quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A molecagem de Sandro Moreyra



Dizer que os jogadores do Botafogo foram fundamentais para a conquista pelo Brasil da Copa do Mundo de 1962, no Chile, é, como diria Nélson Rodrigues (1912-1980), o óbvio ululante.
E aí está a foto da equipe que todos devem conhecer:
de pé, da esquerda para a direita, Djalma Santos, Zito, Gilmar, Zózimo, Nílton Santos e Mauro;
agachados, na mesma ordem, Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagallo.

Em campo a Seleção Brasileira jogava com Gilmar, Djalma Santos, Mauro Ramos, Zózimo e Nílton Santos; Zito, Didi e Zagallo; Garrincha, Vavá e Amarildo. O esquema 4-3-3 que o Botafogo passou a usar após a compra do passe de Zagallo (que pertencia ao jogador e não ao Flamengo), seguiu adiante por muitos anos no clube de General Severiano.

Vários jogadores ocuparam a posição de falso ponta-esquerda, entre os mais famosos Paulo César, Dirceu e Sérgio Manoel para citar apenas estes três. Hoje ninguém adota o 4-3-3. Os técnicos preferem o 4-4-2 ou 3-5-2. O fato concreto é que os ponteiros foram substituídos pelos chamados alas, que defendem e atacam, tentando encontrar os homens que estão na área.

Mas vamos adiante, em busca do título desta coluna de meu blog. Havia um bando de jornalistas brasileiros cobrindo a Seleção, entre eles Sandro Luciano Moreyra (1919-1987), Mário Filho (1908-1966), Armando Nogueira e Araújo Neto (1929-2003). Sandro, como sempre, divertia-se com os companheiros, principalmente com Mário Filho, que pretendia escrever um livro sobre aquele Mundial, assim como Armando Nogueira e Araújo Neto.

Baseado na intimidade que tinha com os jogadores do Botafogo, titulares absolutos da Seleção Brasileira, Sandro passou a inventar notícias, passando-as para Mário Filho, àquela altura um jornalista mais de retaguarda, ou seja, mais editor do que repórter. A certa altura, Armando Nogueira ficou aborrecido com as mentiras de Sandro a Mário Filho e o repreendeu.

Sandro não tomou conhecimento da repreensão e foi adiante, inventando sonhos de Garrincha, premonições de Didi, palpites de Nílton Santos e assim por diante. Mário Filho acreditava em tudo. Foi então que Armando passou um pito em Sandro, seu colega do Jornal do Brasil. Sandro só lhe disse uma coisa: ‘Você, Armando, ainda vai colocar uma mentira minha em seu livro”.

Vida que segue, expressão usada por João Saldanha (1917-1990), que também estava lá, o Brasil conquistou o título e Armando e Araújo Neto colocaram na praça o livro “Drama e glória dos bicampeões do Mundo”. Sandro ficou quieto mas perguntou a Armando se tudo o que estava no livro era rigorosamente a verdade, nada mais que a verdade.

No livro, esgotado hoje em dia, há um capítulo sobre Garrincha, no qual Mané teria sido entrevistado por um radialista chileno após uma de suas exibições primorosas. Garrincha não queria dar a entrevista e o repórter insistiu. Garrincha voltou a negar. O chileno, então, sugeriu que ele cumprimentasse o público pelo microfone e se despedisse.
Garrincha foi curto e grosso:

- Adiós, micrófono...

Passado algum tempo, sempre sorrindo, Sandro perguntou a Armando:

- Não disse que iria colocar uma mentira em seu livro?

Armando retrucou sem graça:

- Que mentira, Sandro?

Sandro foi curto e grosso:

- Aquela do adiós micrófono... Isso nunca aconteceu...

8 comentários:

Anônimo disse...

O Drama e a Glória dos Bicampeões foi o primeiro livro que comprei, com um dinheirinho ganho do meu avô, que me acompanhou numa livraria em Ipanema, no Rio. Tinha oito anos e li tantas vezes, meu irmão também, que o livro simplesmente despencou. Minha mãe, anos depois, achou que não valia nada e jogou fora, gerando, nos seus dois filhos já adultos e casados, um tremendo desgosto. Ano passado, 46 anos depois, achei um exemplar encadernado num sebo em São Paulo. É um livro fantástico e o texto dos mestres Armando Nogueira e Araújo Neto é eterno. Pena que nenhuma editora tenha interesse em relançar o livro.
Saudações botafoguenses.
Rodrigo Saturnino

Anônimo disse...

Mais uma deliciosa história.Bem que a nova presidência poderia resgatar as crônicas do nosso Porto no site do fogão.

Anônimo disse...

Armando adoro todas as suas crônicas, afnial, dividimos a paixão imaterial.
Entretanto, crônicas "atuais" existirão? Do time de ney franco pro exemplo.. hehe
Saudações Alvinegras de um baiano botafoguense

Unknown disse...

Eu amo essa foto... principalmente quando a coloco ao lado de uma dos campeões do Rio-SP de 1962...

Abraços
Ronaldo

Anônimo disse...

Como estava com saudades dessas histórias Porto. Parabéns !!!

Luiz Rogério disse...

Roberto,

Ler histórias como essa desse post me faz gostar ainda mais de futebol, digo BOTAFOGO.

Sempre que leio sobre pessoas como Sandro Moreira e João Saldanha fico imaginando se os comentaristas de futebol da atualidade teriam a mesma disposição para denigrirem a imagem do nosso Botafogo.

Pessoas como eles fazem muita falta.

Parabéns por mais um ótimo post.

Abraço.

Saudações Alvinegras!!!

Luiz Rogério

Anônimo disse...

ah colega sou flamenguista filho do roberto marinho mas ele nao quis assumir parabens pelo seu time

Décio disse...

Sensacional.
Lembro quando o Saldanha já estava naquela fase mais rabugenta, que precedeu seus últimos anos. Ele chegou a reclamar que o Sandro roubou muitas de suas "estórias". E os dois eram grandes amigos e por anos o Saldanha soube e nunca se importou para a coluna do Sandro.
Durante anos eu recortava e colecionava a coluna do Sandor no JB (assim como a do Saldanha).
Lamento ter perdido esse tesouro no meio de minhas tralhas.

Um grande abraço Roberto.

Décio Gomes Filho