoto ainda, não pude assistir ao jogo.

Mas ouvi pelo rádio e dei cambalhotas de alegria.

Saudações Botafoguenses
Roberto Porto

12 comentários:

Rodrigo Federman disse...

"Se Fluminense, América e Bangu seguiram sendo futebol clube, o problema é deles, que sempre moraram longe da praia".
Hahahaha! Mestre Porto, SENSACIONAL!
É com imensa alegria que voltamos a ler os seus textos!
Abs e SA!!!

Danilo Julião disse...

Roberto, saiba que é um grande prazer acompanhar seus textos! E se Deus quiser, o Botafogo se tornará um grande time - mais do que já é - pelas mãos do Maurício Assumpção!
Dá-lhe Botafogo!!!!

Abração!SA!

Vinícius Barros disse...

Que bom que voltou... e de forma triunfal! É sempre um grande prazer ler seus textos! Nós botafoguenses só temos a agradecer!

Forte abraço e saudações alvinegras!

Anônimo disse...

Prezado Roberto Porto,
Somos conhecidos e, isto, não impede que eu te admire muito.
Sou botafoguense desde o útero de minha mãe, na pequena Ponte Nova (MG), e desde 1964 no Rio de Janeiro, e agora em São Paulo.
É saboroso ler seus textos e mais saboroso ler sobre um Botafogo que eu vi.
E, com certeza, verei renascer agora.
Qula time no Brasil ( talvez no Mundo ) uma torcida vai cuidar de sua sede?
Este é o Botafogo.
O Botafogo não é de ninguém, o Botafogo é nosso.
NÓS SOMOS O BOTAFOGO

Anônimo disse...

Correção
Ao colocar que somos conhecidos, quis dizer que mesmo sendo seu amigo, isto não influencia a minha admiração.
Minha admiração é anterior a nossa amizade. Isto que eu quis dizer.

Anônimo disse...

Grande Roberto Porto,
Pelo que vejo voltaste a todo o vapor,
para nós BOTAFOGUENSES do mundo é um prazer
tê-lo de volta.
Um feliz 2009 e que com ele o nosso GLORIOSO
ALVINEGRO retome o caminho das vitórias.
SAUDAÇÕES ALVINEGRAS desses ALVINEGROLOUCOS

Toninho e Isabella

Luiz Rogério disse...

Roberto Porto,

Ótimo texto! E assim como o nosso novo presidente tenho em você um dos motivos de gostar ainda mais do Botafogo.

Espero que seja feliz nesse novo endereço na Internet e que suas postagens nos trangam ainda mais alegria e prazer de sermos BOTAFOGUENSES.

Um abraço.

Saudações Alvinegras!

Luiz Rogério

Anônimo disse...

Eu posso com um homem com essa cabeça?

Agora eu pergunto a vocês, amigos Botafoguenses:

"- somos ou não somos diferenciados?"

Não existe no mundo alma como a do Botafoguense...

Saudações Botafogueses!
Malu Cabral

Anônimo disse...

que felicidade em tê-lo de volta, porto!
nós, botafoguenses, agradecemos...

e, pra variar, um belo texto.
que bom é ser botafoguense!!!

fábio gomes de deus

Anônimo disse...

Fiquei por demais feliz com o teu retorno.
Lindo texto , como sempre .
Renato vou te contar um "segredo" : Só no peito de quem realmente é especial, e foi abençoado pelos deuses é que bate no peito uma ESTRELA no lugar do coração comum dos plebues.

Roberto Porto disse...

Agradeço a todos o enorme carinho por estarem aqui nesse meu recanto Alvinegro.
Aqui eu exorciso os fantasmas e renovo a minha alma preta e branca.

Saudações Botafoguenses
Roberto Porto

LUIZ disse...

Tenho um filho (Luiz Henrique, 25 anos) que faz Doutorado em Física em Harvard, EUA, e, é claro, botafoguense, pois "naquele" outro-time-que-dizem-ser-o-mais-querido não tem cérebro para tal, não acham? Pois ele sempre me pergunta como "estamos". Estou encaminhando para ele o endereço deste blog, pois você, Roberto, nos coloca dentro da Sede de General Severiano. Obrigado por tudo. E tem mais: a minha caçulinha (Renata,19 anos, estudante de Direito) também é uma apaixonado pelo clube da Estrela Solitária.